Filhos e trabalho: uma conexão capaz de aumentar a produtividade
Crescemos acreditando que o certo era separar essas esferas. Assim perdem a mãe, o pai e os profissionais (além das crianças, claro).
or muito tempo, filhos e trabalho foram colocados em lados opostos das conversas, como adversários. O debate parecia sempre envolver resistência e tensão, sugerindo que um dos lados saísse prejudicado. Assim, criamos duas vidas desintegradas: a pessoal e a profissional. Metas, prazos e reuniões se impuseram em uma área, enquanto o cuidado, a criação e a educação dos filhos ficaram isolados em outra.
Crescemos acreditando que o caminho certo era separar essas esferas. Porém, essa desintegração e resistência são, na verdade, uma receita para o enfraquecimento. O estresse, o adoecimento e a evasão de mulheres do mercado de trabalho ao se tornarem mães são reflexos diretos dessa abordagem. Esticar a corda entre essas duas partes da vida só leva ao rompimento. E os dados mostram que, da forma como as coisas estão sendo feitas, essa conta nunca vai fechar.
Há muitos fatores que precisam ser considerados para reverter esse cenário. Precisamos olhar para as realidades de cada família, suas condições e interseções, além de preparar lideranças, envolver os pais no cuidado e ajustar processos e políticas. Esse é um tema complexo, sem soluções únicas ou simplistas.
Uma das medidas é, sem dúvida, soltar essa corda. Deixar de lado esse cabo de guerra entre filhos e carreira e nos entender como seres integrais. Para viver bem, é preciso sentir-se inteiro, e não fragmentado entre papéis.
Inteireza: o alicerce para o bem-estar e a produtividade
Sentir-se inteiro é a base para o bem-estar mental e emocional. Quando estamos presentes e inteiros, podemos trabalhar melhor. Ninguém quer fazer as coisas pela metade, mas essa tem sido a realidade atual: atenção dividida, parentalidade distraída, falta de foco. Curiosamente, enquanto a busca por cursos de produtividade aumenta, as pessoas passam mais tempo nas redes sociais, em um verdadeiro paradoxo.
Para ser mais produtivo, é essencial estar inteiro. E a chave para isso é integrar e investir na conexão com os filhos.
“Quanto mais me conecto com meu filho, melhor eu posso produzir?”
Essa ideia pode soar contraintuitiva. Afinal, estamos acostumados a ver os filhos como um desafio, uma barreira, uma “interrupção” da vida profissional. No entanto, estar presente e se sentir conectado a eles nos dá mais energia e propósito. Conexão é a base de todas as relações humanas, e uma necessidade essencial que todos buscamos.
Quando criamos espaços genuínos de conexão com nossos filhos, sentimos mais leveza, bem-estar e até mais espaço mental para focar no trabalho.
Já ouvi uma história de um executivo que, enquanto brincava de Lego com seu filho, teve uma ideia inovadora para resolver um problema no trabalho que sua equipe de engenharia enfrentava há semanas. Estar presente com o filho abriu espaço mental para que ele pudesse pensar de forma criativa: quanto mais aceitamos e nos integramos ao papel de pais, mais livres nos tornamos para exercer outros papéis de forma plena.
O que acontece quando você está com seu filho, mas não está?
Crianças vivem no presente. Elas sentem a urgência de ter seus pais junto a elas, inteiros, nesse lugar. Elas não aceitam pais pela metade. Querem sua integralidade, e esse é o presente que podemos nos dar também quando estamos com eles. Uma criança que não tem essa necessidade de conexão atendida busca isso de outras formas: interrompendo, brigando, chamando atenção de maneiras que parecem inadequadas. Não é porque elas querem incomodar, mas porque estão em busca de uma conexão humana genuína. E, se não a encontrarem, vão continuar tentando, mesmo que de forma desafiadora.
A distração digital e o desafio da conexão humana
Nosso maior desafio atual é a falta de conexão humana em meio ao excesso de conexão digital. Estamos constantemente plugados a celulares, computadores e relógios inteligentes, mas desconectados de quem está à nossa volta. Estamos intoxicados e distraídos, e não conseguimos nos conectar nem com objetos, muito menos com outras pessoas.
Uma provocação que faço em meus eventos é imaginar que cada dispositivo tem uma entrada de conexão e, ao estar plugado em um, você não consegue se conectar a outro. Assim somos nós também. Precisamos aprender a nos desconectar para nos reconectar.
Descubra a “senha do Wi-Fi” dos seus filhos
Quando entramos em um estabelecimento, muitas vezes a primeira pergunta que fazemos é: “Qual é a senha do Wi-Fi?”. Estamos todos buscando conexão. Mas e se dedicássemos parte do nosso dia para encontrar a senha de conexão com nossos filhos? Assim como precisamos de uma senha para nos conectar ao Wi-Fi, precisamos descobrir a “senha” para nos conectar com nossos filhos. E essa senha é a presença, a atenção plena, a linguagem única de cada filho.
Como priorizar a conexão na rotina
No entanto, com as agendas cheias e a pressão do trabalho, encontrar momentos para se conectar com os filhos pode parecer desafiador. Aqui, estão algumas dicas práticas:
- Crie rituais diários: um café da manhã juntos, uma história antes de dormir ou uma caminhada rápida ao final do dia. O importante é que esses momentos sejam previsíveis e dedicados, tanto para você quanto para seus filhos.
- Seja verdadeiramente presente: quando estiver com seus filhos, esteja por completo. Desligue o celular, ouça suas histórias, olhe nos olhos. A presença verdadeira fortalece os laços e reduz a busca por atenção.
- Pequenos momentos contam: não precisamos de grandes gestos. Pequenas interações diárias, como uma conversa no carro ou enquanto preparamos o jantar, são poderosas quando damos nossa total atenção.
- Crie zonas de modo-avião: estabeleça momentos sem celular, sem internet e sem distrações. Invista na qualidade do tempo presente, inteiro e intencional.
- Descubra a senha do seu filho: observe e descubra as formas de conexão que fazem seu filho se sentir verdadeiramente visto e amado. E essa senha é a presença, a atenção plena, a linguagem única de cada filho.
No final das contas, a produtividade não se resume a fazer mais em menos tempo. Ela está profundamente ligada ao bem-estar, à clareza mental e à nossa capacidade de estar presente. Quando nos conectamos verdadeiramente com nossos filhos, criamos um círculo virtuoso: eles se sentem seguros e amados, e nós nos sentimos mais energizados e focados. Isso nos permite enfrentar os desafios do trabalho com mais criatividade e leveza.
Então, da próxima vez que você se sentir dividido entre trabalho e família, lembre-se: conectar-se com seus filhos não é uma distração, mas um investimento poderoso em sua produtividade e, mais importante, em seu bem-estar. Conexão é o caminho para sermos inteiros – em todas as áreas da nossa vida.