Conheça a Cora, uma fintech só para PJs

O banco digital oferece contas sem tarifas para pequenas e médias empresas. Desde 2019, amealhou 900 mil clientes – e quer bater de frente com os bancões.

Por Tiago Cordeiro | Fotos: Germano Lüders | Design: Caroline Aranha
Atualizado em 10 fev 2023, 16h10 - Publicado em 10 fev 2023, 06h11
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 (Germano Lüders/VOCÊ S/A)
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Bancos tradicionais cobram mensalidades salgadas dos correntistas pessoa jurídica – para não falar nas tarifas avulsas para emitir boletos e fazer DOCs e TEDs (ainda que essa duplinha de transferências esteja saindo de cena com o Pix). Se essas contas tivessem ferramentas para facilitar a vida das empresas, faria sentido arcar com o ônus. Mas não costumam – CNPJs e CPFs, em geral, recebem o mesmo tratamento: “Os empreendedores percebem que as soluções bancárias oferecidas a eles são idênticas às criadas para pessoas físicas. É um simples copia e cola, sem preocupação com as demandas específicas das empresas”, diz o empresário mineiro Igor Senra.

Igor e seu sócio Leonardo Mendes são os fundadores da Cora – um banco digital voltado exclusivamente às necessidades de pequenas e médias empresas (PME). Além de não cobrar mensalidades ou tarifas dos PJs, a fintech, nascida em 2018, oferece uma plataforma pensada para facilitar a vida de quem tem um negócio próprio.

Começa com o processo de abertura da conta, que rola online, e não leva mais de dez minutos. Uma vez lá dentro, não faltam ferramentas para evitar dor de cabeça. Por exemplo: o aplicativo da Cora permite definir diferentes níveis de acesso à conta – de modo que cada funcionário da empresa só tenha autorização para mexer no que é necessário para o seu cargo e nível hierárquico. A tela de extrato exibe as entradas e saídas, o que ajuda os contadores a montarem balanços mensais. A exportação do extrato completo em PDF também é simples. E a plataforma inclui uma ferramenta automática para cobrança de inadimplentes – eles partem do princípio de que todo mundo adora receber, mas ninguém gosta de cobrar.

Por fim, a plataforma da Cora pode funcionar conectada a 58 tipos diferentes de sistemas de gestão operacional – um tipo de software conhecido pela sigla em inglês ERP usado para administrar empresas. A integração entre o app do banco e o ERP acontece via API (um conjunto de normas para o diálogo entre programas de computador que, em outras esferas da vida, permite ao seu WhatsApp acessar sua lista de contatos, ou ao Spotify tocar uma música em um story de Instagram).

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(Germano Lüders/VOCÊ S/A)

A história

Igor Senra e Leonardo Mendes tinham, respectivamente, 29 e 25 anos quando criaram uma das primeiras fintechs do Brasil, a Moip, em 2007. Eles tinham cursado graduação em Belo Horizonte (MG), e estavam decididos a abrir uma empresa de pagamentos digitais para companhias de e-commerce.

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“Eu empreendia desde os 16 anos. Sempre tive um CNPJ agarrado comigo. Mas foi com a Moip que minha carreira deslanchou”, diz Senra. “Não tínhamos a menor pretensão de deixar um legado. A gente só queria copiar o PayPal” – a mais bem-sucedida carteira digital do mundo, que hoje tem mais de 180 milhões de usuários.

O serviço acabou por atrair donos de pequenas e médias empresas. E foi no convívio com eles que os sócios identificaram uma vocação para trabalhar como catalisadores de empreendedorismo.

A Moip acabou vendida para o grupo alemão Wirecard em 2016 por R$ 165 milhões, e a dupla de sócios topou ir junto para cuidar da criança. Eles ficaram na Wirecard até 2018, quando veio uma mudança de rumos: “Os novos proprietários decidiram que o melhor caminho para a Moip era focar em grandes empresas. Para nós, essa proposta não fazia mais sentido. Decidimos, então, sair, o que foi surpreendente para nós mesmos. Achávamos que passaríamos a vida toda na empresa”.

Mas o destino de Igor e Leonardo era mesmo criar uma companhia nova. E agora eles tinham uma missão mais clara do que copiar o PayPal: transformar o ecossistema bancário em um habitat menos inóspito para empreendedores como eles. Assim nasceu a Cora. Ela foi estruturada nos bastidores ao longo de 2019, e abriu operações ao público em 2020.

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Na mira do venture capital

A Cora ainda não alcançou o ponto de break-even – a virada contábil em que as receitas se tornam maiores que as despesas. Quem garante o fôlego financeiro são fundos de venture capital que apostam na fintech: GreenOaks, Ribbit Capital, Kaszek, Tiger Global, QED, Tencent.

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(Germano Lüders/VOCÊ S/A)

Não foi simples amealhar tanto apoio. “Ouvíamos muito: ‘o Brasil está uma bagunça; não estamos interessados, a não ser que a Ribbit entre’”. A Ribbit é um fundo que põe algo entre US$ 2 milhões e US$ 15 milhões em fintechs recém-nascidas promissoras. Ganhar uma chance deles é um ótimo sinal: como a Ribbit têm reputação sólida, acaba convencendo outras firmas de capital de risco a apostar no negócio.

Foi o que aconteceu: no final de 2019, uma operação liderada pela Kaszek Ventures, com participação da Ribbit, resultou em um aporte de US$ 10 milhões. Desde então a Cora virou um Pac-Man de caixa. Outros aportes sólidos aconteceram em abril de 2021 (R$ 150 milhões) e em agosto de 2021 (R$ 600 milhões, essa era uma rodada prevista para 2022, que acabou adiantada).

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Agora, não há planos em vista para buscar novos investidores, diz Igor. Ele poupou bastante, e o objetivo é andar com as próprias pernas. A Cora consegue oferecer todas as benesses de graça aos correntistas porque tira sua receita de outra fonte: eles oferecem cartões de débito e crédito aos seus clientes, então ficam com uma porcentagem da comissão que as operadoras cobram dos lojistas e fornecedores.

Além disso, em dois anos, desde janeiro de 2021, a Cora aumentou em 240% a concessão de crédito aos clientes, que já somam 900 mil.

E o plano é seguir expandindo, claro. “Nos parece que, enquanto todos pisam no freio diante da recessão global, estamos num bom momento para acelerar.” Clientela em potencial é o que não falta. De acordo com o Sebrae, as PMEs são 99% dos empreendimentos nacionais (ou 18,5 milhões de CNPJs) e geraram 72% dos empregos criados no país no primeiro semestre de 2022. O setor responde por 30% do PIB nacional. A maior parte das PMEs atua com serviços e comércio; depois vêm indústria, construção civil e, bem atrás, agropecuária.

Só no ano passado, aliás, o quadro de funcionários da Cora saltou de 210 para 450. A fintech recebeu o selo Great Place to Work em 2021 e foi apontada como a sétima melhor empresa de serviços financeiros para se trabalhar no Brasil. Os colaboradores têm acesso, por exemplo, a auxílio aprendizado anual mais licença maternidade de seis meses e de paternidade de três (a lei garante quatro meses para mães e no máximo 20 dias para pais). É isso. Enquanto gera bons empregos, a fintech ajuda PMEs a fazerem o mesmo.

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Errata: na edição impressa, consta que o nome de Leonardo Mendes é Leandro, e que a empresa abriu as operações para o público em 2019 em vez de 2020. Corrigimos esses dados na versão online. 

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