Existe um “tesouro direto” para comprar títulos do governo americano?
Sim, e é um boa opção para quem quer ter uma poupança atrelada ao dólar. Mas só dá para investir neles daqui do Brasil de forma indireta. Veja como.
Existe e se chama justamente Treasury Direct. Mas você só pode usar se tiver um Social Security Number, o “CPF” deles. Mas dá para comprar de forma indireta. Antes de ver como, vamos comparar os títulos públicos americanos aos nossos.
O título brasileiro que melhor une rentabilidade e segurança é o IPCA+, que paga a inflação mais um tanto de juros anuais na data de vencimento, que pode ser daqui a 5, 10, 30 anos (só para lembrar: se você tiver de vender antes do vencimento, pode perder dinheiro, já que o preço que o mercado paga muda todo dia). Bom, hoje esse extra está na casa de 5%. Se a média de inflação ficar em 5% também, você ganha 10% a.a. Beleza.
Nos EUA, não. O “IPCA+” deles é, na verdade, um “IPCA menos”. O nome é TIPS (Títulos do Tesouro Protegidos Contra a Inflação, em inglês). Neste momento ele paga a inflação menos 1% a.a. Se a inflação média deles ficar em 5%, você ganha 4%. Fuén.
É que o mercado de renda fixa dos EUA não está acostumado a lidar com inflação. Os títulos públicos mais populares por lá são os prefixados: os Treasury Bills (vencimento em um ano ou menos), os Treasury Notes (em até 10 anos) e os Treasury Bonds (20 a 30 anos). Aqueles com mais demanda são os Treasury Notes de 10 anos. Hoje, estão pagando 1,7% a.a. Dá bem menos que a inflação americana deste momento (7% a.a., a maior em 40 anos).
Mesmo assim, esses títulos têm público, já que a demanda pela renda fixa em dólar é tremenda. Nisso eles podem se dar ao luxo de pagar abaixo da inflação. E os TIPS, de pagar juros negativos – pois acabam rendendo mais que os Treasuries mesmo assim. Caso a inflação volte ao normal deles (tipo 2%), os TIPS e os Treasuries voltam a oferecer algum ganho real. Em 2018, por exemplo, os Treasuries de 10 anos renderam 2,9%, contra uma inflação de 1,9%.
Enfim: a forma de investir nesses títulos a partir daqui é comprando ETFs – fundos negociados em bolsa que aplicam nesses papéis. Há risco de perda, já que você fica refém do preço de mercado dos títulos (se eles caírem, o valor da sua cota no ETF cai junto).
Para todos os efeitos, comprar ETFs de títulos públicos americanos equivale a comprar dólar. Os juros são mínimos, mas você passa a ter uma poupança em dólar.
Um jeito de adquirir esses ETFs (veja o nome de alguns deles abaixo) é abrindo uma conta numa corretora que opere nos EUA (a mais conhecida no Brasil é a Avenue, que atende em português).
Mas também dá para comprar direto pelo home broker das corretoras convencionais, via BDR (os recibos de ativos gringos negociáveis por aqui).Nesse caso, você faz a aplicação em reais mesmo, e o saldo vai acompanhando a variação da moeda americana.
Veja aqui os códigos de alguns BDRs desses ETFs na B3.