Vale mesmo a pena sacar os R$ 1.045 do FGTS? Não, não vale.
O rendimento do Fundo é pelo menos 50% maior que o de outras aplicações seguras.
O Conselho Curador do FGTS anunciou que vai distribuir 66% do lucro do fundo – que foi de R$ 7 bilhões. Com isso, o rendimento dos cotistas referente a 2019 será de 4,9% – 3% do que o FGTS já rende todo ano mais o equivalente a 1,9% na forma de dividendos, que devem cair nas contas ainda em agosto.
O ganho para quem trabalha com carteira assinada é menor do que o registrado em 2018, quando o fundo levantou R$ 12,2 bilhões e distribuiu 100% de seus lucros. Mesmo assim, o rendimento ficou acima do da poupança e de parte da renda fixa.
Esses 4,9% de rendimento equivalem a 80% do CDI médio de 2019. O CDI baliza todos os investimentos de renda fixa – e quem determina o CDI é a taxa Selic (os dois têm sempre valores muito, muito próximos).
Bom, a poupança paga 70% do CDI/Selic. Perdeu para o FGTS, então. O mesmo vale para a maior parte dos CDBs, que até pagam porcentagens maiores do CDI, mas cobram um imposto que corrói parte desses ganhos. O FGTS é isento, igual a poupança.
A Selic fechou 2019 a 4,5%, depois de quedas sucessivas ao longo do ano. Em 2020, você sabe, ela desabou de vez. Está em 2%. Ou seja: como o CDI é gêmeo siamês da Selic, nenhum investimento tradicional de renda fixa vai render mais que 2% daqui até o futuro vislumbrável.
Nisso, ficamos assim: mesmo que não haja distribuição de dividendos do FGTS em 2020, só o 3% que ele rende por lei já equivalem a 150% do CDI. Mesmo rendendo menos, o FGTS pagará muito mais em relação ao anúncio feito nesta manhã sobre os rendimentos de 2019, pelo menos em relação a outros investimentos seguros – praticamente não existem CDBs que paguem 150% do CDI. E ainda tem os impostos sobre os rendimentos, de no mínimo 15%.
Já as formas de renda fixa que não cobram IR (CRI, CRA, LCI e outros trios de letras vão pagar, chorando, 120% do CDI). Você não precisa de uma calculadora financeira para ver a diferença.
Os R$ 1.045 da liberação aplicados a 120% do CDI (2,4% ao ano) sem impostos se transformariam em R$ 1.324 depois de 10 anos. A 150% do CDI (os 3% do FGTS), dá R$ 1.404. Na poupança, só a título de curiosidade, haveria só R$ 1.200 depois de 10 anos.
Parece pouco, né? Mas não. Rendimento a mais nunca é pouco. Se fossem R$ 100 mil reais, a diferença entre o FGTS e a poupança em dez anos, mantido o cenário atual, seria de R$ 20 mil. Uma moto.
Neste ano, para chegar no percentual de distribuição do lucro do fundo, aqueles 4,9% que encheram os olhos no começo do texto, o conselho se baseou na inflação do ano passado (IPCA), que foi de 4,3%, complementando os ganhos com outros 0,6%. Como a inflação para 2020 está projetada para ser de 1,8% ao ano, se a filosofia de remunerar a inflação mais um complemento inferior a 1% se mantiver, então, provavelmente não haverá distribuição de dividendos no ano que vem. Mesmo assim, basta que não mude a lei dos 3% para que o rendimento siga bem maior que o da renda fixa, como vimos aqui.
Só tem um detalhe, bastante óbvio: só vale deixar o dinheiro lá se a sua ideia era sacar os R$ 1.045 para poupar no longo prazo – já que, longo prazo por longo prazo, o FGTS paga mais, e vai cair na sua conta no momento de maior emergência que existe: o da perda de um emprego.
Já se você tem dívida, qualquer dívida, saque já para amortizar. Isso vale até para financiamento imobiliário, que cobra bem mais de 3% em juros anuais, você sabe. Para cartão rotativo e cheque especial, pelo amor: saque logo e se livre dessas tralhas.
É isso 😉
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VAI GANHAR QUANTO?
A pedido da VOCÊ S/A, Jurandir Macedo, professor de finanças da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), calculou quanto renderia, em doze meses, o FGTS comparado com as principais aplicações de renda fixa
FGTS (taxa 3% aa): saldo líquido de R$ 1.076,35
CDB a 100% da taxa DI (2% a.a.): R$1.061,72 (R$ 1.065,90 brutos mais 17,5% de IR sobre o rendimento).
Poupança (taxa 1,575% a.a.): saldo líquido de R$ 1.059,63