Por que os bancos estão sorteando dinheiro em troca de cadastro no Pix?
Briga é pela informação mais simples (números de telefone) e pela fidelidade do cliente no uso da nova forma de pagamentos
Que CPF e telefone de clientes valem uma fortuna a gente já sabe. Mas no Pix, o novo sistema de pagamentos do Banco Central, esses dados pessoais são ainda mais preciosos para as instituições financeiras.
Simples: no Pix, o cliente deixa de ser identificado por agência e conta. No lugar, a transferência é feita informando um único dado pessoal. E me diga aí, você prefere soletrar nome e sobrenome arroba alguma coisa ponto com?
Pensa com o meu nome: tê – a – dois esses – i – a ponto ka – a – esse – tê – ene – e – erre arroba. Cansou? Eu também. Há chances de essa transação não acontecer porque a pessoa errou o email? Sim, e elevadíssimas.
Mais fácil dizer apenas um conjunto de números, como o telefone, que a gente já diz quando passa o zap pra alguém, ou o CPF (CPF na nota?).
Isso explica por que instituições financeiras começaram, ainda em setembro, uma verdadeira corrida de cadastro de chaves Pix (o Pix começa a funcionar apenas em 16 de novembro).
E para garantir a atenção do cliente, vale até sortear dinheiro. Quem não quer uns trocados por algo que já faria de qualquer maneira, não é mesmo?
O Santander, que começou com as campanhas mais agressivas na TV, está sorteando R$ 1 milhão para um único ganhador (na promoção para pessoa física). O cadastro no Pix com qualquer forma de identificação dá direito a cinco números da sorte. Mas quem cadastrar como chave no banco o CPF e o telefone tem direito a 10 cupons. Perceba, o benefício em dobro não é para quem cadastra telefone ou email ou CPF e email.
No Banco do Brasil, cadastrar CPF ou celular dão direito a dois números da sorte cada. Email, um só. Lá os prêmios variam de R$ 500 a R$ 100 mil.
Algo semelhante faz o Nubank. Cada chave cadastrada dá direito a um cupom para concorrer a R$ 20 mil. Mas se o cliente der CPF, telefone e email, ganha cupons extras.
Ah, Santander e Nubank também vão conceder cupons para transações realizadas pelo Pix depois de 16 de novembro, quando o sistema entra no ar.
O C6 não está sorteando dinheiro, mas pontos do programa de fidelidade. São 1.200 pontos, que serão pagos em 12 meses. Para isso, adivinha? Precisa cadastrar o CPF e o celular.
Bom, há ainda a possibilidade de cadastrar uma chave com números aleatórios. Aí o problema é contar com a memória e lembrar qual é a sua chave ao passar seus dados para uma transferência.
Eles querem você
Existe um outro pulo do gato nessa história de cadastro de mais de uma chave para receber em uma única conta. Cada pessoa, independentemente de quantas contas tenha, só pode cadastrar cinco chaves no BC.
E a tendência, se o Pix emplacar, é que a conta onde ela tem as chaves cadastradas seja a conta de preferência em transações financeiras. Mais ou menos como é, até hoje, a conta onde cada pessoa recebe o salário todo mês. Provavelmente será lá que haverá débito em conta e uso do cartão para compras, por exemplo,
E, bem, o banco ganha dinheiro no relacionamento. Quanto mais você usa, mais ele ganha. E se você tá lá todo dia, é mais fácil que você pague anuidade do cartão ou contrate crédito com ele, gerando receita.
Então a guerra das chaves Pix tenta fidelizar o cliente em um momento em que a as transferências ficam mais simples, e clientes se movem em busca de serviços mais eficientes e com menos tarifas.
Mas apesar desse esforço, não necessariamente foi o sorteio que levou o cliente ao Pix. Na quarta-feira (14), o Banco Central divulgou um ranking de cadastros por instituição. O líder isolado é o Nubank, que não tem clientes, mas fã-clube. Em segundo lugar está a carteira digital Mercado Pago e em terceiro, a PagSeguro. Em comum, eles têm a posição de oferecer serviços financeiros nativos digitais e para um público que carecia de atendimento nos bancos.
Claro, muita coisa ainda vai rolar nessa guerra de chaves Pix, especialmente até que o serviço comece a funcionar. E, por fim, as chaves Pix não são compromissos eternos. Basta pedir para trocar e levar para outro banco.
Em resumo, quem ganha é mesmo o consumidor, que não vai mais pagar para transferir dinheiro por aí. E se quiser, pode não cadastrar chave nenhuma e deixar o banco só implorando pela informação.