Descubra como é trabalhar no cargo de gerente de e-commerce
Assim como em uma loja física, as virtuais também precisam de gerentes para botar ordem na casa. Conheça esse profissional que precisa entender toda a operação e garantir que as áreas trabalhem em sintonia para que as compras cheguem.
Mais de 79 milhões de brasileiros fizeram compras pela internet no ano passado – é quase 38% da população. E, desses, 13,2 milhões estavam realizando a sua primeira compra online. É fato que o isolamento social alavancou o e-commerce no país. Só em 2020, as vendas online somaram R$ 87,4 bilhões; isso é 41% a mais do que o faturamento registrado em 2019, de acordo com um levantamento da consultoria
Ebit/Nielsen.
Segundo Maurício Salvador, presidente da ABComm (Associação Brasileira de Comércio Eletrônico), a previsão é que o setor continue crescendo. “Normalmente, por ano, são abertas 30 mil lojas online no Brasil. Em 2020, foram 180 mil novos e-commerces – é seis vezes mais do que a média normal.” Pela contabilidade da ABComm, o volume de vendas cresceu mais do que o auferido pela Nielsen: 68%. “E esse é um movimento que vai se manter neste ano, tanto que as vendas devem subir mais 38%.”
O aumento das operações exige que as empresas tenham profissionais dedicados ao controle das lojas virtuais, pensando não apenas na parte técnica, mas também em estratégias de crescimento. Afinal, ter um e-commerce vai além de criar um site e colocar coisas para vender. É preciso conhecer os clientes, entender do negócio da empresa e garantir que ela não se perca na mudança do offline para o online. Aí que entra a figura do gerente de e-commerce.
É como se fosse em uma loja física: lá, o gerente é responsável por organizar as equipes, controlar o estoque, o recebimento de mercadoria, o fechamento de caixa e o faturamento da unidade. No e-commerce a ideia é a mesma. A diferença está no tamanho da operação. Enquanto uma loja de bairro precisa lidar com um número limitado de clientes e compras, um comércio online tem alcance ilimitado.
Por outro lado, é fácil sumir em meio ao mar de e-commerces que temos hoje. A missão-chave de um gerente da área, então, é garantir a conversão do cliente. Ele precisa fazer com que a pessoa encontre o site, se interesse pelos produtos que estão ali e finalize a compra.
Todas as áreas em uma
Gerenciar um e-commerce é como reger uma orquestra. Você precisa saber tocar todos os instrumentos, para exigir o melhor dos músicos sob seu comando. Na profissão, isso significa dominar em algum grau áreas díspares: logística, marketing digital, TI, matemática financeira, atendimento ao cliente, gestão empresarial. Também não podem faltar conhecimento de estratégias para aumento de vendas, precificação e técnicas de SEO (as ferramentas para colocar o site no topo dos resultados do Google). Se a empresa for multinacional ou vender para fora do país, precisa ter inglês avançado.
Em suma, sem aquilo que o mercado chama de visão 360º do negócio, não tem jeito. “Uma empresa com uma logística cara ou que demore para entregar não vende, por exemplo. Por isso, o profissional não pode olhar só para os produtos que ele comercializa no site. Ele tem que saber o que acontece na logística para oferecer soluções mais rápidas, como a busca da compra em uma loja física”, diz Ulysses Reis, coordenador do MBA de Varejo da FGV.
“Você tem que ter uma visão holística do negócio para liderar a loja online. É preciso entender muito bem como cada área precisa atuar. E ter análise de dados na veia.”
Theo Vieira, diretor de e-commerce da Mondelez
O mesmo vale para a parte de tecnologia. O gerente de e-commerce não precisa saber programar, claro, mas deve conhecer as certificações de segurança necessárias para proteger o site e evitar fraudes.
E, claro, ainda é preciso mandar bem nas habilidades comportamentais: saber lidar com pessoas e trabalhar em equipe é essencial para manter a orquestra afinada.
Também é importante saber trabalhar sob pressão e tomar decisões rápidas. No mundo online, tudo muda rápido. Um ajuste no algoritmo do Google basta para destruir as estratégias de SEO do site. Ou seja: quem se apega a processos que deram certo no passado fica para trás.
Vivência na área
Não existe uma graduação específica para atuar em lojas online – os principais cursos são os de Administração, Marketing e TI. Se você quiser se especializar para valer na área, vale fazer uma pós-graduação em varejo, e-commerce ou
negócios digitais.
A questão é que não se torna gerente de e-commerce da noite para o dia. Ter uma certa experiência direta no varejo ou na área de vendas é indispensável para assumir o cargo, independentemente da formação. É o caso de Theo Vieira, 40 anos.
Ele se formou em Relações Internacionais. Em 2002, teve a oportunidade de mudar para a área de trade marketing da Unilever. O setor é responsável pela comunicação e pelo estudo de posicionamento de produtos nos pontos de venda – sabe quando você vai ao supermercado e consegue achar o que buscava com uma certa facilidade? Então. Esse é o resultado de um trabalho bem feito de trade marketing.
Theo passou oito anos na Unilever e, nesse período, foi atuar na unidade da companhia na China, onde morou quatro anos. “Minha inserção no mundo do e-commerce começou ali. Eu sempre me interessei por tecnologia e a China já era um mercado muito digitalizado.”
No final de 2010, ele decidiu voltar para o Brasil. Dessa vez, foi trabalhar na área de marketing da Mondelez – dona de marcas como a Lacta, Oreo, Club Social, Trident e Halls. “Comecei em uma marca menor e depois fui cuidar da [linha de sucos em pó] Tang. Mas sentia que faltava passar pelo setor de vendas; então fui trabalhar na área em 2015.” Theo foi responsável por estruturar o Cash & Carry – canal pelo qual a empresa se relaciona com os atacarejos. Ele também atendia à conta de varejo do Grupo Pão de Açúcar e ajudou na criação de um canal exclusivo dentro do site da rede de supermercados para o e-commerce dos produtos Lacta para a Páscoa.
Em 2016, ele foi trabalhar como gerente de marketing da Duratex. “Lá, eu liderava três squads: um de internet das coisas, outro de estratégias de e-commerce e o de criação de conteúdo do site. Foi uma época em que eu desenvolvi muito o conhecimento de digital.” Em julho de 2019, veio o convite para voltar para a Mondelez e assumir como gerente de e-commerce da companhia. “Você tem que ter uma visão holística do negócio para liderar a loja online. É preciso entender muito bem como cada área precisa atuar. Também tem que ser uma pessoa que tenha análise de dados na veia, porque, quando a gente está falando de e-commerce, não é de um ou dois clientes, e sim de milhares.” Hoje, Theo é o diretor de e-commerce da companhia.
Atividades-chave
Aumentar a taxa de conversão da loja virtual, monitorar a concorrência, supervisionar outras áreas da companhia relacionadas ao e-commerce (logística, marketing, atendimento ao cliente, TI), evitar fraudes e selecionar ferramentas online que melhorem a experiência de compra.
Quem contrata
Médias e grandes empresas que possuam um e-commerce, tanto para consumidores finais (B2C) quanto para clientes corporativos (B2B).
Pontos positivos
É uma profissão nova e de destaque dentro das companhias. Os profissionais capacitados têm muitas oportunidades de emprego.
Pontos negativos
Se você quer um trabalho calmo e previsível, gerente de e-commerce não é para você. No mundo online, a atualização é constante. O profissional deve sempre acompanhar as mudanças de mercado e saber adaptá-las continuamente à loja virtual.
Principais competências
Conhecimento de varejo, tecnologia, logística, marketing, finanças e gestão de negócios. Na parte comportamental, o destaque é para capacidades de liderança, trabalho em equipe e pensamento estratégico.
O que fazer para atuar na área
Não existe uma graduação específica, mas os cursos de Administração, Marketing e TI são os mais comuns entre os profissionais. Também é possível fazer uma pós-graduação em Varejo, Negócios Digitais ou E-Commerce.
Salário*
Médio: R$ 6,7 mil | Alto: R$ 17 mil
*Fonte: Glassdoor