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Luciana Camargo

Diretora estratégica da Associação Brasileira de RH (ABRH-SP). Escreve sobre carreiras, liderança, diversidade e inclusão e desenvolvimento pessoal

A sutil arte de fechar ciclos

Fechar ciclos é um ato libertador, que permite deixar para trás experiências intensas e opções de vida que já cumpriram seu propósito. Não tem a ver com pular fora, mas com colocar um ponto final em histórias muitas vezes de sucesso, reconhecimento pleno, envolvimento absoluto. Simplesmente, porque chegou a hora. E ela chega.

Por Luciana Camargo
22 fev 2024, 06h00
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 (Chris Ryan/Getty Images)
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A

nossa vida é marcada por ciclos. Começamos a experimentá-los desde a infância, quando mudamos de escola, de casa, de cidade, de amigos e, posteriormente, de empregos, cargos, tempos, espaços. Até mesmo as celebrações de aniversários e ano novo simbolizam fechamentos e recomeço de novos ciclos.

Embora se sucedam, passar pelos ciclos não é algo que se possa fazer no modo automático. Requer uma jornada de autoconhecimento, pois em última instância estamos repensando nossas próprias vidas. Por isso, uma jornada de fechamento de ciclo requer que olhemos para dentro e ao que se passa em nosso entorno. Este é o ponto de partida, no qual a atenção ao que sentimos e percebemos se torna essencial.

O autoconhecimento amplia nossa sensibilidade para perceber os sinais ao nosso redor, e nos ajuda a tomar decisões alinhadas aos nossos valores, motivações, o que almejamos para sermos mais felizes. Este processo, às vezes, é longo e demanda tempo para entender o que realmente queremos – e, principalmente, do que estamos dispostos a abrir mão. Talvez seja por isso que, muitas vezes, protelamos decisões importantes. Todas as escolhas implicam em perdas. Mas, chega o momento de fazê-las e… saltamos.

Fechar ciclos é um ato libertador, que permite deixar para trás experiências intensas e opções de vida que já cumpriram seu propósito. Não tem a ver com pular fora, mas com colocar um ponto final em histórias muitas vezes de sucesso, reconhecimento pleno, envolvimento absoluto. Simplesmente, porque chegou a hora. E ela chega.

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Compartilho minha própria experiência ao encerrar um ciclo de 30 anos em uma empresa incrível, que me ensinou e proporcionou tudo aprendi, realizei e conquistei pessoalmente e profissionalmente. Ali iniciei minha carreira como estagiária de engenharia, vivi as mais diversas experiências profissionais nacionais e internacionais que, sem dúvida, contribuíram para moldar a profissional que sou hoje.

Tenho certeza de que as posições que ocupei, aquilo que vivi seria o sonho de carreira para muita gente – que, hoje, pode estar pensando no que me levou a tomar essa surpreendente decisão. E, não, a razão não foi uma nova proposta profissional, um drama familiar ou qualquer razão intempestiva, e sim uma reflexão que foi se consolidando e frutificando ao longo do tempo. Parto saltando para um futuro que ainda não conheço.

Tenho consciência e orgulho de ter sido afortunada pelas experiências, oportunidades e aprendizados que tive. Há algum tempo passei a refletir o momento de fechar e abrir um novo ciclo em minha vida. Não é um processo fácil e linear, e como tenho feito há alguns anos, quando comecei a assinar essa coluna, quero compartilhar também este momento, que é um tanto íntimo. Aqui, algumas reflexões que aprendi neste processo.

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  1. Saber se escutar: fechar um ciclo oferece a oportunidade de refletir sobre as experiências vividas, identificar lições aprendidas e delinear um futuro aberto ao aprendizado e autoconhecimento.
  2. Entender o contexto e ouvir os sinais: estar atento aos sinais ao seu redor é crucial para tomar decisões informadas. Compreender o contexto e os impactos sobre ficar ou seguir em frente é fundamental para escolhas congruentes com seus objetivos e valores.
  3. Entender quem somos: Temos múltiplas faces, e que bom, não é mesmo? E nesta reflexão sobre nossas identidades como profissionais, pais, filhos, amigos, parceiros afetivos, concluímos que nossa felicidade depende de equilíbrio e realização em cada uma destas vertentes.
  4. Cuidar da saúde física e mental: a saúde física e emocional é a base para uma vida equilibrada. Hoje, penso quantas vezes adiei férias, médicos, dentistas, cancelei treinos, comi rápido ou mesmo pulei refeições, sem pensar no impacto que isso me traria mais adiante. Não podemos adiar nossa saúde, pois nossa vida é hoje.
  5. Definir novos objetivos: fechar ciclos permite que você reavalie seus objetivos e defina novas metas alinhadas com suas aspirações atuais, lembrando que toda escolha implica em renúncia. É difícil abandonar o que também é bom, o que lhe fez bem e feliz por tantos anos. Vamos perder algumas coisas e ganhar outras, e assim é a vida.
  6. Adaptar-se às demandas: por fim, encerrar ciclos prepara você para se adaptar a essas mudanças, aceitando que é tempo de abraçar o novo e priorizar o que antes ficou em segundo plano, ajustando a vida às novas circunstâncias.

Ao abraçar a arte de fechar ciclos, permitimos não apenas a liberação do passado, mas também a abertura para novos começos. A certeza não reside na promessa de um futuro melhor, mas sim na compreensão de que cada decisão molda nosso destino, e o que se desenrolará dependerá inteiramente de nossas escolhas. Assim, o mundo é o limite. Um dos maiores presentes será me apropriar do meu tempo, e dedicar tempo e energia para todos os papéis da minha vida, afinal, a vida é uma só.

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