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Inflação dos EUA finalmente cede; a do Brasil volta a subir. Entenda as consequências

S&P engata alta de 4,5%, e Nasdaq dispara mais 6%. Ibovespa ignora e afunda abaixo dos 110 mil pontos.

Por Camila Barros, Tássia Kastner, Bruno Carbinatto
10 nov 2022, 14h53
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 (RHJ/Getty Images)
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Hoje foi dia de dobradinha de dados de inflação para outubro: IPCA no Brasil e CPI (Índice de Preços ao Consumidor) nos Estados Unidos. E teve notícia boa nos EUA, e ruim aqui por nossas bandas. E dá para ver direitinho na bolsa. O S&P 500 e o Nasdaq estão voando, enquanto o Ibovespa capota na curva.

Vamos em partes. Por aqui, o indicador oficial de inflação subiu 0,59% no mês passado. Era esperado que os preços voltassem a subir, passado o efeito das medidas eleitoreiras de Bolsonaro. Entre julho e setembro, os preços acumularam deflação de 1,33%, cortesia do corte de impostos e congelamento nos preços dos combustíveis.

Só que a medida, como se sabia, teria vida curta. E a inflação subiu mais que o esperado no mês passado – economistas apostavam em alta de 0,49%.

E o problema foi exatamente o que subiu. Os alimentos avançaram 0,72%, depois de uma quedinha de 0,51% em setembro. No acumulado do ano, comer está 10,32% mais caro, o que pesa para todo mundo, mas principalmente no bolso dos mais pobres.

Depois veio o aumento no grupo de transportes, uma cortesia das passagens aéreas. Os bilhetes encareceram 27,38%, estragando os planos de férias. E depois da canetada nos combustíveis, o grupo transportes também voltou a subir: alta de 0,58% em outubro, contra queda de 1,98% em setembro. E não adianta muito planejar viagem de carro.

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Os preços dos combustíveis até caíram mais um pouco no mês, mas o sinal daqui para frente não é lá muito positivo. É que faz tempo que a Petrobras não reajusta seus preços nas refinarias – o que faz com que haja uma defasagem em relação ao mercado internacional.

Com o resultado de outubro, a inflação de 2022 acumula alta de 4,70%. Em 12 meses, fica em 6,47% – vale lembrar que a meta do BC é de 3,50%, com teto de 5%.

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Em relatório, economistas do Itaú avaliaram que o aumento de gastos do governo no segundo semestre – o período em que Bolsonaro abriu o cofre para tentar levar a eleição – e a queda no desemprego tornam a inflação mais persistente. E pior, ela pode se perpetuar por mais tempo, no fenômeno chamado de inércia inflacionária. Como os preços estão acima da meta há muito tempo, sobe a pressão por reajustes de salários, o que eleva os preços da economia toda, recomeçando o ciclo de alta.

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Ainda assim, as previsão, por ora, são pouco apocalípticas (para os padrões brasileiros). De acordo com o boletim Focus, os economistas esperam que o IPCA feche o ano em 5,63% e 2023 em 4,94%.

O lance é que os preços altos tem tudo para forçar o Banco Central a manter a Selic em 13,75% por mais tempo que o esperado. As apostas eram de que os juros poderiam começar a cair a partir de junho do ano que vem – agora, vai todo mundo para a prancheta rever a rota. O que é péssima notícia para a bolsa brasileira, com os ânimos a flor da pele no dia de hoje. O Ibovespa caía mais de 3% e perdia os 110 mil pontos no começo da tarde.

Além da inflação, a Faria Lima está digerindo a notícia de que o governo Lula 3 pretende deixar gastos com o Bolsa Família fora do teto de gastos permanentemente. Essa é uma das opções do novo governo eleito para pagar R$ 600 no programa ano que vem, e também é a que mais desagrada o mercado. Outra opção, que vinha sendo o foco das negociações nos últimos dias, seria a aprovação de uma PEC de Transição que garantiria uma “licença para gastar” excepcional para acomodar essa e outras propostas do petista.

A ideia de tirar para sempre os gastos é caótica para a Faria Lima porque demole a ideia de ter um limite para a gastança do Estado – se é possível excluir despesas do cálculo, mesmo que sejam importantes, não faz sentido a regra existir.

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O de cima sobe

Enquanto isso, nos EUA os economistas também falharam em cravar a inflação oficial de outubro. Mas, por lá, eles comemoraram o erro. O CPI registrou alta de 0,4% em outubro – um sinal de que a inflação está começando a desacelerar, depois de atingir máximas de quase 40 anos nos últimos meses. Em 12 meses até outubro, o índice registra alta de 7,7% – ou seja, está mais alta do que no Brasil.

Só que foi uma notícia positiva. O índice S&P 500, das 500 maiores empresas negociadas na bolsa de Nova York, subia 4,5%. A Nasdaq, que concentra ações de tecnologia, saltava 6,1%.

O lance é que há pelo menos três meses o mercado vinha apostando em uma queda mais acentuada nos preços, em reação a alta de juros promovida pelo Fed. E eles não baixavam nunca. Agora, pela primeira vez, parece que está funcionando.

Todas as principais categorias registraram alta no mês, mas se mantiveram estáveis em relação a setembro. O que mais pesou foi a moradia, categoria que mede o preço dos aluguéis e hipotecas, e representa quase ¼ da cesta de produtos do CPI. Em outubro, ela subiu 0,8%, e acumula alta de 6,9% em 12 meses. A energia subiu 1,8%, e a alimentação 0,6%. Por outro lado, categorias menores como serviços hospitalares, veículos usados e vestuário registraram queda.

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E o motivo da festa de Wall Street? É que investidores começam a vislumbrar um cenário em que os juros não precisem subir tanto para conter a inflação. E se os juros não avançam tanto, talvez seja possível evitar uma recessão – o efeito colateral mais indesejado da alta de juros.

Aí investidores aproveitaram para limpar um pouco do pessimismo do terreno. Para isso continuar, vai depender da inflação daqui para frente. Cenas dos próximos capítulos.

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