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Sofia Esteves

Fundadora e presidente do conselho da Cia de Talentos, Co-fundadora do Bettha.com e Presidente do Instituto Ser+
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O que as startups em Israel podem ensinar aos empreendedores brasileiros

Não existe copia e cola: para mudar o cenário de demissões em massa e morte de startups, precisamos encontrar um caminho que condiz com a realidade do Brasil. Mas as boas práticas do exterior podem (e devem) ser uma fonte de ideias.

Por Sofia Esteves
Atualizado em 20 out 2022, 14h21 - Publicado em 20 out 2022, 12h06
-
 (Alexander Spatari/Getty Images)
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Voltei recentemente de uma viagem junto com outros CEOs para Israel, onde pude ver e aprender muito sobre inovação. 

Por lá, a indústria da tecnologia é responsável por 10,4% dos empregos e representa 54% das exportações do país. Aqui no Brasil, por outro lado, as vendas de produtos tecnológicos para o exterior despencaram para menos da metade do que eram vinte anos atrás. 

Lá, existem mais de 6 mil startups, e a taxa de mortalidade desses negócios é uma das mais baixas de todo o mundo — 4% sobrevivem após cinco anos, contra a média global de 2%. No Brasil, cerca de 70% das startups fecham antes mesmo de complementarem 20 meses de funcionamento, segundo a Associação Brasileira de Startups (Abstartups). Além disso, existe uma onda de demissões nesses negócios que tem ganhado destaque nos veículos especializados e nas redes sociais.

Atualmente, Israel possui 92 unicórnios ativos, sendo que 33 alcançaram esse status em 2021. O Brasil soma 22, com dez tendo entrado nessa lista no ano passado.

Se você seguiu a leitura até aqui, deve estar sentindo um incômodo com o que parece um deslumbramento de quando alguém volta de viagem. Aquilo de ficar citando cada coisa que é feita de forma diferente lá fora. 

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Pode até estar se perguntando se o conselho para esse momento difícil que as startups vivem por aqui é um simples: façam as malas e levem seus negócios para o território israelense. A solução é morrer e renascer na chamada “Startup Nation”?

Não — e por vários motivos.  

Mas um dos principais é que se tratam de histórias, culturas e, portanto, realidades completamente diferentes. Uma comparação entre os dois cenários seria não só sem sentido, mas injusta. 

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O exercício durante esse tipo de viagem, na minha opinião, é de reflexão, não de comparação. Acho, sim, que podemos — e devemos — aprender com outros exemplos, mas sempre com o cuidado de não sermos simplistas a ponto de achar que dá para fazer um “copia e cola” de boas práticas. 

Inclusive, algo que me saltou à vista em pouco tempo lá em Israel foram os reflexos nítidos dos traços culturais no trabalho. Os traços de uma educação voltada para a disciplina e para a importância do foco, por exemplo, estão muito presentes nos negócios. Em vez de apostarem em diversas soluções ao mesmo tempo, eles parecem concentrar todo esforço e dedicação em uma — ou poucas — frentes.

O cenário de conflito na região contribui para o constante estado de alerta e para um senso tanto de necessidade quanto de urgência diferentes, que parecem se refletir também na forma de fazer negócios.

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Com isso, não quero dizer que faltam essas características às startups brasileiras, mas destacar, de novo, o quanto o aspecto cultural influencia na forma das empresas atuarem. Para mudar o cenário de demissões em massa e morte de startups, precisamos encontrar um caminho que seja nosso, que tenha a ver com a realidade na qual estamos.

Não se trata de um apelo a um nacionalismo romântico ou fanático. Olhar para fora é fundamental para ampliar nossa visão e conhecimento — do contrário, eu não faria essas viagens. 

A questão, na verdade, tem a ver com algo que aprendi nesses anos de carreira trabalhando com seleção, recrutamento, desenvolvimento, enfim, com processos ligados à gestão de pessoas: benchmark é um exercício de “e se…?”. 

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E se eu incorporasse essa prática na minha startup? E se o meu negócio adotasse tal processo? E se eu testasse aquele modelo? O que será que aconteceria?

No exercício do “e se..?”, o truque está em tentar imaginar o que você visualizou no outro adaptado à sua realidade. Não é um “copia e cola”, não é uma importação de solução mágica, tampouco é um suspiro desanimado de quem se pergunta “e se a minha startup estivesse em Israel?”. Ou no Vale do Silício ou em qualquer outro lugar.

Praticar o “e se…?” requer o equilíbrio de olhar para fora sem ignorar o que está aqui dentro. Uma combinação de autoconhecimento com uma postura de manter-se aberto para aprender com os outros.

Pode parecer óbvio, mas quem convive no meio sabe o quanto o universo da inovação incorporou da cultura estrangeira, dos jargões a vestimenta, da cultura aos processos. Tem muita coisa boa lá fora, sim, mas, para mudar a realidade na qual estamos, precisamos voltar de viagem, aterrissar, desfazer as malas e olhar para o ecossistema que está aqui.  

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