8 carreiras para quem gosta de ciência e tecnologia
Governança de dados, engenharia robótica, analista de realidade aumentada... Conheça essas e outras profissões cada vez mais em alta.
Sim, alguns empregos baseados em tarefas repetitivas vão morrer. Mas tem a metade cheia do copo também. Impulsionadas por inteligência artificial, nuvem híbrida e segurança cibernética, as inovações em ciência e tecnologia estão gerando novas oportunidades profissionais e carreiras especializadas.
Em termos de crescimento, ambos os mercados apresentam uma expansão contínua. A consultoria Gartner projeta um aumento de 8% nos investimentos globais em TI, atingindo US$ 5,1 trilhões até o final do ano, com foco em IA e soluções digitais avançadas. Especificamente na América Latina, o Brasil se destaca, liderando o crescimento de TI com uma taxa prevista de 12%, segundo a IDC. Esse avanço supera o dos Estados Unidos, onde o crescimento esperado é de 9%, refletindo a adoção acelerada de tecnologias emergentes, incluindo IA. Estima-se que, até 2027, 25% dos gastos das maiores empresas da região estarão voltados para essa tecnologia.
O setor científico também passa por avanços significativos. O governo brasileiro, por meio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), lançou o programa Mais Inovação, com previsão de R$ 66 bilhões em investimentos até 2026. Esse montante, oriundo do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), será destinado a projetos empresariais e parques tecnológicos, incluindo R$ 16 bilhões em fundos não reembolsáveis.
Ou seja, vai ter mais trabalho para quem é amante de ciência e tecnologia. Confira a seguir quais profissões darão muitas vagas nos próximos anos.
Desenvolvedor de software
Responsável pela criação de aplicativos, sistemas e programas, esse profissional pode atuar em diversas áreas, como saúde, educação, entretenimento e finanças.
Um exemplo claro da necessidade de desenvolvedores é o mercado de Open Finance. Esse sistema financeiro tecnológico permite o compartilhamento de dados entre diferentes instituições bancárias autorizadas pelo Banco Central, evidenciando a crescente demanda por especialistas multifacetados que consigam integrar conhecimentos técnicos com uma visão estratégica de negócios.
“Encontrar talentos capazes de combinar conhecimentos técnicos robustos com visão estratégica de negócios é um desafio significativo. O segmento de Open Finance é intrinsecamente complexo, e sua natureza inovadora implica uma escassez de profissionais com experiência prévia”, afirma Murilo Rabusky, diretor de Negócios da Lina Open X. Para o executivo, muitos profissionais estão atualmente em processo de formação, refletindo o próprio estágio de desenvolvimento e maturação do ecossistema no Brasil.
Engenheiro de inteligência artificial
Conforme o estudo “IA: Problema ou Solução? Como os brasileiros percebem os impactos da Inteligência Artificial”, da MindMiners, 56% dos brasileiros já reconhecem a influência da inteligência artificial na sociedade. Enquanto 12% esperam por mudanças significativas no próximo ano, 20% acreditam que transformações relevantes ocorrerão em até cinco anos. Essa percepção crescente sinaliza um reconhecimento generalizado da importância da IA em diversas esferas da vida cotidiana.
Nesse contexto, o mercado para engenheiros de IA está em expansão. Esses profissionais são responsáveis pelo desenvolvimento de algoritmos que permitem que máquinas aprendam e tomem decisões de forma autônoma, desempenhando um papel vital na inovação tecnológica.
Para aqueles que se sentem atraídos por desafios complexos e pela resolução de problemas, essa carreira se mostra especialmente atraente.
“Com a IA revolucionando diversas indústrias, especialistas nessa área são responsáveis por desenvolver algoritmos e sistemas que permitem às máquinas realizar tarefas que normalmente requerem inteligência humana, como reconhecimento de fala, visão computacional e tomada de decisões. Nesse cenário, a IA tem se tornado cada vez mais promissora”, pontua Antônio Muniz, CEO da Advisor10X AgileTech e especialista em tecnologia e negócios.
Governança de dados
Essa profissão envolve um conjunto de práticas, processos e políticas destinadas a assegurar a qualidade, a segurança e o uso ético dos dados. Com o advento da IA, esses aspectos se tornam ainda mais essenciais. Sem uma gestão apropriada, as organizações correm riscos consideráveis, como violações de privacidade, vieses algorítmicos e problemas na tomada de decisões.
“Sem uma governança robusta, há riscos significativos de violações de privacidade e uso indevido de dados, levando a prejuízos financeiros e danos à reputação. Com regulamentações como a LGPD no Brasil e o GDPR na Europa se tornando mais rigorosas, as empresas precisam garantir que suas práticas de IA estejam em conformidade com essas leis para evitar sanções legais”, afirma Paulo Simon, diretor de desenvolvimento de negócios da Keyrus.
Cientista de dados
Informações da The Chronicle of Higher Education revelam que a demanda por cientistas de dados cresceu mais de 650% nos últimos dez anos, impulsionada pelo aumento no uso de big data e análise preditiva. Esses profissionais desempenham um papel crucial ao coletar, processar e analisar grandes volumes de informações, extraindo insights valiosos que podem orientar a tomada de decisões.
A carreira de cientista de dados é especialmente valorizada em setores como marketing, saúde e tecnologia financeira, nos quais a capacidade de interpretar dados complexos e traduzir resultados em estratégias práticas é fundamental para o sucesso organizacional. A crescente relevância dessa função destaca a importância da análise de dados na era digital.
Tecnologia da Informação
A demanda por profissionais qualificados está crescendo exponencialmente no setor de TI. Um estudo da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom) mostra que, até 2025, serão criados quase 800 mil novos postos, mas o Brasil forma pouco mais de 53 mil profissionais de tecnologia por ano – o que deve abrir um déficit de 532 mil pessoas para trabalhar na área.
Para o especialista em dados e inovação e professor de MBA da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Kenneth Corrêa, o crescimento exponencial da demanda por profissionais qualificados na área de tecnologia da informação e análise de dados reflete a necessidade urgente de uma resposta estratégica por parte das empresas e instituições de ensino. “O dado alarmante apresentado pelo estudo da Brasscom evidencia não apenas uma lacuna entre a oferta e a demanda de talentos, mas também um desafio fundamental para a competitividade e o desenvolvimento do país”, declara.
Marketing de dados e marketing digital
Também conhecido como data-driven marketing, o marketing de dados é uma estratégia que envolve a coleta, análise e uso de dados para direcionar ações mercadológicas mais eficientes e personalizadas. Esse enfoque permite que as empresas ajustem suas campanhas ao perfil e às necessidades específicas de cada cliente ou segmento, tornando a comunicação mais relevante e impactante.
Na prática, o marketing de dados oferece insights valiosos para melhorar a tomada de decisões estratégicas. Isso contribui para aumentar o engajamento, a satisfação e a retenção dos clientes, elevando o retorno sobre o investimento das campanhas. Conforme Kenneth Corrêa aponta, em uma era de crescente digitalização e mudanças no comportamento do consumidor, o marketing de dados é essencial para acompanhar tendências emergentes e entender as mudanças nas preferências do público. “A adequação das estratégias e ofertas se torna mais ágil e eficiente. De nada adianta o produto certo, para a pessoa certa, mas na hora errada”, comenta o especialista, destacando a importância do timing na eficácia das campanhas.
Por outro lado, o marketing digital nas redes sociais é uma área que complementa o marketing de dados, pois ajuda a transformar esses insights em interações diretas com o público. Brenda Lezie, especialista em redes sociais e CEO da Branding Digital, observa que as redes sociais oferecem oportunidades valiosas para os profissionais e empreendedores que sabem como usá-las estrategicamente. “Quando uma estratégia é bem planejada e executada com propósito, o empreendedor pode expandir em várias áreas, como seguidores, faturamento e credibilidade. É fundamental que o empreendedor compreenda que ele, seja como marca pessoal ou institucional, precisa explorar esse potencial para alcançar crescimento”, destaca Lezie.
Assim, enquanto o marketing de dados fornece a base analítica para entender o consumidor, o marketing digital nas redes sociais permite que essa compreensão seja traduzida em campanhas impactantes e eficazes. Para profissionais que desejam atuar nesses campos, a combinação dessas áreas oferece uma vantagem competitiva, permitindo que estratégias baseadas em dados se conectem diretamente com o público, resultando em um ciclo contínuo de aprimoramento e engajamento.
Engenheiro robótico
A robótica vem transformando setores como a manufatura e o agronegócio, revolucionando processos e aumentando a eficiência. Engenheiros robóticos são responsáveis por projetar, construir e manter robôs capazes de desempenhar funções complexas, combinando conhecimentos em hardware, software e inteligência artificial. Para profissionais que se interessam por essas áreas, essa carreira é ideal, pois envolve o desenvolvimento de soluções tecnológicas inovadoras.
No agronegócio, por exemplo, a robótica e a IA estão gerando um impacto significativo. Com a adoção dessas tecnologias, estima-se que a produtividade agrícola global possa aumentar em até 70% até 2050, ajudando a alimentar uma população mundial crescente, conforme dados da Appic Softwares. Empresas do setor têm investido fortemente em robótica para otimizar a produção, com investimentos anuais que chegam a US$ 1,7 bilhão. Esse número deve crescer para mais de US$ 4,7 bilhões até 2028, de acordo com a Statista, evidenciando o potencial e o interesse crescentes nessa tecnologia.
Rodrigo Cruz, especialista em tecnologia, destaca que a IA e a robótica são fundamentais para impulsionar a eficiência em toda a cadeia produtiva do agronegócio. Ele explica que os benefícios estão tanto na eficiência operacional quanto na experiência dos stakeholders, incluindo os produtores rurais. “Nesse contexto, a IA é essencial para enfrentar o desafio da produtividade: produzir mais no mesmo espaço, na mesma propriedade, respeitando as questões ambientais e mantendo a qualidade da produção”, afirma Rodrigo. A integração de IA e robótica no agronegócio, portanto, não só otimiza o rendimento como também responde a necessidades ambientais e de sustentabilidade, mostrando-se indispensável para o futuro do setor.
Analista de realidade virtual e aumentada
A indústria de jogos e esportes eletrônicos tem crescido exponencialmente, oferecendo muitas oportunidades. Há vagas desde para jogadores profissionais até criadores de conteúdo e analistas de realidade virtual aumentada para games. Esses analistas projetam experiências imersivas e interativas, ajudando a redefinir a forma como as pessoas interagem com o mundo digital.
O faturamento dessa indústria foi de US$ 184,4 bi em 2022 e chegará a US$ 211,2 bilhões em 2025, segundo a Newzoo, maior consultoria especializada nos números deste setor. Os dados são otimistas e revelam as perspectivas promissoras que estão surgindo para aqueles que buscam se especializar nesta área.
Segundo Marcos Guerra, especialista em jogos eletrônicos e CEO do Team Solid, hoje e-sports é um cenário novo e em franco crescimento. Muitas posições já estão se consolidando, porém ainda existe muito espaço para consolidar carreiras. “Independentemente do que se propor a fazer, faça o melhor que você puder, com estudo, foco e dedicação, isso é tão importante quanto ter o ‘dom para isso’. E, principalmente, se divirta durante o processo, para que, quando chegar lá, seja prazeroso, e não um fardo.”