Qual foi a maior deflação da história?
Foi a Grande Depressão: com todo mundo desesperado por poupar, o quilo de alguns insumos, como algodão e borracha, caiu mais de 60%.
Um mundo onde os preços baixam o tempo todo parece o paraíso. Mas é o inferno. Se você tem uma loja de roupas, mais hora menos hora se vê obrigado a vender por menos do que pagou pelas peças. Quando você vai repor o estoque, até paga mais barato para os fornecedores, já que o cenário é de inflação negativa para todo mundo. Só que depois você precisa reduzir mais ainda para conseguir clientes – já que a concorrência toda está baixando os preços. E tome mais um mês de prejuízo. Chega uma hora em que não vale mais a pena manter o negócio.
Parece uma fábula, mas foi basicamente o que aconteceu nos EUA da Grande Depressão. Entre 1930 e 1933, o país passou por uma deflação acumulada de 24%. Isso na média. Certos itens desabaram bem mais – destruindo alguns setores da economia. O quilo do algodão, por exemplo, caiu 60%. O da borracha, 90% – o tombo foi um dos motivos para Henry Ford ter desistido da Fordlândia, o complexo de extração de borracha criado na Amazônia em 1928 e abandonado em 1934.
Deflação, enfim, é algo bom quando vem na sequência de uma inflação pesada, que foi o que rolou no Brasil no terceiro trimestre de 2022. Ela corrige distorções. Mas quando a queda nos preços se torna crônica, danou-se. A moeda valoriza, já que o poder de compra dela sobe ano após ano. Mas cada vez menos gente tem acesso ao dinheiro. O mercado consumidor definha. Sem ter para quem vender, as empresas vão quebrando em cascata. Na Grande Depressão, o PIB dos EUA caiu 25%, e o desemprego foi a 25% (não ligue para a semelhança entre os números, é só coincidência mesmo).
Deflações crônicas são raras porque precisam de um fenômeno pouco usual por trás. Nos EUA, o público tinha perdido a confiança nos bancos (após a crise de 1929). Então boa parte dos americanos trocou seus dólares por ouro e entesourou em casa. Com menos moeda circulando, a economia definhou – em meio a uma deflação constante.
O último surto deflacionário aconteceu no Japão. Entre 1999 e 2013, os preços por lá caíram em média 0,25% ao ano. Nesse meio tempo, a economia ficou estagnada, com o PIB crescendo a pífios 0,70% na média anual. Motivo: uma bolha especulativa (envolvendo ações e imóveis) estourou nos anos 1990, e a população tornou-se maníaca por poupar. Algo parecido com o que tinha rolado nos EUA lá atrás, mas numa proporção mais suave.