A necessidade da pausa em meio a corrida
Pesquisadores descobriram que as pessoas preferem levar um choque em vez de tirar 15 minutos só para refletir, sem distrações.
Foram dias de festa, jogos e comemorações. Os jogos olímpicos acabaram (e os paralímpicos terminam no dia 5 de setembro), mas a euforia do esporte e das grandes conquistas brasileiras continuam a nos contaminar. Uma injeção de ânimo a mais — fora aquela outra injeção que, paulatinamente, os brasileiros estão tomando!
Aos poucos, no entanto, a vida vai voltando a sua programação normal — o sono submetido àquele fuso horário agradece — e tudo se acalma. Às vezes, fica tão calmo que o entorno parece até mais silencioso do que antes, meio “parado”. Nesse momento, como você se sente?
Bem, a maior parte dos participantes de algumas pesquisas conduzidas pela Universidade da Virgínia, nos Estados Unidos, confessou não gostar nem um pouco de ficar nessa calmaria, sozinhos com os próprios pensamentos.
Essa série de 11 estudos feitos em parceria com a Universidade de Harvard mostrou que pessoas de diferentes faixas etárias demonstravam grande desconforto em estar só, sem nada para fazer a não ser pensar. Detalhe: o período de tempo proposto pelos pesquisadores variava entre seis e 15 minutos, ou seja, não era exatamente um retiro com voto de silêncio por alguns dias.
E sabe o que é mais surpreendente ainda? Quando perguntados se preferiam ficar sozinhos sem qualquer distração ou se preferiam administrar em si mesmos um leve choque elétrico, 67% dos homens apertaram um botão para dar esse pequeno choque e 25% das mulheres.
Diante desse resultado, é fácil pensar que a culpa é do ritmo atual da vida moderna ou do vício no celular, nas redes sociais, nas relações hiperconectadas. Só que, na verdade, a análise feita pelos pesquisadores é de que a tecnologia pode ser uma resposta ao desejo contemporâneo das pessoas de sempre ter algo para se distrair.
Será que, por isso, quando um evento grande como o das Olímpiadas acaba, ficamos meio borocoxô, sem saber o que fazer? Será que é também por isso que, muitas vezes, conduzimos a nossa carreira em um ritmo frenético, buscando uma promoção atrás da outra, uma superação de meta atrás da outra, um diploma ou certificado atrás do outro, sem refletir muito sobre o que estamos fazendo? Ou ainda: sem refletir se aquilo no que estamos atuando continua fazendo sentido para a nossa vida?
Não me leve a mal, o problema não são as promoções, as metas ou os estudos contínuos. Pelo contrário, tudo isso é importante e nos ajuda a manter esse processo de desenvolvimento. A minha reflexão tem a ver com o que nos leva a percorrer essa jornada. Estamos em movimento constante motivados pelo autoconhecimento e autodesenvolvimento ou por simplesmente não conseguirmos parar um minuto — ou, no caso da pesquisa, 15?
Ainda que seja importante investirmos no nosso conhecimento, ainda que não exista um profissional 100% completo, sem qualquer competência e habilidade a ser aprimorada, a corrida em busca da transformação humana não deveria ser desenfreada. Ser capaz de estar só com os seus próprios pensamentos, reconhecê-los e refletir sobre eles é parte fundamental do processo de autoconhecimento. E não existe autoconhecimento sem momentos de introspecção, silêncio e calmaria.
Na correria do dia a dia, é fácil nos perdermos nas listas de tarefas do trabalho, do estudo e da casa. Da mesma forma, na jornada da vida, também acabamos entrando na corrida contra o tempo para conquistar um emprego, crescer na carreira, avançar nos estudos, investir em especializações, ganhar mais dinheiro, conhecer o mundo, comprar uma casa, depois outra melhor, ampliar a família e por aí vai. Conduzidos por esse ritmo acelerado, ficamos desacostumados a parar e pensar: afinal, como cheguei até aqui? Por que escolhi esse caminho? É por essa rota que gostaria de continuar? E se eu mudar o rumo?
Às vezes, pode ser essa agitação cotidiana que nos impede de reservar um tempo para os nossos pensamentos; porém, outras vezes, pode ser que, assim como os participantes da série de pesquisas, o desconforto de pensar nos impeça de fazer justamente isso. O medo de parar, refletir e se descobrir em meio a tantas dúvidas, tantas perguntas, tantas possibilidades faz com que a gente viva no piloto automático.
Curtir a euforia dos jogos neste período ainda difícil que vivemos é importante e tem seu valor. Vamos celebrar! Mas, depois da festa ou depois de períodos intensos de um projeto de trabalho ou qualquer outro feito no qual você tenha investido grande energia, pare. Pare, pense e reflita, por mais que o seu instinto seja buscar a próxima fonte de adrenalina. A solitude pode fazer muito pela sua carreira!