Trump com coronavírus une mais uma vez as bolsas ao imponderável
Mercado financeiro teme rumo da eleição americana agora que o presidente entrou na lista de 34 milhões de infectados pelo vírus.
O coronavírus já contaminou 34 milhões de pessoas, e o mercado financeiro tinha aprendido a lidar com isso. Até que, como se a segunda onda de contágio tivesse chegado de surpresa, o presidente americano, Donald Trump, anuncia que está com Covid-19.
Aí os mercados globais caíram. Foi dia negativo nos Estados Unidos, na Europa e também aqui no Brasil.
Um problema é que Trump é do grupo de risco para a doença: tem 74 anos e está obeso. Outro é que ele é candidato à reeleição.
Mesmo no cargo, o presidente americano andava atrás nas pesquisas e vinha apostando nos comícios para se recuperar. Sim, comícios em lugares fechados no meio de uma pandemia. Sim, com multidões. E, sim, com muita gente sem máscara, incluindo o próprio Trump. Na liderança está o democrata Joe Biden (que também fez o teste para o coronavírus, com resultado negativo – até o momento).
E aí, faltando apenas um mês para as eleições, a doença obrigou o republicano a cancelar todos os seus eventos, incluindo comícios em estados importantes (Flórida, Arizona e Wisconsin).
E mais uma vez o mercado financeiro precisa lidar com algo inevitável, mas que ele detesta: o imponderável.
Para isso existem os analistas, claro. A equipe do Commerzbank, o segundo maior banco da Alemanha, desenhou dois cenários.
No primeiro, caso o presidente tenha sintomas graves, os adversários se aproveitariam para ampliar as acusações de que Trump minimizou o vírus e que o seu negacionismo foi decisivo para a gravidade da pandemia. E, bem, os Estados Unidos têm a triste marca recorde de mortes no mundo, 207 mil, além de 7,3 milhões de contaminados.
E mesmo assim, Trump criticava Biden por usar máscara de proteção.
Mas um segundo cenário daria vantagem a Trump. Ainda de acordo com o Commerzbank, caso a enfermidade tenha efeitos leves, a popularidade de Trump poderia aumentar. Como exemplo, o banco citou Bolsonaro, que sofreu uma facada às vésperas das eleições de 2018 e usou a situação para impulsionar a campanha.
Bom, com cenários tão diversos, o melhor é se proteger. E proteção, nesse caso, pode ser entendida como vender ações e buscar ativos mais seguros.
Aí o Dow Jones recuou 0,48% (27.682 pontos), enquanto o S&P 500 teve queda de 0,96%(3.348 pontos). Já o Nasdaq Composite despencou 2,22% (11.075 pontos)
Teve outra coisa que pesou no mercado americano. Os dados da geração de empregos no país vieram abaixo das expectativas do mercado: foram criados 661 mil novos postos de trabalho, enquanto a expectativa era de 850 mil — e olha, isso já era menos que os 1,5 milhão de postos de trabalho gerados em agosto.
Ficou tão feio, que até mesmo o presidente do Fed (Banco Central dos Estados Unidos) de Minneapolis, Neel Kashkari, admitiu que são números decepcionantes e que o caminho para a recuperação é longo e precisa de confiança. Pena que os investidores estão desconfiados demais para se emocionar com a sinceridade do banqueiro.
Ibovespa contaminado
O mercado brasileiro, que já anda sem motivos para subir com tanta confusão em Brasília, abraçou o pessimismo dos Estados Unidos. E bota pessimismo. Ao longo do dia chegou a renovar mínimas abaixo dos 94 mil pontos. No final, fechou em -1,53%, aos 94.015. Essa é a quinta semana seguida de quedas.
Uma das causas da queda do Ibovespa foi a Petrobras, que viveu um típico dia de compra no boato, realiza no fato. Na véspera, enquanto aguardava a decisão do Supremo para privatizar refinarias sem o aval do Congresso, as ações subiram.
E, de fato, o STF deu a autorização tão aguardada. Aí hoje as ações caíram, Mas houve, também, influência do cenário internacional, já que o petróleo sofreu novo tombo. O barril do tipo Brent caiu 4,22% na bolsa de Londres, enquanto o tipo WTI, negociado nos EUA, despencou 4,31%.
A queda nos papéis da Petrobras foi de 3,86% (PETR3) e de 4,18% (PETR4). A petroleira Petrorio recuou 3,57%.
O dia só não foi pior por causa do bancos. Com uma canetada, o Bolsonaro aprovou a ampliação de 35% para 40% a fatia de comprometimento do salário para a solicitação de empréstimos por aposentados e pensionistas do INSS.
Ou seja, mais facilidades para a concessão dos serviços bancários e numa linha que os bancos amam emprestar (já que o calote é mínimo). A subida foi em bloco, dos grandes aos pequenos, os bancos descolaram do pessimismo do dia. Também teve a extensão da redução dos compulsórios até abril de 2021.
O destaque ficou com o Santander (1,79%), seguido por Bradesco (0,92%) e Itaú (0,80%).
Alguém tem que ser feliz no Ibovespa, afinal.
MAIORES ALTAS
Santander: 1,79%
CSN: 1,69%
Bradesco: 0,92%
Itaú: 0,80%
Natura: 0,62%
MAIORES BAIXAS
Azul: -5,29%
CVC: -5,22%
Magazine Luiza: -4,30%
Petrobras: -3,98%
Ez Tec: -3,79%
Dólar: +0,29%, cotado a R$ 5,67