Empreendedorismo indígena: plataforma conecta indústria com comunidades locais da Amazônia
No total, trinta cooperativas estão cadastradas (doze delas de povos originários), distribuídas em seis estados. Conheça a Plataforma Digital da Floresta, iniciativa da Fundação CERTI.
m 2019, a ONG Forest Trends publicou um artigo que definia a economia indígena em dois aspectos: economia de reciprocidade e economia de mercado.
A primeira está relacionada às práticas tradicionais, dinâmicas de trocas e produção coletiva – independentemente de relações monetárias ou financeiras.
A economia de mercado você já conhece. Decisões de investimento, produção e distribuição ficam à mercê de preços definidos pela boa e velha oferta e demanda. É a dinâmica dominante – e uma que mudou as necessidades de consumo e de produção dos povos nativos da região amazônica brasileira.
É na busca por conectar essas cooperativas com a indústria e o comércio que nasce a Plataforma Digital da Floresta. Lançada em julho deste ano pela Fundação CERTI, a ideia da iniciativa é facilitar transações online de produtos e serviços amazônicos – muitos dos quais têm origem indígena.
No total, trinta cooperativas estão cadastradas (doze delas de povos originários), distribuídas em seis estados: Amazonas, Amapá, Pará, Mato Grosso, Tocantins e Maranhão. Todos estados que apresentam Floresta Amazônica em seu território.
Como funciona
A plataforma oferece três ferramentas: o Bioconex, um conjunto de marketplaces; o Vem de Onde, que garante a rastreabilidade dos produtos comercializados; e o BI da Floresta, que armazena toda a inteligência de dados das transações.
Esse esquema resolve alguns problemas. Primeiro, os extrativistas enfrentam dificuldades para acessar mercados mais amplos, além de depender de intermediários (que adiciona à carga financeira da coisa). Ao adicionar os produtos na plataforma, além de garantir uma facilidade logística – pois a conexão com os comerciantes e indústrias interessadas é direta – também é possível vendê-los por preços mais justos.
Na outra ponta, as empresas conseguem visualizar todos os produtos ofertados (genuinamente oriundos da Amazônia, garantindo a autenticidade), negociar diretamente com produtores, além de identificar a localização do fornecedor e a previsão logística para entrega do produto.
A ideia da iniciativa é facilitar transações online de produtos e serviços amazônicos – muitos dos quais têm origem indígena.
“Ela traz benefícios para cada uma das cooperativas cadastradas, além de contribuir para a cadeia produtiva como um todo, introduzindo uma melhor gestão organizacional, beneficiamento de produtos, padronização e certificação de qualidade”, garante Marco Giagio, diretor geral do Instituto CERTI Amazônia.
Uma dessas cooperativas é a Kayapó (de sigla COOBA-Y), do sul do Pará. Ela produz e comercializa 265 toneladas por ano de castanha.
“Trabalhamos desde de 2011 com castanha, cumarú e artesanato para ajudar os caiapós. E participar da plataforma é para nós um grande passo”, aponta Bekuwa Kayapó, integrante da COOBA-Y que vive na aldeia caiapó Kuben Kran Kren.
Alimentos e bebidas são o carro-chefe da plataforma no momento. Mas, segundo a Fundação, há também a comercialização de produtos de beleza, saúde e fármacos locais.
Gol para a sustentabilidade
Além de apoiar as comunidades locais, a plataforma também ganha em outra frente: a da sustentabilidade. A aproximação das cooperativas ao negócio respeita os limites da natureza e dos produtores.
“Gerando mais visibilidade para produtos de iniciativas que priorizam a floresta em pé, ela contribui para todo o ecossistema ao qual é direcionada e amplia as oportunidades de negócios, gerando um aumento real de renda para as comunidades e cooperativas locais”, finaliza Giagio. Assim, todos saem ganhando”, finaliza Giagio.