Continua após publicidade

Novo arcabouço fiscal: um bom equilíbrio

O novo regime de metas fiscais é um meio termo entre o monetarismo e o desenvolvimentismo. Ou seja, algo capaz de manter a integridade da moeda sem estancar os gastos públicos. Boa notícia.

Por Alexandre Versignassi
Atualizado em 14 abr 2023, 14h14 - Publicado em 14 abr 2023, 06h28
-
 (RafaPress/Getty Images)
Continua após publicidade

Caos e ordem, elétrons e prótons, desenvolvimentistas e monetaristas. A vida, o universo e tudo o mais, incluindo a macroeconomia, são feitos de opostos. Desenvolvimentismo é a filosofia de que gastos públicos são o motor para o crescimento do PIB. Sua corrente mais radical, a da Teoria Monetária Moderna (MMT), reza que não precisa haver limite para o tanto que o governo gasta. O Estado, afinal, é o dono das impressoras de dinheiro. Poderia, então, endividar-se ao infinito, pois sua capacidade de solvência também seria infinita.

Lindo. Só tem um detalhe. Se o eventual crescimento na produção de bens e de serviços for menor que o da massa de dinheiro em circulação, o dinheiro vira carne de vaca, arroz de festa. Perde valor. Pagar uma dívida de R$ 100 com uma nota recém-impressa de R$ 100 depois que o poder de compra dela caiu para R$ 80 significa dar um calote de R$ 20. Isso não é solvência. 

Sem contar os efeitos deletérios no bolso da população. No limite, o valor da moeda vira lixo. Imóveis, veículos ou qualquer coisa cara passam a ter preços em dólar. O governo mesmo começa a fazer dívida em moeda estrangeira, já que a nacional não compra mais nada. E perde o controle que tinha sobre a economia.

O monetarismo vai pelo caminho oposto. A orientação dessa corrente é manter o suprimento de moeda sob controle. O governo, dono das impressoras de dinheiro, deve gastar/investir com moderação ímpar. O entendimento aí é o de que só uma moeda forte garante o crescimento sustentável, com inflação tolerável. Convenhamos, é o que a prática demonstra mundo afora – Brasil incluído, pois temos, sim, uma moeda forte, desde 1994.

Compartilhe essa matéria via:
Continua após a publicidade

Por outro lado, a versão mais extrema do monetarismo freia a economia. E a prática global também demonstra que gastos públicos servem de motor para o crescimento – do New Deal nos EUA da década de 1930 à ascensão econômica da China e da Coreia do Sul, não faltam exemplos gritantes

A via ideal, como sempre, é uma espécie de meio termo entre monetarismo e desenvolvimentismo. Algo capaz de manter a integridade da moeda sem estancar os gastos públicos. E esse parece ser, de fato, o caminho do novo arcabouço fiscal.  

Boa notícia. O auge do temor pós-eleição de Lula veio em dezembro, quando autoridades ligadas ao governo de transição teciam elogios às sandices da Teoria Monetária Moderna. Com o mercado prevendo uma inflação fora de controle para o longo prazo, os juros futuros foram à ionosfera, elevando as taxas dos títulos públicos a níveis recordes – tipo IPCA+2035 a 6,51%.

Continua após a publicidade

Mas o que Haddad apresentou não tem nada de MMT. Você sabe: pela nova proposta, se a arrecadação subir em R$ 100 bilhões, os gastos podem aumentar em R$ 70 bilhões (70% do acréscimo). Os R$ 30 bilhões restantes vão para o pagamento da dívida pública.

Joga-se devidamente na sarjeta a ideia de que o governo pode endividar-se à vontade. Na prática, os 30% separados para a dívida acabam servindo como uma poupança. É o que os economistas chamam de “medida anticíclica”: ao amortizar seu débito em momentos de vacas gordas, o governo ganha estofo para fazer novas dívidas nos anos de vacas magras, e a juros mais baixos.

Também há um regime de metas para forçar o governo a gastar menos do que arrecada (ou seja, fazer superávits). Para 2025, por exemplo, o objetivo é produzir um superávit de 0,5% do PIB (R$ 50 bilhões em valores de hoje). Esse é o centro da meta. E ela tem margem de erro de 0,25 p.p. Se o eventual superávit ficar em 0,25% do PIB, então, tudo certo. Se terminar abaixo disso, rola uma penalização: o aumento nos gastos do ano seguinte fica limitado a 50% do crescimento da receita, em vez de 70%.

Trata-se de um sistema racional. Ele ainda depende de um bom aumento na arrecadação para se mostrar viável. Que venha, então, uma reforma tributária igualmente lógica. Caos e ordem convivem bem no Universo. Elétrons e quarks, idem: o equilíbrio entre a carga negativa de um e a positiva do outro é a essência por trás de tudo o que existe. Que a economia siga o exemplo da natureza. Que a moderação entre concepções opostas nos leve adiante, com aquilo que cada uma tiver de melhor.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 6,00/mês*

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.