Anotar e ler mais no papel – e menos no celular e PC – pode ajudar sua carreira
A mecânica das redes sociais acabou com nossa capacidade de concentração. Retomar hábitos analógicos, na medida do possível, combate esse problema.
Em pleno 2023, ninguém vai simplesmente jogar fora o celular, o notebook, o tablet, enfim, qualquer aparelho com uma tela. E nem deveria, pois eles são parte integrante do nosso dia. Contudo, faz bem para a vista e para o seu desenvolvimento profissional variar de plataforma de vez em quando e gastar alguns minutos em um formato, digamos, mais analógico: o papel — lembra dele?
Não se preocupe, não vou começar a falar sobre os “bons tempos” em que as pessoas valorizavam mais a folha impressa, o cheiro de um livro novo… Não é um artigo saudosista — apesar de eu ser o tipo de pessoa que gosta de passar as páginas com os dedos.
A proposta, na verdade, tem a ver com o resgate de algo que nós fomos perdendo nos últimos tempos: o foco.
Você deve ter reparado que, quando está trabalhando em frente ao computador, costuma ficar “pulando” de aba em aba. Abre uma, vai para outra, fecha aquela… No meio desse vaivém, você ainda dá uma checada no celular, nas redes sociais, no WhatsApp, no e-mail corporativo e tudo o que estiver com a notificação apitando.
Cada hora a atenção está em um lugar e, segundo a pesquisadora Gloria Mark, cada vez menos o nosso foco fica em uma única coisa.
A professora da Universidade da Califórnia fez um experimento para medir quanto tempo as pessoas se concentravam em uma mesma atividade e, em 2004, quando fez esse teste pela primeira vez, a média foi de dois minutos e meio.
Usando um cronômetro, ela anotou cada vez que as pessoas trocavam de tarefa em seus computadores, passando de uma planilha para um e-mail, para um site, para outro site diferente e de volta para a planilha. E, em 2012, quando repetiu o teste, esse tempo foi de 75 segundos!
Mais do que um novo padrão de comportamento, a baixa capacidade de focar pode ser um problema para a carreira. Claro que, aqui, não estou me referindo a quem tem um diagnóstico de Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), cujas causas são outras com tratamentos especializados para os diferentes graus da condição.
Estou me referindo ao impacto dos hábitos digitais na nossa capacidade de concentração.
O resultado disso é que se torna cada vez mais difícil sentar e escrever um relatório para o trabalho. Ou estudar para uma prova. Ou escutar uma palestra. Tentamos finalizar o paper, aprender o conteúdo da faculdade, ampliar o conhecimento em um congresso, mas, é impressionante, a mão chega a coçar para pegar o celular e dar só uma espiadinha.
Não me leve a mal, o problema nem de longe são as telas, mas, sim, o nosso comportamento que parece condicionado a elas. Uma coisa é escolher fazer uma pausa no trabalho ou estudo para relaxar no TikTok, outra muito diferente é simplesmente não conseguir deixar de fazer isso.
E é aí que entra a questão do papel ajudando o seu desenvolvimento profissional.
De acordo com outra professora da Universidade da Califórnia, Maryanne Wolf, adquirir o hábito diário de ler no papel por pelo menos 20 minutos pode ajudar a combater nossa distração, além de desenvolver processos mentais mais sofisticados, como o de análise crítica, dedução e empatia. Atributos que são muito importantes para a vida profissional e pessoal.
O que acontece, segundo a especialista, é que nosso cérebro costuma ler materiais impressos mais lentamente, diferentemente das telas que foram projetadas para uma leitura rápida, com páginas que são atualizadas constantemente, recursos como scroll e por aí vai.
E, claro, isso é importante muitas vezes, agiliza a busca por informações. Contudo, volto naquele ponto: alternamos nossa atenção por escolha ou por não saber fazer diferente?
Para desenvolver o seu potencial profissional, é importante se fazer esta e outras perguntas: o quanto o seu foco está no lugar certo ou o quanto ele vive oscilando de um ponto para o outro? Como você se sente quando precisa se concentrar em algo? É fácil ou é um sofrimento? O quanto você consegue mergulhar em alguma tarefa e sentir prazer em se dedicar a ela por um tempo?
Aproveite o começo de 2023 e todo aquele espírito de “ano novo, vida nova” para pensar sobre quais hábitos podem ajudar a focar na carreira. Quem sabe você não descobre alguma dessas respostas passando as páginas de um bom livro?