Chega de negligenciar. Felicidade é coisa séria!
O que realmente importa para nós e como podemos cultivar essa sensação de significado em nossas vidas?
Dados do Relatório Mundial da Felicidade, publicado pela ONU, em 2023, mostram que a Finlândia lidera o ranking de países mais felizes, pelo sexto ano consecutivo, sendo o Afeganistão e o Líbano os últimos colocados.
O motivo da variação ser tão latente está relacionado a seis variantes: o produto Interno Bruto (PIB) per capita, que reflete a riqueza média de um país; o apoio social, relacionado à presença de redes de suporte, como família e amigos; a expectativa de vida saudável, indicando a qualidade de vida e saúde da população; a liberdade para tomada de decisões e a autonomia individual; a generosidade, considerando os atos de caridade e solidariedade e a ausência de corrupção, referente a confiança nas instituições públicas. O Brasil caiu 11 posições, indo do 38º em 2022 para o 49º lugar em 2023.
Apesar de ser um tema cada vez mais debatido, a felicidade já é objeto de estudo científico há mais de 25 anos, e há muito mais tempo por outras áreas do conhecimento, como, por exemplo, a filosofia. No livro “Em Busca de Sentido”, escrito pelo alemão Viktor Frankl, em 1946, enquanto sofria a vida de um detento em um campo de concentração durante a Segunda Guerra Mundial, foi difundida a “logoterapia”. Hoje reconhecida e aplicada internacionalmente pela psicologia clínica, trata-se de uma Análise Existencial (LTEA), que tem como foco a busca pelo sentido da vida.
É baseada em dados empíricos com três pilares: fenomenologia, que estuda os fenômenos sem preconceitos; o humanismo, que coloca os seres humanos como elementos principais em uma escala de importância; e o existencialismo, que analisa a existência humana com foco na autorresponsabilidade e autorrealização.
Vamos refletir: o que realmente importa para nós e como podemos cultivar essa sensação de significado em nossas vidas? Pessoas que têm um senso de significado e propósito em suas vidas tendem a ser mais felizes. E quando estamos felizes, nosso sistema imunológico é fortalecido, nosso estresse diminui e nossa qualidade de vida melhora.
O artigo “Pessoas felizes vivem mais”, de Diener e Chan, indica que o bem-estar subjetivo, incluindo satisfação com a vida, otimismo e emoções positivas, está relacionado com uma melhor saúde e maior longevidade. Os estudos longitudinais mostram que o afeto positivo está associado a esses benefícios, independentemente da saúde e status socioeconômico inicial.
Quando estamos felizes, nosso sistema imunológico é fortalecido, nosso estresse diminui e nossa qualidade de vida melhora.
Publicado na revista Clinical Psychology Review em 2011, o artigo “Efeitos da atenção plena na saúde psicológica: uma revisão de estudos empíricos”, relata que o mindfulness está associado a um maior bem-estar subjetivo, redução de sintomas psicológicos e menor reatividade emocional. Intervenções baseadas na metodologia, como programas de treinamento, estão correlacionados a um maior bem-estar subjetivo, redução de sintomas de ansiedade e depressão, e melhoria na regulação comportamental.
Durante as aulas ministradas ao lado do professor Tal Ben-Shahar, na Centenary University, visualizei um impacto positivo na vida de muitas pessoas, principalmente por difundirmos a criação de uma cultura da felicidade. Organizações, comunidades e países podem promover a felicidade ao adotar políticas e práticas que priorizem o bem-estar de seus membros. Isso inclui investir em educação emocional, promover a resiliência e criar ambientes que incentivem o florescimento humano.
O bem-estar subjetivo, incluindo satisfação com a vida, otimismo e emoções positivas, está relacionado com uma melhor saúde e maior longevidade.
Existem, inclusive, estudos dedicados a profissionalizar e construir especialistas para trabalharem esse assunto, como a Certificação em Estudos da Felicidade, uma formação de 12 meses traduzida ao português e em breve com peso de pós-graduação no Brasil.
A felicidade é uma questão séria. Ela não deve ser negligenciada nem tratada como algo trivial. Dela dependem uma série de indicadores humanos que moldam a qualidade de vida, a saúde mental, o bem-estar e a vida profissional. Enxergar a felicidade como meta de bem-estar de uma nação, não é mais uma opção: é um caminho obrigatório.
Convido a todos a explorar essa jornada interior, a buscar significado e a cuidar de nossa saúde mental. Afinal, a Felicidade não é apenas um destino, mas sim uma jornada constante de autodescoberta e realização.
*Henrique Bueno é professor-adjunto do primeiro mestrado global em estudos da felicidade, ministrado pelo professor Tal Ben-Shahar na Centenary University, além de fundador do Wholebeing Institute no Brasil e em Portugal e da Felicidade Academy.