Conheça a Coletando, startup de reciclagem nas favelas
Criado na periferia de São Paulo, Saulo Ricci se inspirou na mãe para criar o negócio presente em seis estados.
Em alguns países desenvolvidos, como a Suécia, cada cidadão que contribui para a reciclagem no país e é recompensado por isso. Ele leva garrafas e latinhas vazias ao supermercado, deposita em uma máquina, e ganha um valor pelo material.
O objetivo da Coletando é propiciar o mesmo no Brasil. A startup tem 12 pontos fixos de coleta nas periferias de seis estados e mais de 6 mil usuários. O plano para 2023 é instalar mais 40 máquinas, e alcançar mais quatro estados.
O projeto foi impulsionado pela Lei Nacional de Resíduos Sólidos, de 2010, que obriga as indústrias a reciclar pelo menos 30% das embalagens que colocam no mercado, sob pena de multa. A Coletando faz justamente esse meio de campo para diversas empresas, como Ifood, Braskem, P&G, Ambev, EDP e Ajinomoto.
Saulo Ricci, fundador e presidente da Coletando, explica como funciona a operação.
1) Como surgiu a Coletando?
Cresci no Jaraguá, periferia de São Paulo, e minha mãe coletava materiais recicláveis para complementar a renda da família. Depois de formado em TI e de trabalhar como gestor no Grupo Amil, resolvi me demitir para empreender. Logo pensei na minha mãe e na oportunidade de negócio que havia em resolver os problemas dos catadores, em melhorar a reciclagem na favela, onde muitas vezes o caminhão de coleta seletiva não consegue entrar. Em 2008, vendi carro e apartamento, juntei R$ 200 mil e fundei a Coletando com a minha esposa. Foram anos de muita luta, cheguei a ser motorista da Uber para complementar a renda, mas compensou.
2) Como funciona o negócio?
Os pontos de coleta acolhem os materiais limpos e secos que podem ser reciclados, e remuneram o morador por isso. Depois eles revendem para as indústrias de reciclagem [e empresas].
Os pontos de coleta são como franquias. É um investimento de R$ 150 mil feito por multinacionais que patrocinam determinado ecoponto. Nós, então, selecionamos os empreendedores ou cooperativas da região mais aptos a gerenciar o ecoponto, treinamos, fornecemos infraestrutura e damos suporte. Há também um triciclo elétrico que os auxilia a fazer a coleta na comunidade. Cada ponto gera, em média, um lucro de R$ 4 mil por mês.
Como temos uma parceria com a Ambev, conseguimos ter o melhor preço para o vidro, por exemplo. No mercado, varia de R$ 0,09 a R$ 0,12 o quilo, mas a cervejaria nos paga R$ 0,30. Já o metal, remuneramos em R$ 6 o quilo.
O pagamento é depositado na conta digital do usuário na Coletando. Ele pode utilizar o dinheiro com um cartão pré-pago, em qualquer comércio, ou sacar nos caixas da rede 24horas. Existe também a possibilidade de o usuário fazer um microcrédito com custo de 0,5% ao mês, mas ele não consegue pagar esse empréstimo com dinheiro, só com resíduo.
3) De que forma a Lei Nacional de Resíduos Sólidos impulsionou o negócio?
A lei aumentou os investimentos no nosso setor. Conseguimos passar por aceleração e mentorias, como a do InovAtiva, de iniciativa federal, que nos tornaram cada vez mais funcionais.
Ajudamos as empresas a atingir a meta de reciclar 30% das embalagens comercializadas auditando e homologando a coleta, o que gera Certificados de Reciclagem.