Letramento emocional: não é só a linguagem da tecnologia que você precisa dominar
Para ter sucesso na carreira, além de saber lidar com os diferentes aparatos digitais, você vai precisar aprender a lidar com um recurso complexo: os seus sentimentos.
Se você nunca ouviu falar no termo “letramento emocional”, voltar alguns anos na sua linha do tempo vai ajudar a entender bem do que se trata tal conceito.
Quando somos crianças de colo, o choro é a nossa única ferramenta para demonstrar desconforto. Ainda não sabemos falar que estamos com fome, por isso, choramos. Não sabemos dizer que aquela pressão incômoda na barriga é cólica, então, choramos. Não conseguimos avisar que sujamos a fralda e, para resolver o problema, choramos.
À medida que vamos crescendo, aprendemos palavras para traduzir o que se passa conosco e criamos uma espécie de “dicionário de emoções”.
Quando, finalmente, chegamos à fase adulta, já somos mestres na arte de dar nome aos nossos sentimentos e nunca mais confundimos, por exemplo, irritação com fome — sabemos que uma boa comida vai recuperar rapidamente o nosso bom humor.
Essa, na verdade, é a nossa expectativa. Esperamos que o passar dos anos aumente não só a nossa idade, mas a nossa maturidade emocional. Porém, a realidade não é exatamente assim.
Saber lidar com os nossos sentimentos, entender quais informações as nossas emoções nos fornecem e explicar o que sentimos para as outras pessoas são exercícios que devem ser praticados durante toda a vida. São exercícios fundamentais também para a nossa carreira.
É disso que estamos falando quando, na edição deste ano da “Carreira dos Sonhos”, pesquisa realizada anualmente pela Cia de Talentos, apontamos o “letramento emocional” como tendência.
Como essa ferramenta pode ajudar?
Letramento emocional diz respeito à capacidade humana de reconhecer, compreender e expressar emoções de forma saudável e construtiva. Definição feita, fica a pergunta: e o que isso tem a ver com a minha carreira?
Muito provavelmente você entende bem a importância dessa habilidade para se relacionar com as pessoas, mas talvez esteja se perguntando qual a utilidade disso especificamente para o seu desenvolvimento profissional, certo?
Eu explico.
O que acontece é que, nos últimos anos, vivemos uma série de crises: crise sanitária, econômica, ambiental, política, educacional e por aí vai. A lista, você deve lembrar, é bem longa.
Diante desse acúmulo de momentos difíceis não só no Brasil, mas no mundo, ganhamos de “brinde” mais uma crise: uma crise interna. E o grupo jovem foi um dos mais impactados com o tal “presente”.
Isso porque, de acordo com a Carreira dos Sonhos, essa camada da população é a que sente sempre ou com maior frequência emoções nada agradáveis: ansiedade, apatia, cansaço e preocupação.
E onde entra o letramento emocional nessa história? A habilidade que expliquei lá no início do texto não é um “antídoto” para tais sentimentos. Não vai funcionar como um “inibidor de emoções” para que ninguém nunca mais sinta ansiedade, apatia, cansaço e preocupação.
O que o letramento emocional nos fornece como ferramenta é a capacidade de, diante de uma crise — ou múltiplas, como vimos nos últimos anos —, sejamos capazes de lidar com os sentimentos que, naturalmente, irão aparecer. E isso é importantíssimo para administrar e, melhor ainda, superar crises.
Afinal, para solucionar um problema, precisamos, antes, identificá-lo. Ou seja, dar nome ao caos interno que todo aquele caos externo nos gera.
Pode parecer simples ou até bobo, mas não menospreze o poder de saber o que se passa dentro de você. Na verdade, é fundamental saber não só identificar e administrar os próprios sentimentos, mas reconhecer e responder adequadamente às emoções das outras pessoas. Dessa forma, você será capaz de estabelecer relações mais significativas, estreitar vínculos, enfrentar desafios de maneira mais equilibrada e se adaptar melhor às mudanças.
Crises vêm e vão, sentimentos e emoções desconfortáveis também. O que vai fazer diferença na nossa jornada é como navegamos por essas ondas.