É o fim do inverno cripto?
O Bitcoin subiu 155% em 2023, impulsionado em parte pela abertura dos ETFs de cripto nos EUA. E em abril ainda tem o halving, que pode dar um impulso extra. Entenda.
Quando os fogos de artifício espocaram globo afora, o Bitcoin tinha fechado o ano com uma valorização de 155%, a US$ 43,7 mil – depois de ter caído 67% em 2022.
Aí, claro, entusiastas correram para celebrar aquele que pode ser o fim do “inverno cripto”, o termo cunhado para definir o derretimento do Bitcoin e uma perda de mais de US$ 2 trilhões em valor de mercado das criptos como um todo. A queda, vale lembrar, foi resultado da combinação de alta nos juros mundo afora com os escândalos no universo cripto, como a quebra da corretora FTX.
Parte da recuperação da criptomoeda, por outro lado, era fruto da aposta de que a SEC (a CVM americana) aprovaria a criação de ETFs de Bitcoin no mercado à vista – o que de fato aconteceu. Até então, os americanos têm acesso a ETFs que seguem a cripto, mas no mercado futuro, mais restrito.
Não dá para saber se as gestoras começaram a comprar Bitcoins antes do aval da SEC (para lastrear seus fundos), ou se a subida vem na esteira de gente dobrando a aposta de que as compras em bloco ainda vão ocorrer, levando a novos saltos no preço da cripto.
Mas não é só isso. Há outro motivo para alta: o halving. A cada quatro anos, a quantidade possível de Bitcoins a serem minerados cai pela metade. Esse instrumento reduz a quantia de novas criptos que entram em circulação. Nos ciclos de halving passados, o Bitcoin se valorizou para muito além da máxima anterior. Daí por que a aposta de que o fenômeno deve se repetir quando o próximo “corte de produção” ocorrer, em abril.
Só tem um detalhe nessa história. O último ciclo, de 2020, coincidiu com o corte brutal de juros no mundo todo, que levou a uma valorização de tudo o que é tipo de investimento arriscado, de ações a NFTs radioativos. Fica difícil dizer o que foi efeito do halving num bull market daqueles.
Para 2024, a história se desenha de maneira semelhante. A maioria dos investidores aposta que o Fed (o BC americano) começará a cortar os juros do país, hoje em 5,5% ao ano, já no mês de março.
Há ainda mais um dado curioso nessa lista de razões para a alta: é que a retomada do Bitcoin chega num momento em que há menos criptos disponíveis para negociação. Parece um contrassenso, já que sempre são mineradas novas unidades. Mas não. Ao todo, vão existir 21 milhões de Bitcoins, dos quais 19,5 milhões já foram minerados. Mas, de acordo com dados da Glassnode, apenas 2,4 milhões desses Bitcoins estão ligados a contas de exchanges, ou seja, estão no sistema para negociação rápida. Trata-se de uma queda de 25% em relação ao pico de março de 2020, quando havia 3,2 mi de Bitcoins de fato circulando por aí.
Uma das explicações é justamente a crise da FTX. A quebra de confiança nas exchanges teria feito mais gente migrar de empresas para carteiras próprias, em que as criptos ficam “offline” – a princípio, com uma liquidez menor. A demanda por Bitcoins dos novos ETFs aliada a uma seca na oferta, então, tem o potencial de acabar com o inverno cripto. Mas ainda tem chão. Para chegar de novo ao pico, de US$ 65,5 mil, atingido em novembro de 2021, o Bitcoin precisa subir mais 50%.