Descubra como é trabalhar na área de energias renováveis, um mercado a todo vapor
A produção de eletricidade eólica e solar cresce de forma exponencial no Brasil. Esse movimento promete durar décadas, e traz ótimas oportunidades para engenheiros de diversas áreas. Entenda melhor esse setor.
O primeiro trimestre de 2020 foi marcado por um fenômeno inusitado: com vários países enfrentando a primeira onda da pandemia com medidas restritivas, o total de eletricidade gerada no mundo caiu 2,6%. Todas as fontes de energia elétrica despencaram – com uma exceção: as renováveis. A participação desse setor no fornecimento de eletricidade se aproximou de 28% no primeiro trimestre de 2020, contra 26% no mesmo período de 2019. No final do ano, fechou em quase 30%, segundo o relatório Global Energy Review 2020, da Agência Internacional de Energia (IEA).
Os motivos para a expansão da energia renovável você já sabe: o mundo tenta evitar uma catástrofe climática e boa parte dos países estão cada vez mais se afastando dos combustíveis de origem fóssil (no caso da energia elétrica, carvão e gás natural). A meta é não deixar a temperatura global ultrapassar 1,5 ºC dos seus níveis pré-industriais.
Falou em energia renovável, pensou em solar e eólica – ainda que a hidrelétrica, responsável por 64% da produção nacional, seja tão renovável quanto. É um mercado de trabalho robusto: são 1,158 milhão de empregos em energias renováveis no Brasil, o segundo maior no mundo, só atrás da China, segundo a Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA). O grosso das vagas ainda está no setor hidrelétrico. Mas o solar e o eólico são os que crescem em ritmo mais acelerado.
É que construir novos mastodontes como Itaipu e Belo Monte não é exatamente a melhor alternativa para o meio ambiente. As represas das hidrelétricas de grande porte alagam regiões vastas, o que traz um alto custo ambiental. Uma parte cada vez maior dos investimentos na área, então, vai para a energia eólica e a solar.
Mais: nossa matriz hidrelétrica passa por um inferno astral. “As crescentes variações de regime de chuvas provocam uma demanda cada vez mais acentuada por outras soluções renováveis. Isso cria oportunidades de empregos em uma escala sem comparação com outros segmentos”, avalia Ruberval Baldini, presidente da Abeama (Associação Brasileira de Energias Alternativas e Meio Ambiente).
A expansão das “outras soluções” promete ser firme. “Há projeções de uma mudança significativa no perfil da participação das fontes energéticas ao longo desta década”, diz Emerson Martim, coordenador da pós-graduação de Engenharia de Energias Renováveis da PUC-PR. A fatia da eólica saltará de 9% (em 2019) para 16% em 2029, segundo o Plano Decenal de Expansão de Energia do Ministério de Minas e Energia. E a da solar deve quadruplicar: de 2% para 8%.
Toda essa transição, é claro, significa que empresas da área precisam projetar, instalar, operar e manter sistemas complexos de energia. Logo, não faltam oportunidades, principalmente para engenheiros – mas também para físicos, químicos e geólogos.
Para quem quer aproveitar esse boom, que promete durar décadas, até existem opções de cursos superiores de Engenharia em Energias Renováveis – a maioria no Nordeste, região que concentra a maior parte dos parques eólicos e usinas solares do Brasil, dada a insolação e a ventania típica da região. Universidade Federal do Ceará (UFC), Universidade de Fortaleza (Unifor) e Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN) são algumas das principais instituições com bacharelado na área.
Para quem já é engenheiro e sonha em trabalhar com isso, vale cogitar uma pós-graduação em energias limpas – instituições como a PUC e FMU oferecem esse tipo de especialização.
De qualquer forma, o mercado de energias renováveis não exige uma formação acadêmica voltada para a área – até porque esses cursos são recentes. As empresas, então, costumam contratar engenheiros de diversas áreas: ambiental, civil, eletrônica, mecânica. E depois investem na capacitação técnica para as necessidades específicas do ramo em que atuam.
Carreira do século 21
Quem viu de perto a transformação do mercado foi o engenheiro Fábio Ferreira. Ele entrou na área de renováveis em 2005, quando conseguiu uma vaga na alemã Wobben para a construção do, na época, maior parque eólico do Brasil, no Rio Grande do Sul. “Eu nem sabia o que era energia eólica, nunca tinha nem visto. Era uma coisa muito nova”, lembra.
A experiência foi positiva – e o engenheiro entrou para ficar. Como a área ainda começava no país, Fábio foi para fora adquirir conhecimento técnico especializado e experiência, principalmente na Europa e nos Estados Unidos. Desde então, passou por grandes nomes da indústria de energia, como EDP, Siemens e Suzlon. Hoje Fábio coordena a área de Operação e Manutenção de Eólica da CPFL Renováveis, em Fortaleza, onde está há dois anos.
O Ceará é um dos destaques na produção de energia a partir dos ventos: são mais de 80 parques eólicos (os outros protagonistas dessa história também são nordestinos: Rio Grande do Norte, Piauí e Bahia).
Hoje, Fábio é responsável por garantir o bom funcionamento dos parques eólicos da empresa no Estado – o que inclui traçar todo o planejamento estratégico de quando, como e com que frequências as vistorias devem ser feitas.
A quem quer trabalhar na área, Fábio lembra que os salários são atrativos (até R$ 25 mil) e que a ideia de investir esforços em um negócio sustentável, capaz de realmente fazer a diferença para o futuro do planeta, é mais do que positiva. Por outro lado, você precisa de uma certa disposição. Para morar longe, por exemplo. Um dos desafios é que parques eólicos (e, em menor grau, solares) são geralmente instalados longe de grandes centros urbanos. “Quando nós começamos, ficávamos no meio do mato, às vezes três meses sem ir para casa.”
Para avançar na carreira, um caminho é essencial: especialização. “Não existe ‘especialista em turbina eólica’. Isso é impossível. Há especialistas em cada parte da turbina, porque são vários segmentos diferentes”, diz Fábio. A boa notícia é que, agora, não é mais preciso sair do país para adquirir esses conhecimentos, já que o Brasil avançou bastante no setor.
“No começo, ficávamos no meio do mato, três meses sem voltar para casa”.
Exatamente por ser uma área bastante ampla, o profissional deve estar preparado para atuar num campo interdisciplinar e segmentado. “Quem trabalha com energias renováveis, geralmente, trabalha em pequenos grupos. É preciso ter uma certa independência. A pessoa não pode ter o perfil de quem precisa de alguém sempre em cima cobrando.”
A rotina de trabalho, ao contrário do que possa parecer, é dinâmica e flexível. “Eu, como trabalho mais com a parte estratégica, sempre tenho alguma coisa nova para pensar, para ir atrás e para desenvolver. Não tem uma rotina, e sim planos estratégicos traçados. Dentro desse plano, você vai costurando. Tem dia que eu entro seis da manhã e saio sete da noite, mas tem dia que duas da tarde eu não estou mais no escritório.”
Outra vantagem de uma área em franca expansão é que a carreira dos profissionais envolvidos tende a crescer junto. “Conheço quem entrou como estagiário na parte técnica e hoje é gerente, na área de gestão”, conta Fábio. “Eu mesmo cheguei à cadeira de diretor em 2014, aos 33 anos.”
Atividades-chave
O tema aqui é amplo, já que estamos falando em indústrias diversas e complexas. Então há uma gama imensa de atividades inerentes ao papel de cada especialista. Como diz Fábio Ferreira, da CPFL: “Não existe ‘especialista em turbina eólica’. Isso é impossível. Há especialistas em cada parte da turbina”.
Quem contrata
Empresas do setor de energia elétrica – boa parte delas está ampliando severamente suas matrizes eólicas e solares.
Pontos positivos
É um setor em crescimento e 100% ESG. Ou seja: recebe oceanos de investimentos. Então não faltam novas vagas, com bons salários.
Pontos negativos
Os grandes parques geradores ficam longe dos centros urbanos. Você precisa de disposição e dedicação para passar boas temporadas em lugares onde o iFood não chega.
Principais competências
Ter um conhecimento técnico sólido dentro da sua área da engenharia. Como o setor é novo, não há grandes exigências de experiência prévia com turbinas eólicas ou painéis solares. Também é preciso saber trabalhar em equipes pequenas e independentes.
O que fazer para atuar na área
As engenharias são as graduações mais comuns, embora a área também contrate geólogos, físicos e químicos. Para quem sonha em trabalhar na área, há cursos de bacharelado em Energias Renováveis, e pós-graduações também.
Salário médio*
Inicial: R$ 5,5 mil | Alto: R$ 25 mil
*Fonte: Glassdoor