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Clara Cecchini

Especialista em aprendizagem organizacional e inovação, e fundadora do Centro Brasileiro de Design de Aprendizagem.
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Aprendizagem e(é) inconformismo

Precisamos aprender de forma generalista, criativa e até meio doida. Conheça três novos conceitos para construir nosso futuro no trabalho sem nos conformar com o que já existia.

Por Clara Cecchini
3 out 2024, 12h00
A imagem mostra uma pessoa escrevendo em uma folha de papel com um pincel, em uma sala de aula. Na mesa, há garrafas de tinta, pincéis e jornais espalhados. Ao fundo, outra pessoa está desfocada.
 (Leo Okuyama/Unsplash)
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E

u gosto de jargões e frases de efeito. Opa, como assim? Isso lá é jeito de começar uma coluna?

Explico.

Neste espaço, que inauguro com o maior entusiasmo, vou compartilhar descobertas e criações no campo da aprendizagem e do desenvolvimento profissional. Com foco em trazer pistas e dicas para que você aprenda mais e melhor, de forma mais significativa, prazerosa e possível na sua rotina.

E é aí que entra o meu apreço recente por termos de efeito. Neste ano alucinante de 2024, comecei a notar que eles podem nos ajudar a dar sentido ao caos. Criar alguns descansos conceituais para a mente, que ainda não tem categorias para lidar com a tamanha transformação pela qual estamos passando – tecnológica, cultural e de projeto como humanidade.

O problema das palavras marcantes surge quando elas transmitem uma ideia falsa ou quando são tratadas de forma simplista, ficando restritas à primeira camada e sendo repetidas indiscriminadamente. Se bem usadas, elas podem nos ajudar a compartilhar visões e a ler criticamente o contexto em que estamos.

Três termos se tornaram queridinhos nas comunidades que discutem aprendizagem e inovação, e acho que merecem a nossa atenção, antes de rejeitarmos como jargões do momento.

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Geração T (de transição)

Expressão apresentada por Amy Webb no SXSW de 2024, designando todos nós que estamos passando juntos por essa imensa transformação tecnológica e cultural. Isso nos une, independente do nosso ano de nascimento. E ela vai além: diz que nós da Geração T temos muito mais poder sobre nosso futuro do que pensamos.

Generalista Criativo

Outro termo falado no mesmo evento, mas desta vez na palestra do lan Beacraft. Generalista criativo é “alguém que tem expertise em várias áreas, mas, mais importante, tem uma amplitude de interesses, hobbies, experiências e exposição. (…) Assim consegue fazer conexões entre as coisas que domina e as que conhece, orquestrando as ferramentas de IA para fazer acontecer”. Para os generalistas criativos, a mudança constante e automação de parte de suas tarefas não é uma ameaça, mas a natureza dinâmica do trabalho. Algumas habilidades são substituídas, outras são aumentadas.

Mad Skills

Dentre os três, este é o que mais está próximo de se tornar um jargão. Porque a expressão é boa demais mesmo, não acha? Habilidades loucas, extraordinárias. São aquelas que desenvolvemos ao exercer algum hobby, o que significa praticar com consistência alguma atividade não ligada ao trabalho. Este ano, diversas matérias na imprensa noticiaram que essas habilidades são diferenciais na hora de competir por uma vaga. Só dar um Google para ver.

Gente que não se conforma

São três ideias relacionadas, mas não iguais. Uma contempla a dimensão sistêmica, outra é mais focada na forma de trabalhar e a terceira no desenvolvimento de habilidades. O que elas têm em comum? Um chamado para uma mudança de atitude: o inconformismo perante o mundo, o trabalho e o aprendizado.

Entender essa essência não é nada trivial, mas é o que nos fará conseguir navegar neste momento de mudança de forma genuína e sustentável. É o que fará possível que uma outra linda frase de efeito se torne vida real: a aprendizagem como construtora de futuros.

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Salvo pouquíssimas exceções, nós da Geração T somos fruto de um sistema educacional em que aprender era se conformar. Entrar na fôrma. Minha geração e as próximas a ela são as dos cursos apostilados, treinos em múltipla escolha, busca da caneta certa para preencher, sem borrar!, o quadradinho do gabarito. A questão não é a disciplina (que “é liberdade”, para a minha geração), mas o fato de que toda a energia do nosso aprendizado estava colocada em acertar algo que alguém já sabia o que era, mas não te contava.

Vamos sofrer tentando, se não mudarmos o entendimento sobre o que é aprender

E agora, no mundo do trabalho, dizem que precisamos aprender para construir nosso futuro, de forma generalista, criativa e até meio doida! Vamos sofrer tentando, se não mudarmos o entendimento sobre o que é aprender. Essa mudança na forma de ver o aprendizado precisa acompanhar a mudança, muito mais falada, na forma de ver o trabalho.

Se com as máquinas inteligentes seremos dispensados das tarefas repetitivas e nos concentraremos cada vez mais no que é humano, também precisaremos de uma visão sobre a aprendizagem que não esteja baseada na precisão, na repetição, na imparcialidade, na frieza, no fazer mais com menos – características nas quais as máquinas ganham de nós.

É a hora de entendermos a aprendizagem como indissociável da inovação e da criatividade, com compromisso de transformação de contexto a partir de valores claros. Sim, e principalmente aquela que acontece nas empresas e que tem foco em benefícios para os negócios.

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Precisaremos de uma visão sobre a aprendizagem que não esteja baseada na precisão, na repetição, na imparcialidade, na frieza, no fazer mais com menos – características nas quais as máquinas ganham de nós

Você aprende mesmo sem perceber

Quando você não se conforma com como um processo é realizado desde sempre e realiza uma mudança, é aprendizado. Quando você não se conforma com a maneira como alguém trata uma pessoa e atua para mudar a situação, é aprendizado. Quando você não se conforma e chama um grupo de pessoas para resolverem juntas um problema complexo e inesperado, é aprendizado. Quando você não se conforma com o problema do cliente e faz de tudo para solucionar, é aprendizado. Quando você não se conforma com a dificuldade de alguém e pausa o que está fazendo para ajudar essa pessoa, é aprendizado.

Desde que você tenha as lentes apropriadas para ver assim: são aprendizados emergentes, não projetados, mas oportunidades concretas de aprender no dia a dia.

E digo mais! Esse inconformismo, a busca por construir e fazer diferente, é também o que dá sentido ao aprendizado planejado, ao estudo em sala de aula, à leitura. Com quem eu vou compartilhar? O que vou fazer com isso? O inconformismo é que dá sentido ao aprendizado no trabalho, seja ele individual, social ou organizacional. Um aprendizado vivo, que energiza a si mesmo e ocupa mais a mais espaços. Que se encaixa em nosso dia a dia por ser parte intrínseca dele. Que não vai ser perfeito, porque não tem gabarito.

Pensa na sua rotina, agora. Com o que você não se conforma? Corre lá para aprender!

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