Até 1971, cada dólar equivalia a uma certa quantidade de ouro armazenada nos cofres do banco central americano.
E as moedas de vários outros países tinham sua cotação ancorada ao dólar. Ou seja: o ouro já foi o coração do sistema monetário internacional.
Hoje todas as moedas do mundo são fiduciárias (não possuem lastro). O dinheiro só tem valor porque todo mundo concorda que tem – e confia no órgão emissor, os bancos centrais.
Mesmo assim, o ouro permanece no radar das autoridades monetárias. Mais do que nunca: 2022 foi o ano em que bancos centrais compraram mais ouro desde 1967, quando o padrão-ouro ainda vigorava.
Ao todo, 673 toneladas foram para os cofres dessas instituições. O auge rolou no terceiro trimestre, quando os BCs gastaram, ao todo, US$ 20 bilhões com o metal – o equivalente a 399 toneladas.
O que está acontecendo? A Rússia é a origem obscura para tamanha demanda, de acordo com a Economist.
Os países ricos impuseram sanções a Putin para tentar estrangular a guerra na Ucrânia.
Quem não está no clube do G7 e não quer romper relações com os russos passou a andar numa corda-bamba ao melhor estilo Guerra Fria.
Aí o ouro volta a ser moeda em transações comerciais porque passa despercebido pelo radar das instituições financeiras. Carregar o metal é um calvário logístico, claro, mas a discrição é o que vale.
Só que nem toda a explicação é tão bélica assim. O ouro ainda é considerado um instrumento de proteção contra a inflação.
O Ocidente encara a maior inflação em 40 anos, diminuindo o poder de compra das moedas fiduciárias. Já o metal é menos vulnerável à desvalorização, porque a quantidade disponível na Terra é limitada.
Ele não paga juros aos compradores, como ocorre com investimentos. Por outro lado, não vai à falência nem dá calote.