Bradespar (BRAP4) e Itaúsa (ITSA4): vale a pena investir via holdings?
Entenda por que esses papéis tem um desconto em relação às ações normais.
Para começar, é importante definir o termo. Holding é uma empresa que controla outras empresas. Pense na Ultrapar. Ela existe para administrar três companhias: Ultragaz, Ultracargo e postos Ipiranga. Nenhuma dessas tem ações na bolsa. Se você quiser ser sócio da Ipiranga, vai ter de comprar Ultrapar (UGPA3), e ficar exposto também à performance da Ultragaz e da Ultracargo. Normal.
Estamos falando aqui de outro tipo de holding: empresas com ações na bolsa mas que detêm grandes participações em companhias de capital aberto – e cujo fluxo de caixa depende dos dividendos que essas empresas geram.
O caso mais emblemático é o da Bradespar (BRAP4). Tudo o que ela faz da vida é deter 3,79% das ações da Vale (VALE3). Trata-se de um naco maior do que parece: a maior acionista da mineradora é a Previ, com 8,71%.
Mas fica o dilema lógico. Se todo o dinheiro que entra na Bradespar vem de dividendos da Vale, por que há quem compre BRAP4 em vez de pegar VALE3 de uma vez?
Porque existe um desbalanço no mercado de capitais. Ações de holdings tendem a embutir um “desconto” em relação aos papéis normais. O caso da Bradespar ajuda a entender direitinho.
O valor de mercado daqueles 3,79% da Vale que ela possui era de R$ 11,2 bilhões ao final de outubro de 2023. Já o preço somado de todas as ações da Bradespar era de apenas R$ 8,5 bilhões. Ou seja: se você comprasse a Bradespar inteira, ficaria com 163 milhões de ações da Vale (os 3,79%) por um valor 25% abaixo do de mercado.
E isso também conta para quem adquirir uma única ação da Bradespar, claro. Fazer isso significa comprar Vale com 25% de desconto. Ponto.
É assim porque holdings têm custos administrativos. E também porque elas embutem certos riscos. Se a holding não quiser repassar aos acionistas tudo o que recebeu em dividendos, não repassa. Também tem a questão de ser uma empresa apoiada em outra. Um acionista da Vale corre o risco de a mineradora ter algum problema jurídico e se ver obrigada a pagar uma multa milionária. Um acionista com BRAP4 na carteira carrega esse risco mais o de a própria Bradespar se ver diante de algum problema. Dupla exposição.
Considera-se normal, então, um desconto de holding próximo a 20% – em qualquer companhia do tipo. Mas, como o mercado não é uma entidade racional, essa porcentagem muda o tempo todo. Quanto maior ela for, mais barata está a ação. O da Bradespar mesmo flutuou de 18% a 31% desde 2017 (levando em conta médias anuais – no dia a dia a volatilidade é ainda maior). O RI da Bradespar publica um boletim periodicamente para mostrar a quantas anda o desconto – todas as holdings fazem isso.
O desconto não é só uma abstração, claro. Ele materializa-se na hora dos dividendos. Como você paga menos por ação ao investir via holding, a tendência é receber mais por real investido.
Em 2022, por exemplo, quem colocou R$ 10 mil em VALE3 no início do ano recebeu R$ 728 em proventos. Um dividend yield de 7,28%. Quem pôs R$ 10 mil em BRAP4 amealhou mais: R$ 1.038. Yield de 10,38%.
É por essas que há quem prefira virar acionista da Vale através de Bradespar, em vez de ir direto na fonte.
Itaúsa (ITSA4)
Mais um caso emblemático de holding é o da Itaúsa (ITSA4). Ela é a dona de 37% do Itaú (ITUB4), e a taxa de desconto no final de outubro estava em 22%.
O patrimônio da Itaúsa não é 100% Itaú. Ela também tem ações da Alpargatas (ALPA4), da CCR (CCRO3), da Dexco (DXCO3) e da XP (XPBR31), além de participações societárias em três companhias de capital fechado: Aegea, de saneamento, Copa, de distribuição de GLP, e NTS, de gasodutos.
Todas essas outras, porém, respondem por apenas 9,5% do patrimônio da holding. Os outros 90,5% estão em papéis do Itaú mesmo. Então o mais justo é comparar os dividendos da Itaúsa com os do banco que ela controla. E o que temos é: em 2022, o dividend yield de ITSA4 ficou em 16,4% (em relação ao preço do papel para quem comprou no começo do ano). Para o mesmo período, ITUB4 entregou apenas 3,7%.
Bom, outras holdings de grande porte da B3 são a Cosan (CSAN3) e a Metalúrgica Gerdau (GOAU4).
A primeira é dona da Raízen (RAIZ4), da Rumo Logística (RAIL3), e de mais duas empresas de capital fechado – Moove, de lubrificantes, e Compass, de gás natural. Tudo isso mais 4,9% da Vale. Seu desconto de holding está em 46%.
Já a Metalúrgica Gerdau é como a Bradespar: holding de uma empresa só – a própria Gerdau (GGBR4). O desconto ali é de 23%.