Trabalho, finanças e vida equilibrada: veja o que explica felicidade finlandesa
O país levou, pela 7ª vez, o prêmio de Mais Feliz do Mundo, segundo o Relatório Mundial da Felicidade. Mas o que justifica a hegemonia da nação nórdica? Spoiler: balanço vida privada- trabalho tem tudo a ver com isso.
e existisse uma Copa do Mundo da Felicidade, a Finlândia — que nunca chegou a participar da competição futebolística — seria heptacampeã.
Isso mesmo. A nação levou, pela sétima vez, o prêmio de País Mais Feliz do Mundo. Ao menos é isso que mostra o World Happiness Report (Relatório Mundial da Felicidade, do inglês), coletado pela empresa Gallup em parceria com o Centro de Pesquisa de Bem-Estar de Oxford e com a ONU.
Numa média de 10 pontos, ela ficou com aproximadamente 7,77. Para referência: o Afeganistão, classificado como o país menos feliz do mundo, tem uma avaliação de vida de 1.72.
Aos curiosos: hoje, o Brasil ocupa o 44º lugar (6,27/10). Ele ficou cinco posições acima de 2023, quando chegou ao 49º lugar — o mais baixo já registrado.
É importante pontuar que o relatório, divulgado anualmente, leva em conta critérios bastante subjetivos — afinal, felicidade é uma entidade bastante complexa. Funciona assim: os pesquisadores pedem que entrevistados do mundo todo façam uma “avaliação de vida”, com base no sistema de pontuação (que vai de zero a dez), e faz a média das respostas. Para tentar explicar os resultados, utiliza-se de seis critérios: apoio social, renda, saúde, liberdade, generosidade e ausência de corrupção.
A felicidade é uma entidade bastante complexa.
São neles, também, que baseamos a resposta da manchete do texto: afinal, o que pode explicar essa liderança no ranking pelo país nórdico? Vamos entender alguns pontos a seguir.
Menos desigualdade social
Talvez você já tenha ouvido falar do Índice de Gini, que é a medida mais usada para estimar desigualdade nos países mundo afora. Ele aponta a diferença entre os rendimentos dos mais pobres e dos mais ricos: ou seja, quanto menor o número, menor a desigualdade. E vice-versa, claro.
O da Finlândia, atualmente, é de 26,6. Ela está em 5º do ranking, liderado pela Eslováquia. Para referência: a pontuação brasileira é de 52,9. O país mais desigual do mundo, a África do Sul, tem um Gini de 63.
Esse é um dos primeiros pontos essenciais para compreender o porquê dos finlandeses não tirarem o sorriso do rosto. “Geralmente, nós definimos nosso bem-estar com base comparativa. Se eu vivo em um lugar onde todos ao meu redor tem relativa prosperidade, riqueza e possibilidades de usufruir das benesses contemporâneas, é natural que eu me sinta mais feliz”, explica Yuri Trafane, CEO da Ynner, empresa especializada em desenvolvimento de pessoas e representante da Gallup no Brasil.
Vale a pena notar, aqui, outro ponto interessante do índice: o mundo está ficando mais heterogêneo em relação à felicidade. Segundo o relatório, em 2024, a “desigualdade de felicidade” aumentou em 20%.
Curiosamente, outro relatório da ONU (Perspectivas Sociais e de Emprego no Mundo para 2024) previu para esse ano que, apesar de o desemprego e o déficit de empregos caírem para níveis abaixo dos anteriores à pandemia, o desemprego global aumentará em 2024 e as crescentes desigualdades e a estagnação da produtividade são motivos de preocupação. Isso, com certeza, explica o gap na felicidade também.
Vida vs. Trabalho
Segundo Yuri, a Gallup vem estudando esse bem-estar subjetivo há muitos anos. A empresa sub-dividiu essa emoção em cinco categorias:
- Bem-estar físico;
- Social;
- Comunitário;
- Financeiro;
- Profissional.
“Uma coisa importante de notar é que o bem-estar profissional afeta diretamente todos os outros bens-estares”, aponta o especialista.
Pense bem: se você possui um bom emprego, do qual se sente realizado, ganha bem, consegue criar conexões e ter tempo para seu corpo e mente, é muito mais provável que se sinta, bom: mais feliz. E Helsinque, capital da Finlândia, já levou mais de uma vez o prêmio de melhor lugar para viver para o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, com base em dados sobre intensidade de trabalho, apoio institucional, legislação e habitabilidade.
Essa ideia é reiterada pela pesquisadora da Universidade de Helsinque, Jennifer De Paola, em entrevista à AFP: “A proximidade com a natureza e o bom equilíbrio entre o trabalho e a vida privada são a chave para a satisfação dos finlandeses”, diz ela. “Eles talvez tenham uma compreensão mais acessível do que é uma vida bem-sucedida”.
“Os países nórdicos têm uma relação mais equilibrada entre trabalho e vida privada”, ressalta Yuri. “Claro, a felicidade é subjetiva — e a pesquisa também. A emoção não é formada por um ou outro fator específico, mas um conjunto de fatores relevantes. Ainda sim, esse equilíbrio com certeza é chave para entender o porquê da Finlândia liderar o ranking”, finaliza.