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Sociedade entre amigos: cilada ou sucesso?

Livro questiona o tabu acerca dos negócios entre amigos e familiares e afirma que misturar vida profissional e pessoal pode dar muito certo.

Por Fernanda Colavitti
28 dez 2020, 17h00
Grupo de amigos
 (Thinkstock/Thinkstock)
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“Amigos, amigos; negócios à parte”.  A expressão popular, que virou mantra dos manuais de negócio, é questionada pelas americanas Claire Mazur e Erica Cerulo no livro Work Wife. Nele, as autoras, melhores amigas e sócias bem-sucedidas, defendem que algumas características das grandes amizades, como comprometimento, parceria e intimidade, também são responsáveis por uma sociedade longeva e próspera, daí o título da obra (“casamento no trabalho”, em tradução livre). 

Levando-se em conta ainda a trajetória de empresas como Apple, Google e Airbnb, todos projetos de “garagem” entre amigos, e o fato de que 23,5% dos empreendedores brasileiros têm parentes ou amigos como sócios, de acordo com uma pesquisa realizada pelo Sebrae no ano passado, a teoria das americanas parece fazer ainda mais sentido.

A intimidade é apontada como um dos principais motivos para o sucesso da sociedade entre os dentistas paulistanos Flavia Samuel Pansa, 37 anos; Juliane Turassa Chaves Uyeda, 39; Liandra Turassa Chaves Doi, 39; Renata Alves de Lima Arcaldi, 38; e Daniel da Paixão Uyeda.

O negócio nasceu em 2007, entre o grupo de amigas, que eram bem próximas durante a faculdade e tiveram a ideia de se juntar para abrir uma clínica, A Phile Odontologia, em São Paulo, com todas as especialidades, já que cada uma seguiu uma área diferente da odontologia.

Depois, uma das sócias se casou com outro amigo da faculdade, e ele também entrou para o negócio, em 2011.  “Sempre superamos os conflitos conversando”, diz Flávia. “Acho que, porque temos muita intimidade, cada um pode falar o que pensa, e a gente não leve as críticas para o lado pessoal.”

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Para a doutora em administração Dariane Fraga, amizade e trabalho podem andar juntos. “Mas os envolvidos devem separar a vida pessoal da profissional”, afirma. “A melhor maneira é profissionalizando a sociedade.”

No estudo que realizou sobre o tema para sua tese de doutorado, a especialista concluiu que a formalização integral da empresa leva ao melhor desempenho financeiro e à maior expectativa de sobrevivência do negócio.

Outro ponto fundamental, de acordo com Evelise Galbe, consultora de negócios do Sebrae em São Paulo, é negociar desde o início o que será feito nos piores cenários. “Defina os papéis e funções dos sócios claramente: quem vai ficar no operacional, no comercial; quem tem perfil mais administrativo.” 

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Foi o que fizeram os sócios e amigos Daniel Pereira da Silva, 30, Jun Sato, 29, Tiago Komagome, 29, Marcelo Nakamura, 33 e Kleber Ojima, 42, que se juntaram para abrir a hamburgueria The Pitcher, em São Paulo. Eles se conheceram jogando no mesmo time de beisebol, em 2011, e foi lá que surgiu a ideia de abrir a hamburgueria temática, inaugurada em 2016.

Daniel, formado em gastronomia, cuida da cozinha e do conceito da casa. Marcelo, formado em gestão estratégica, fica na parte de marketing e administrativa; Jun, no backoffice; e Tiago, na parte operacional da cozinha. “Assim como em qualquer relacionamento, cada um tem suas ideias, suas opiniões, e temos de ceder”, afirma Nakamura. “Pelo fato de a gente se gostar e se admirar muito, fica muito mais fácil fazer essas concessões. Somos muito felizes trabalhando entre amigos.”

Receita do sucesso

As três decisões prévias necessárias para o bom andamento da sociedade:

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  1. Definir o objetivo da sociedade: qual a geração de caixa esperada? Qual o critério para as retiradas, como pró-labore e distribuição de lucro?
  2. Estabelecer o papel de cada um dos sócios: quem será o responsável pelas decisões gerenciais? Ou as decisões serão conjuntas? Quem vai participar da gestão do negócio? Como?
  3. Elaborar um contrato social com cláusulas que suportem eventuais conflitos futuros: se um dos sócios decidir sair da sociedade, o que deverá ser feito? Se surgir uma oportunidade de venda do negócio, como deverão proceder? Se um dos sócios falecer, os herdeiros podem assumir a gestão?

Fonte: Dariane Fraga, administradora de empresas

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