Atuários: saiba mais sobre os profissionais mais disputados do mercado

Os atuários vêm provocando disputa por talentos entre startups e gigantes do setor de seguros

Por Cadu Proieti
Atualizado em 17 out 2024, 11h17 - Publicado em 24 jun 2020, 15h00
 (Celso Doni/VOCÊ S/A)
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Matéria originalmente publicada na Revista VOCÊ S/A, edição 263, em 08 de abril de 2020. 

As seguradoras vivem um momento propício no Brasil. Basta dar um Google para notar a proliferação desse tipo de negócio. Além das proteções tradicionais, como de veículos, residências e viagens, estarem mais sofisticadas, há opções que resguardam da saúde do bicho de estimação ao smartphone. Isso sem falar em novas modalidades, como a intermitente, que permite ao cliente contratar apólices por um período determinado.

Segundo a Confederação Nacional das Seguradoras, na última década, esse mercado avançou anualmente no ritmo de dois dígitos, mesmo com a economia fraca. Em 2019, enquanto o PIB cresceu 1%, o setor avançou 12%, arrecadando 270 bilhões de reais, sem considerar planos de saúde e DPVAT. Isso acontece porque os seguros deixaram de ser apenas um produto para se tornar uma solução.

Hoje, quem adquire uma cobertura, seja para o carro, a casa ou o equipamento eletrônico, procura um pacote customizado que vá além da simples proteção. Outro fator que mexeu com o segmento foi o aparecimento das insurtechs, as startups que oferecem seguros.

De acordo com o relatório mais recente do Radar Fintechlab, em 2015 havia registro de apenas duas insurtechs no Brasil. No ano passado, já eram 37. Em quatro anos, o crescimento foi de 18 vezes. “O Brasil tem um mercado interno grande, o que justifica essa evolução”, diz Amure Pinho, presidente da Associação Brasileira de Startups (ABStartups). A multiplicação dessas novas empresas tirou o segmento segurador da zona de conforto. Comparando, foi algo parecido com o que fez o fenômeno das fintechs no setor financeiro, que se viu obrigado a reinventar produtos e serviços por causa da chegada de novatas muito mais modernas.

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Os maiores beneficiados

Com todo esse movimento, quem ganha cada vez mais relevância é o atuário. Responsável por mensurar e administrar riscos dentro das seguradoras, esse profissional analisa variáveis e precifica apólices. No caso de um carro, para ficar no exemplo mais simples, isso significa analisar no detalhe o local em que o veículo fica estacionado, o perfil do proprietário e a probabilidade de sinistro. 

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E, se antes esse especialista podia atuar sozinho, mergulhado em planilhas e números, o aquecimento do mercado passou a exigir mais dele.

Hoje, entre outras atividades, o atuário precisa trabalhar em parceria com a inteligência artificial, circular por diferentes áreas e conversar com fornecedores e clientes para melhorar a qualidade do serviço.

“As empresas do segmento pedem um perfil mais empreendedor, principalmente em startups. Quem é menos tímido e introspectivo acaba se sobressaindo”, diz Ana Guimarães, gerente sênior de recrutamento da Robert Half, consultoria especializada em seleção de talentos.

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Aldo Finkbeiner Dal Medico, gerente atuarial da startup Vitta: acúmulo de cinco aumentos salariais | Foto: Celso Doni ()

Aldo Finkbeiner Dal Medico, de 31 anos, sente na pele a valorização da profissão e a disputa por talentos que o segmento vive atualmente. Formado em ciências atuariais há dez anos, ele trabalhou primeiro numa consultoria para planos de saúde, onde foi estagiário, técnico e analista. Depois, partiu para uma consultoria atuarial global, a Aon, onde permaneceu até o início de março, quando recebeu uma proposta e se tornou gerente atuarial da Vitta, que oferece planos de saúde exclusivos para startups.

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Em sua experiência, Aldo afirma que antes era visto como alguém meramente técnico. Agora a história é outra. O cargo se tornou bem mais estratégico. Há necessidade de dialogar com outros funcionários da companhia, como engenheiros de dados, desenvolvedores de softwares e, no caso de Aldo, até com profissionais da saúde, para dimensionar valores num contexto mais complexo, em que tudo muda o tempo todo. “Não adianta o atuário falar a linguagem técnica. Hoje, é necessário desenvolver relacionamento interpessoal para ir além das fórmulas e criar soluções mais alinhadas às necessidades do cliente”, afirma ele, que já soma cinco aumentos salariais, entre promoções internas e mudanças de emprego.

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Escassez de talentos

De fato, a carreira é promissora para quem está em busca de oportunidades. Em São Paulo, coração financeiro do país, a média salarial desse pessoal é de 7.000 reais. Mesmo com ofertas atraentes, falta gente qualificada. Segundo o Instituto Brasileiro de Atua­ria (IBA), o Brasil possuía cerca de 2.340 atuários em 2019, sendo que um quarto deles estava na área de seguros, sendo 80% no Sudeste.

Todo ano, o IBA rea­liza seu exame de proficiência técnica, similar à prova de admissão da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). A média anual é de 200 aprovados. “Posso dizer que nunca fiquei um dia sequer sem emprego. Também sempre pude escolher o lugar onde queria trabalhar”, afirma Reinaldo Amorim, de 44 anos, gerente da área atuarial da ­SulAmérica Seguros. Apaixonado por matemática desde a infância, Reinaldo conheceu as ciências atuariais quando cursava a sexta série do ensino fundamental e participou das Olimpíadas de Matemática. Graduado em ciências atuariais, ele trabalha nesse mercado há 22 anos, já passou por diversas companhias, como a consultoria global PwC, e afirma que a ascensão de cargos e salários é uma realidade para a maioria dos profissionais da área. “A demanda é maior do que o número de pessoas disponíveis. Em razão disso, os atuários são disputados meio que a peso de ouro. E, quando unem habilidade matemática com boa comunicação, foco no cliente e visão estratégica, eles despontam facilmente para posições executivas”, afirma Reinaldo.

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Reinaldo Amorim, gerente atuarial da SulAmérica Seguros: nunca ficou desempregado em 22 anos de carreira | Foto: Divulgação ()
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Por causa da escassez, a SulAmérica precisou criar programas de desenvolvimento e aceleração de talentos para desenvolver e reter pessoas com expertise e conhecimentos técnicos essenciais para o sucesso de seu negócio, entre elas  os atuários, 10% de sua força de trabalho. “No primeiro ano do programa, movimentamos 30% do quadro”, afirma Flavia Neves David, superintendente de RH da SulAmérica.

Visão inovadora

A Vitta, primeira corretora de planos de saúde exclusiva para funcionários de startups no Brasil, reflete a diversificação desse mercado. Na prática, o que a companhia faz é analisar o perfil da interessada em contratar o benefício e desenvolver um modelo adequado às suas necessidades, oferecendo acesso à rede de médicos de grandes seguradoras, como Unimed, SulAmérica, Bradesco e Amil, além de um canal 24 horas para atendimento e agendamento de consultas e de um programa de descontos com redução de até 90% na compra de remédios.

Fundada em 2014 na cidade de Uberlândia, em Minas Gerais, a ­Vitta atua também com um software de gestão para pequenas clínicas e consultórios. “A ferramenta faz prontuário eletrônico, agendamento de consultas, registro de faturamento, entre outras funcionalidades”, diz Tiago Barros, cofundador da empresa, que tem parceria com 15.000 médicos em 25 Estados. Em 2019, a Vitta fechou o ano com 170 funcionários, um crescimento de 84% nas contratações em relação ao ano anterior. Em faturamento, o aumento foi de 92% de 2018 para 2019.

Esse progresso espelha o bom momento do mercado segurador. “As startups elevaram o nível de eficiência e inovação e levaram todo o segmento a buscar novas soluções em tecnologia e preços mais competitivos para os seus consumidores”, afirma Amure, da ABStartups.

E o surgimento dessas novatas não representa uma ameaça aos gigantes do setor. Ao contrário. Sérgio Biagini, sócio líder da Delloite, prevê um cenário próspero para ecossistemas formados entre companhias consolidadas e startups com o intuito de oferecer produtos inovadores. Ou seja, na visão dele, a tendência é que haja parceria entre elas.

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As grandes operadoras já demonstram essa mudança de mentalidade na prática. A SulAmérica, por exemplo, vem desenvolvendo novos serviços para melhorar a experiência do cliente. Lançou o aplicativo ­SulAmérica Saúde, que oferece o sistema Médico em Casa, no qual é possível agendar atendimento em domicílio em diversas cidades brasileiras, e o Médico na Tela, que permite realizar videochamadas com os doutores para obter orientações. “As startups deram um fôlego ao setor. Olhamos isso de maneira positiva, mas sem abrir mão de nosso conhecimento. Nossa empresa une sua enorme credibilidade com a inovação, o que nos mantém competitivos”, explica ­Flavia, ressaltando que há parcerias com diversas startups, como Docway (que tem o sistema de agendamento em casa) e LexisNexis (desenvolvedora do aplicativo SulAmérica Auto). De 2018 a 2019, a empresa elevou em 30% seu faturamento líquido.

Se o presente é promissor, o futuro que se desenha é ainda mais favorável. Para 2020, a expectativa da Confederação Nacional das Seguradoras é que, mesmo com a pandemia do novo coronavírus, o setor avance 6,7%, bem acima da previsão de crescimento para o PIB neste ano, de 0,02% — pós-tombo causado pela atual crise sanitária.

Hoje, há 18 cursos de graduação em ciências atuariais reconhecidos pelo Ministério da Educação. E não devem faltar oportunidades para quem estuda nessas instituições e ingressa no mercado de trabalho. Dá para ­atuar em fundos de pensões, instituições financeiras, empresas de capitalização, órgãos oficiais de previdência, auditorias e consultorias atuárias. E, mesmo diante do avanço da tecnologia, com os algoritmos assumindo os cálculos, especialistas não enxergam risco de extinção tão cedo para esses profissionais. “Quando aliada a um caráter mais analítico, a carreira tem enorme potencial. Todas as companhias desse ramo precisam de atuários”, diz Ana, gerente da consultoria Robert Half.

 

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