A objetividade dos millennials
Diante de um problema, quem nasceu diante da internet não se apega a fórmulas: busca a solução mais rápida e eficiente possível. Isso é um trunfo que já está revolucionando nosso modo de vida – a começar pela medicina.
Neste ano, os millennials deverão ocupar metade das posições no mercado de trabalho dos EUA. No Brasil, a situação é diferente: no terceiro trimestre de 2020, esse grupo correspondia a 26% da população em idade de trabalhar, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE.
Os millennials serão cada vez mais um grupo expressivo e, dentro deste panorama, é preciso entender como fica o cenário atual do setor da saúde – que é responsável por grande parte da empregabilidade (no Brasil, emprega 4,5 milhões de pessoas nas áreas pública e privada, com empregos diretos e indiretos). Estamos discutindo a telemedicina dedicada a esta geração e às demais imaginando regulá-la com foco nos desejos da geração X ou dos baby-boomers (os pais e os avós da geração Y, respectivamente)?
A definição mais comumente aceita sobre a idade dos millennials os coloca como nascidos entre 1982 e 1994. É consenso que a tecnologia faz parte inerente de seu dia a dia: “on” e “off” estão totalmente integrados às suas vidas. Todas as suas atividades passam por uma tela – ou a ampla maioria delas, ao menos.
Mas eles não nasceram na era digital: quando chegaram, o mundo passava pela transição do analógico para o digital, e eles viveram essa mudança. Isso certamente influenciou uma das características mais marcantes dessa geração: o inconformismo com o que está posto e a disposição para influenciar e fazer a diferença.
Ao contrário de seus pais, da geração X, os millennials não se conformam com o seu entorno e são ambiciosos para atingir suas metas. Nada mais incompatível com isso do que os sistemas de saúde de hoje, com longas filas e a passividade que nada resolve. Os millennials não aceitam sistemas assim, seja na saúde ou em qualquer área.
Esses traços de personalidade levaram a geração Y a ter alguns rótulos incômodos: narcisista, mimada, preguiçosa. Em 2013, a revista norte-americana Time dedicou-lhes uma capa, chamando-os de “The Me Me Me Generation” (ou a geração do “Eu Eu Eu”).
Esses rótulos marcariam a diferença em relação à geração dos pais, na qual trabalhar e produzir era uma filosofia de vida. Definitivamente nada disso se enquadra no modo de a geração Y ver o mundo – e menos ainda no caso dos Zoomers, ou geração Z.
Então ficam as perguntas: para quem estamos trabalhando? E quem irá consumir a medicina? São pessoas altamente envolvidas com o mundo digital, consumistas, com baixa tolerância à espera e que, diante da passividade atual, preferem correr riscos – minimizáveis pela inteligência artificial e que patrocina automações de processos.
Para estas pessoas não existe primeira ou segunda consulta, proximidade ou distância. O que elas esperam é resolutividade: diante de um problema, o que se pode fazer para solucioná-lo com o máximo de eficiência no menor prazo possível? Aí é que se insere o mundo digital da saúde – para o qual inclusive estamos lamentavelmente atrasados.
A geração Y tem conhecimento e vontade de trazer para o atendimento médico novas práticas mais afeitas ao século 21. Atualmente, são necessárias pessoas com as habilidades requeridas para tornar a jornada do paciente cada vez mais digital – profissionais capazes de lidar com big data, machine learning, data-driven e outros, que compõem o idioma no qual essa geração é fluente.
Profissões como especialistas em cloud computing e data science, desenvolvedores, engenheiros de software estão inseridas no contexto da saúde voltadas às exigências das novas gerações, para quem os métodos analógicos no futuro próximo serão apenas relíquias. Os médicos já estão entrando nesse universo. Afinal, isso terá aplicação direta na prática da medicina, tanto em procedimentos como no uso das informações do paciente.
A pandemia causou um forte impacto em escala global. Mas, na área da saúde, ajudou a acelerar a realidade digital. E a geração Y está bem posicionada para começar a conduzir os modos de se praticar a medicina para o futuro.