Indicadores de bem-estar no trabalho pioraram de 2019 para cá
A 21ª edição da pesquisa "Carreira dos Sonhos" revela que ansiedade, exaustão e sobrecarga aumentaram para todos, dos jovens aos altos gestores.
O bem-estar é o aspecto mais valorizado pelas pessoas dentro de uma empresa. Isso é verdade para o grupo mais jovem, para quem ocupa um cargo de média gestão e para quem está na alta liderança.
Só que não é exatamente qualidade de vida e saúde mental que os talentos estão encontrando no ambiente de trabalho…
Na verdade, o que percebemos na 21ª edição da nossa pesquisa “Carreira dos Sonhos” é que existe um desconforto crescente dentro das organizações. E esse cenário se repete em todas as camadas da companhia.
Esses sinais de desconforto aparecem tanto em homens quanto em mulheres — apesar delas serem mais impactadas. 49% das respondentes do sexo feminino disseram que a sensação de exaustão piorou ou piorou muito, versus 40% do sexo masculino.
Apesar do tema da saúde mental estar em pauta há algum tempo e ressurgir com força em momentos como este, do Setembro Amarelo, a conscientização não se traduz numa redução dos sinais de ansiedade, preocupação, cansaço e apatia. Nem mesmo entre as pessoas jovens, que costumam ser mais sonhadoras e esperançosas.
Segundo a pesquisa, esse grupo diz estar frequentemente ansioso (66%), preocupado (73%), cansado (63%) e apático (45%). Em 2019, esses números eram bem menores.
Compartilhei esses dados não para dar um banho de água fria em vocês que leem este artigo e provocar um desânimo geral, mas para que todos nós, juntos, possamos refletir sobre o que está por trás desses números. Se estamos falando há algum tempo sobre saúde mental e se estamos mais conscientes sobre a importância do assunto, por que o diagnóstico é tão ruim?
De acordo com o filósofo coreano Byung-Chul Han — vocês já devem ter ouvido falar no livro Sociedade do cansaço —, nós vivemos em uma sociedade focada no desempenho e em incessante estado de produção. O que pode ter surgido como uma forma de estimular as pessoas em busca da melhor performance, contudo, parece ter saído do controle.
A autocobrança parece ter chegado ao extremo, a um ponto em que o resultado não é mais uma produtividade saudável, mas um esgotamento físico e mental.
Veja bem, o problema aqui não é a produtividade em si. Ela faz parte do mundo do trabalho e é uma preocupação pertinente; a questão é quando ela se transforma em pura obsessão em ser e fazer cada vez mais, mais e mais.
O resultado disso, como os dados no começo deste artigo mostraram, não é mais resultado, mais eficiência, mais inovação. Ao contrário, o saldo final é negativo: menos disposição, menos engajamento, menos senso de pertencimento e, claro, menos saúde (tanto física, quanto mental).
Por isso, mais do que falar sobre os cuidados com o bem-estar, é necessário repensar o modelo de negócio. Será que você está produzindo mais de forma inteligente? A produtividade atual é sustentável ou ela está massacrando as pessoas? As metas são desafiadoras, porém factíveis? Ou elas estão levando todo mundo para o estado de esgotamento total?
Quando os talentos afirmam que o aspecto que mais valorizam em um trabalho é como este afeta seu bem-estar e sua qualidade de vida, isso não é “coisa da geração nova”. Não é um luxo, nem uma frescura. O que as pessoas estão pedindo é um ambiente onde elas possam, sim, encarar desafios e entregar resultados, mas sem ter que pagar um preço alto: o da própria saúde.
Não olhar para essa questão custa muito caro não só para os talentos, mas para a própria empresa.