Estabilidade sem carteira assinada é possível? Novo livro de Nathalia Arcuri quer provar que sim
Em “Chefe de Mim”, a educadora financeira traz um método para auxiliar autônomos a ter maior previsibilidade e retorno de grana.
e você pedir para um profissional autônomo fazer uma lista de prós e contras do trabalho sem vínculo empregatício, há uma frasezinha que provavelmente aparecerá na primeira linha da primeira coluna: “ser meu próprio chefe”. Afinal, tomar as próprias decisões, ter independência para decidir o que é melhor para a sua carreira e não dever satisfação a ninguém só pode ser um benefício. Certo?
Não é exatamente por aí. Seja por escolha ou por necessidade, ser chefe de si está longe de ser a mais fácil das incubências – especialmente quando falamos de grana. Ser o próprio financeiro e estar sujeito às imprevisibilidades da demanda, incertezas de retorno, dificuldades na precificação… tudo beira o clássico filme de Laís Bodanzky, de 2001: Bicho de Sete Cabeças.
Na missão de domesticar a fera, nasce o livro Chefe de Mim: Liberdade Financeira Sem Carteira Assinada, de Nathalia Arcuri. Nathalia é fundadora da Me Poupe!, uma das principais plataformas de entretenimento financeiro do país, e autora de livro homônimo, que teve mais de 700 mil exemplares vendidos.
Agora, a missão da educadora financeira é trazer técnicas, reflexões e exemplos de casos de sucesso para conquistar mais estabilidade, previsibilidade e liberdade financeira para dentistas, diaristas, arquitetos, engenheiros… autônomos de todo o Brasil (que correspondem a quase 30% da nossa força de trabalho, diga-se). Tudo isso enquanto alguém que, há quase dez anos, largou tudo para embarcar nessa jornada.
“Esse livro não serve apenas para ensinar a controlar gastos, mas também mostrar que o autônomo é, sim, a própria empresa e o próprio funcionário. Quero embutir a mentalidade de empresa no leitor, para podermos destravar sua vida financeira”, explica a autora. No bate papo com a Você S/A, ela compartilha um pouco da sua inspiração para escrever o guia, o diferencial para sua última obra, e, claro, o que vem pela frente. Confira.
Qual foi o catalisador para você escrever esse livro? O que te fez perceber que ele precisava estar no mundo?
Meu pai foi autônomo praticamente a vida inteira. E eu percebi, ali, essa dificuldade de saber como vai ser o amanhã, como cobrar pelos produtos, como fazer um orçamento… Percebo essa dificuldade nos meus alunos e seguidores também. Pessoas que estão nessa vida e são levadas a acreditar que não conseguem ter gestão financeira. Mas dá, sim – o livro é feito justamente para isso.
Diaristas, dentistas, engenheiros, arquitetos… essas pessoas são o próprio produto. Motoristas de aplicativo também, entregadores. Um lugar em que o Sebrae não alcança e o planejamento financeiro para pessoa física também não. O livro é pensado justamente para esse público.
E não é feito apenas para ensinar e controlar gastos. É também para mostrar como dividir a pessoa física da pessoa jurídica, e mostrar que o autônomo é a própria empresa e também o próprio funcionário. Quero embutir essa mentalidade de empresa na cabeça dele.
Você tem outro livro, o Me Poupe, voltado também à gestão financeira. Para quem é autônomo e já teve contato com essa última obra, o que ele pode esperar de diferente?
Neste livro, a gente fala muito mais sobre essa divisão. No Me Poupe, você tinha apenas um trabalho, que era fazer dinheiro para a pessoa física. Lá, inclusive, havia o conceito de renda extra, que não existe aqui.
Quero ensinar ao autônomo como gerar mais renda enquanto pessoa jurídica, por meio da profissionalização da atividade. Ensinar a cobrar mais os clientes, e ter previsibilidade de entrada e de receitas, especialmente de como dividir essas duas coisas. Faço inclusive uma brincadeira de nomes, Ruth e Raquel, para ilustrar a importância de separar a PJ da PF.
Você traz duas frentes no livro: a mais burocrática, com planilhas, conceitos, dados… e uma mais filosófica. Por que acredita que isso é importante na hora de pensar educação financeira?
Eu trago isso desde sempre no meu método: para a gente poder falar de planejamento precisamos falar sobre metas. Ter um ponto de partida e um ponto de chegada. E, para definir isso, eu preciso entender quem eu sou enquanto pessoa. Acho que é por isso que você sentiu uma certa filosofia na obra: eu sempre parto dos novos valores pessoais para poder construir metas.
“Quero ensinar ao autônomo como gerar mais renda enquanto pessoa jurídica, por meio da profissionalização da atividade.”
São a partir delas, inclusive, que eu construo um plano mais individualizado, olhando para o ser humano. E o sucesso do meu método também depende disso: afinal, nós, seres humanos, somos naturalmente indisciplinados. Eu só vou conseguir convencer uma pessoa de executar aquele plano porque ela sentiu que o sonho dela se tornará realidade por meio daquilo.
Tocando nesse assunto de individualidade, como esse livro reflete seu entendimento de sucesso? Como você tenta navegá-lo?
Eu sempre gosto de ser do contra, haha. Mas não só por teimosia, e sim porque tenho uma sensibilidade sobre o que está acontecendo no mundo hoje. Eu percebo um cansaço em torno da narrativa do crescimento exponencial. Do tipo: “fique milionário”, “como conquistar seu primeiro bilhão”… sempre focado na escalabilidade.
Para escrever, eu pensei comigo: esse não é um desejo universal. Não tem a ver com falta de ambição, e sim com dar valor para outras coisas da vida. Às vezes, conseguir pagar as contas, ter uma aposentadoria tranquila, colocar a cabeça no travesseiro sem estar constantemente preocupado com dinheiro já é o suficiente.
Tem um momento do livro que eu falo: olha, se você quiser escalar, é daqui para frente. Essa obra vai ser uma excelente referência básica de como chegar lá, mas isso não será defendido em nenhum momento. Especialmente num contexto de trabalho autônomo, em que às vezes o trabalhador precisa vender o almoço para comprar a janta. Quero trazer organização e previsibilidade, não apenas prosperidade.
Falando nessa organização, ela é defendida no livro como forma de sanar os problemas financeiros do trabalhador autônomo. Mas existem outros fatores de insegurança econômica, política e social que interferem na vida dessa pessoa aqui no Brasil. Como isso é levado em consideração na obra?
É impossível pensar na nossa cultura, nossa ancestralidade e nas bases das quais o Brasil foi constituído sem falar sobre autônomos e pequenos empreendedores. E, quando pensamos nesse contexto, precisamos entender que organizar não é suficiente, precisamos curar algumas feridas históricas – especialmente quando falamos de mulheres pretas, mães solo, que precisam ascender socialmente não apenas por elas, mas por toda a família que veio antes e pela família que virá depois.
“Eu percebo um cansaço em torno da narrativa do crescimento exponencial.”
Justamente por isso, para além da organização, eu bato tanto no ponto de geração de valor. Ter a coragem de cobrar. A gente tem essa síndrome do impostor (não só o público feminino, mas todas as minorias no país), e isso faz com que entremos no mercado já sentindo que somos piores, inferiores. O livro tenta trazer ferramentas para que a pessoa perca o medo de vender, que tenha autoestima, e que entenda a importância de estabelecer e buscar contratos fixos – que só vão ser possíveis se você acreditar genuinamente no seu produto.
Você embarcou na jornada para trazer educação financeira aos CPFs, agora aos CNPJs… qual é o próximo passo do Me Poupe? Algum novo livro no horizonte?
O foco agora é no nosso streaming de finanças Me Poupe+, que tem um curso homônimo. Inclusive, é de lá que nasce o livro: fiz o primeiro curso, percebi quanto ajudou os alunos, e idealizei o Chefe de Mim como se fosse um material didático mesmo.
A ideia é fazer com que ele chegue em muito mais gente. Esste ano fechamos parcerias excelentes com o Tesouro Direto, com a B3, Banco Inter… estamos trabalhando para dar acesso à plataforma a cerca de 10 milhões de pessoas.
Sobre novos livros, não tem próximo. Ainda.
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