O que está por trás do novo boom das memecoins
Réptil verde de características humanoides, o Pepe é o desenho de sapo mais famoso da internet. Agora ele virou criptomoeda.
A Pepecoin foi lançada em abril deste ano e valorizou quase 7.000% durante seus primeiros 20 dias de existência, alcançando um valor de mercado de US$ 1,6 bilhões. Desde o pico, no entanto, desabou mais de 60%.
A moeda faz parte do universo das memecoins, criptoativos que possuem uma comunidade online engajada e geralmente são inspirados por imagens virais das redes sociais. Quem compra o faz mais pela piada do que pelo valor, já que esses tokens costumam ter preços irrisórios – em seu auge, a unidade da Pepecoin foi negociada a US$ 0,000004229.
Ela é a protagonista do boom recente de memecoins, que começou após uma mudança na blockchain do Bitcoin. Conhecida como Ordinals, a atualização torna possível transacionar por ali tokens de diferentes formatos, tipo NFTs e memecoins.
Atualmente, a maioria esmagadora desse tipo de ativo é criada e hospedada na rede Ethereum, uma blockchain mais versátil. Foram fundadas ali, por exemplo, a coleção de NFTs Bored Apes, a cripto Axie Infinity (moeda do jogo online que leva o mesmo nome) e a Dogecoin, cripto memética que ficou famosa pelos tuítes de Elon Musk.
Já a rede do Bitcoin era mais conservadora: ela foi projetada especificamente para registar transações do Bitcoin mesmo. Para driblar essa limitação, um grupo de desenvolvedores criou uma gambiarra matemática na blockchain. Cada Bitcoin é formado por 100 milhões de “satoshis”, a menor fração do criptoativo. Com a atualização, é possível anexar um NFT ou qualquer outro tipo de token a cada satoshi.
De acordo com dados da Galaxy Digital, mais de 25.000 memecoins já foram registradas na blockchain do Bitcoin desde março.
O Ordinals criou uma rachadura na comunidade do BTC. Parte dela considera que a mudança é positiva porque dinamiza o ecossistema do Bitcoin. A outra acredita que grandes frenesis especulativos, como da Pepecoin, podem desestabilizar a rede.
Outra polêmica é o aumento das taxas de transação. É que o boom de memecoins e NFTs fez saltar a atividade na rede. Aí cresceu a demanda por mineração – atividade que é responsável por garantir a autenticidade das transações. Consequentemente, a taxa cobrada por ela também subiu.
Em 7 de maio, no auge da onda Pepecoin, o valor alcançou US$ 30,09 por transação. A maior alta desde abril de 2021, e uma escalada de 950% em apenas cinco dias. Depois de a febre esfriar, a taxa voltou a níveis normais, na casa dos US$ 3,50 no fim de maio.
Defensores do Ordinals acreditam que o aumento das taxas pode ser bom para incentivar a mineração – que é essencial para o ecossistema do Bitcoin. Já os opositores à mudança argumentam que, caso a alta nas taxas se torne frequente, o custo elevado deve diminuir a demanda por Bitcoin.