Estudar nos EUA: o que muda com Kamala Harris ou Donald Trump
Com propostas divergentes sobre dívida estudantil, ensino de raça e direitos de transgêneros, a eleição americana pode mudar o futuro de imigrantes brasileiros.
As eleições presidenciais dos Estados Unidos estão aí pertinho: dia 5 de novembro. O mundo para nesse período já que a linha política de cada candidato a chefe do Executivo na superpotência tem influência no planeta todo. Bastante no Brasil, o que inclui quais de nós visam estudar ou trabalhar nos EUA. Kamala Harris e Donald Trump tem propostas bem distintas sobre o tema, e aí, se você tem ambição de passar um tempo preparando ou desenvolvendo sua carreira por lá, vale a pena saber para quem torcer.
Gustavo Nicolau, Mestre e Doutor pela Faculdade de Direito da USP e Mestre pela Universidade de Chicago, uma das principais autoridades brasileiras em imigração para os EUA, analisa: “Os americanos oferecem um sistema educacional de excelência, com amplas oportunidades para crescimento acadêmico e profissional. Porém as políticas educacionais podem ter um impacto direto na experiência que os imigrantes terão nas escolas e universidades do país”. Confira o que muda dependendo de quem vencer.
Dívida estudantil
Kamala Harris apoia a continuidade do plano de perdão de dívidas estudantis da administração Biden. De acordo com o Departamento de Educação dos EUA, desde 2021, o governo Biden-Harris promulgou a remissão de mais de US$ 170 bilhões em empréstimos estudantis para quase 5 milhões de pessoas. A candidata defende, portanto, a manutenção dessas políticas, principalmente para beneficiar servidores públicos, como professores. Além disso, Kamala é a favor da expansão do ensino superior gratuito.
Já Donald Trump se opõe ao cancelamento em massa de dívidas estudantis. Durante a pandemia, enquanto era presidente, o republicano suspendeu temporariamente os juros de empréstimos federais, mas se mantém contrário a uma anulação ampla das dívidas. Em vez disso, ele apoia planos de pagamento baseados na renda, que ajustam os pagamentos de acordo com a capacidade financeira dos indivíduos.
“Essas abordagens distintas podem impactar diretamente a viabilidade econômica de um estudante brasileiro imigrante nos EUA, especialmente em relação ao financiamento da educação superior, o que reforça a importância de um planejamento financeiro adequado para a imigração”, avalia Gustavo Nicolau, que também é sócio do Green Card US, escritório de advocacia de imigração.
Currículo sobre raça e gênero
De acordo com o plano para reformar as escolas públicas do país divulgado pelo ex-presidente Donald Trump, ele pretende cortar o financiamento federal de instituições que promovam a teoria crítica da raça, a ideologia de gênero e outros conteúdos raciais, sexuais ou políticos que ele considera inapropriados para crianças. Ele também quer criar um órgão de certificação para garantir que os professores promovam valores patrióticos.
A candidata democrata, por outro lado, critica iniciativas que tentam restringir ou eliminar discussões sobre racismo do currículo das escolas, argumentando que os alunos devem ter acesso a uma educação completa sobre a história do país. Além disso, Kamala é contra a proibição de livros que tratem de questões LGBTQ+ e vê essas restrições como uma ameaça às liberdades educacionais.
“O impacto dessas políticas sobre o currículo pode afetar a experiência educacional de famílias brasileiras que migram com filhos em idade escolar, sobretudo no que se refere à abordagem de temas sensíveis e ao ambiente cultural das instituições educacionais,” ressalta Gustavo.
Estudantes transgêneros
Kamala Harris se pronunciou contra leis estaduais que negam o acesso de estudantes transgêneros a banheiros de acordo com sua identidade de gênero. Ela argumenta que a imposição fere o direito de existência das pessoas trans nos Estados Unidos.
Durante seu mandato, o republicano Trump revogou as diretrizes para escolas públicas dos EUA que permitiam que alunos transgêneros usassem banheiros correspondentes à sua identidade de gênero e, em sua campanha, reafirmou sua oposição à inclusão de alunas trans em esportes femininos. O ex-presidente também propõe, caso seja eleito, desfazer o Departamento de Educação para transferir as políticas educacionais para os Estados.
“As políticas relacionadas a direitos de estudantes transgêneros nos EUA têm implicações jurídicas consideráveis, especialmente para imigrantes que se inserem em um sistema educacional que pode apresentar abordagens divergentes em relação a esse tema.”
Oportunidades educacionais nos EUA
Apesar das diferenças nas propostas de Kamala Harris e Donald Trump, os Estados Unidos continuam sendo um dos destinos mais buscados por estudantes internacionais. Gustavo Nicolau explica que a vasta gama de programas de qualidade, tanto em instituições públicas quanto privadas, permanece atrativa.
“Independentemente de quem vencer as eleições, os EUA oferecem um dos sistemas educacionais mais diversificados e acessíveis do mundo, com programas de ensino que continuam a atrair estudantes de diversas origens, incluindo muitos brasileiros. O país tem um ambiente acadêmico robusto, com oportunidades significativas de crescimento profissional e pessoal.”