Profissões promissoras: cargo mais aquecido do mercado teve alta de 718%
A Covid-19 mexeu com o mercado de trabalho e provou que os profissionais precisam estar preparados para demandas inesperadas no pós-pandemia
Matéria originalmente publicada na Revista VOCÊ S/A, edição 264, em 07 de maio de 2020.
O empregado não saiu pro seu trabalho, pois sabia que o patrão também não tava lá.” A música O Dia em que a Terra Parou, de Raul Seixas, representa muito bem a rotina da maioria dos trabalhadores brasileiros durante o isolamento social causado pelo coronavírus. Mas, enquanto muitos estão em casa e outros perderam o emprego, alguns setores viram um aumento repentino na demanda por profissionais. A área da saúde, por causa da natureza da crise, é uma das que mais cresceram em ofertas de emprego.
Um levantamento da plataforma de recrutamento Catho, que comparou as vagas abertas nos meses de março de 2019 e março de 2020, indica que profissões relacionadas a esse setor chegaram a abrir quase 4.000 oportunidades em apenas uma semana — outra pesquisa, esta do site Glassdoor, realizada no início de abril, revelou haver mais de 12.000 vagas para médicos e 2.000 para enfermeiros.
Além da saúde, há outros segmentos com o mercado aquecido — é o caso de TI, logística e varejo. Uma das explicações vem do aumento das compras online. Um estudo da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), em parceria com o Movimento Compre & Confie, identificou que as compras via e-commerce cresceram 30% entre os dias 25 de fevereiro e 20 de março, quando comparadas com o mesmo período do ano passado. Além disso, dados da Ebit, em parceria com a Nielsen, mostram que o número de novos consumidores, ou seja, aqueles que estão adquirindo itens pela internet pela primeira vez, subiu 32% entre os dias 11 e 25 de março.
O segmento dos supermercados também está em alta. A Catho revela que esse setor tem mais de 6.000 oportunidades de emprego. E o Glassdoor indica também um aumento para o setor de atendimento ao cliente (com cerca de 10.000 vagas) e logística (mais de 3.000). “Em um primeiro momento, a gente viu um rápido congelamento das vagas. Mas agora alguns setores estão indo na contramão e já se organizaram para voltar a contratar em cargos de diversos níveis”, diz Carolina Cabral, gerente sênior de recrutamento da consultoria Robert Half. Esse é o caso das varejistas que estavam se preparando para uma transformação digital. “Isso não é coisa do momento. É um movimento que já estava acontecendo, tanto que as empresas que estão se destacando já tinham uma plataforma de e-commerce pronta”, afirma Carolina.
Para ver e ser visto
Essa explosão de procura por profissionais de alguns setores em decorrência da crise era difícil de ser prevista. Por isso, fica a dúvida: como se preparar para uma explosão repentina no setor no qual trabalha? O segredo está na capacitação constante. Quanto mais apto e atualizado estiver, maiores serão as chances de conseguir se posicionar melhor no mercado durante uma alta.
Segundo Carolina, o ritmo do profissional tem de ser guiado pelo movimento do setor, e mesmo quem não se preparou com antecedência pode aproveitar. “Agora é o momento de tirar os projetos da gaveta. E não podemos pensar apenas na capacitação técnica da área. Nós ainda temos um problema grande com idiomas, então aprender inglês é algo que todos nós precisamos, por exemplo.”
Além disso, não basta estar pronto, é preciso que as empresas saibam disso — logo, manter o currículo atualizado e ser ativo em redes sociais profissionais, como o LinkedIn, são atitudes importantes. “Esse é o momento de se preocupar com a imagem e a visibilidade, porque os headhunters estão olhando”, diz Carolina. E isso é uma tendência global. Segundo um estudo do site americano CareerBuilder, 70% dos empregadores olham as redes sociais dos candidatos.
Para se destacar na multidão, o currículo precisa ser atrativo e customizado para a vaga em questão: vale ajustar suas experiências para mostrar como elas são relevantes para aquele emprego — sem mentir, é claro. No CV, a experiência profissional é o que mais pesa: 80% dos recrutadores valorizam mais essa informação, de acordo com outro estudo da Catho, feito com 400 profissionais de recrutamento em 2019.
Comportamento vale muito
Nos últimos anos, tem se falado bastante sobre a importância das competências comportamentais para manter a empregabilidade. E os números provam isso: um estudo da Universidade de Michigan mostra que quem possui habilidades sociais de controle emocional e comunicação é 12% mais produtivo. “Muitas empresas vêm buscando trabalhar a transformação digital, o que, por si só, já pede uma mudança de mindset. E agora com o coronavírus se mostrou cada vez mais importante a capacidade de se reinventar e ser flexível”, afirma Susanne Andrade, coach e autora do livro O Segredo do Sucesso É Ser Humano (Biz, 29,90 reais).
Para a especialista, o pós-crise vai demandar profissionais com inteligência emocional, empatia e criatividade, além de aptidão para comunicação e cooperação — independentemente da área. “O mundo não será mais o mesmo, e para conseguir espaço no mercado será preciso desenvolver novas habilidades de relacionamento.”
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