“Quando eu penso a respeito de mudanças climáticas, a palavra que me vem à cabeça é ‘empregos’.” A frase é de Joe Biden, ainda na época da campanha para a eleição. Agora que ele já está confortável na cadeira presidencial, os Estados Unidos começam a enxergar a defesa do meio ambiente não mais como quem sente uma pedra no sapato – era assim na gestão Trump –, mas como uma bela oportunidade de gerar negócios.
Sim, porque mesmo Biden não é exatamente um ativista do Greenpeace. Ele só tem o bom senso de juntar um tema sensível aos simpatizantes do Partido Democrata com o que o povo todo, incluindo os investidores, quer ver: dinheiro circulando. E o caminho para isso, em se tratando de combate ao aquecimento global, passa necessariamente pelo avanço das energias limpas.
Conforme os investimentos aumentam (e com Biden vão aumentar) e a tecnologia avança, os custos de fontes renováveis, como energia eólica e solar, despencam – tornando essa onda verde um negócio bem mais atrativo. A previsão, na verdade, é de que se acelere uma tendência que não começou da noite para o dia. Segundo a International Energy Agency (IEA), o custo da produção de energia solar caiu 82% desde 2010. E cada vez mais a eletricidade que acende a luz no seu teto e carrega o seu celular vem de fontes renováveis.
Mesmo no Brasil tem sido assim. Somos privilegiados pelo fato de 70% da nossa energia já vir de uma fonte limpa, a hidrelétrica. O potencial de expansão das barragens, no entanto, é limitado. Até pouco tempo atrás contornávamos esse problema construindo termelétricas a carvão. Isso mudou. O que mais cresce é a produção de energia vinda do sol e do vento.
Estamos na sétima colocação global em capacidade instalada de energia eólica. Um a cada 10 GWh consumidos no Brasil vem do vento. A energia solar cresceu 212% em 2019 e, mesmo com a crise, outros 25% em 2020. Hoje ela responde por 1,7% da matriz energética brasileira.
Destacamos aqui algumas companhias listadas na B3 que geram 100% de sua energia a partir de fontes renováveis – e que hoje estão focadas em ampliar seus parques eólicos e solares. Também entram duas que não produzem energia, mas que são players importantes do setor. De quebra, relacionamos três gringas cujas ações você também pode negociar por aqui mesmo, via BDR. Veja aqui.
AES Brasil (AESB3)
Em 2015, quando ainda se chamava AES Tietê, a companhia começou um processo de transformação. Ela fabricava energia exclusivamente por meio de usinas hidrelétricas. Nos últimos anos, porém, passou a montar parques de geração eólica e solar. Nos próximos, pretende investir R$ 7,5 bilhões para elevar a sua capacidade, dos atuais 3,9 GW para 5,2 GW (para comparar: a Eneva, sua concorrente, e especializada em usinas térmicas a gás natural, tem 2,8 GW).
Em 2021, a AES Brasil vendeu parte de seu parque de energia solar para o Itaú, por R$ 855 milhões. E a ideia é que esse capital ajude a financiar a ampliação da empresa.
“Acreditamos no modelo 100% renovável”, afirmou Clarissa Sadock, CEO da AES Brasil, em entrevista à Você S/A. “Focamos [simultaneamente] em energia eólica e solar porque essas fontes se complementam. Num ano em que chove muito, venta menos; então vai ter uma queda de um lado da geração e um aumento no outro.”
A AES é tradicionalmente uma boa pagadora de dividendos, como a maior parte das elétricas bem estabelecidas. Em 2020, o dividend yield foi de 5,4%. Ou seja, quem tinha R$ 1.000 em ações da companhia recebeu R$ 54 na conta. O plano de expansão deve levar a um maior endividamento da companhia, o que pode comprometer o montante reservado para o pagamento de dividendos, ao menos no médio prazo.
WEG (WEGE3)
A WEG é uma gigante com 11 parques fabris na América do Norte, sete na Europa, quatro na África do Sul, três na Coreia do Sul e um na Índia, fora os 15 instalados aqui no Brasil. Mas não é uma companhia especializada em energia. A empresa é referência global em máquinas elétricas, com um imenso leque de produtos, que vão de estações de recarga para veículos elétricos a motores para equipamentos de mineração. Só que, de uns anos para cá, vem se tornando um competidor importante também no setor de maquinário para energia solar e eólica.
Recentemente, a empresa assinou contrato com a Aliança Energia para o fornecimento de 43 aerogeradores de 4,2 MW. O acordo inclui os serviços de logística, montagem e comissionamento, além de operação e manutenção. Os contratos preveem a construção de quatro parques eólicos, com previsão de faturamento de aproximadamente R$ 590 milhões. As entregas desses aerogeradores devem começar agora em 2021 e se estender até 2022.
E, se você quer saber da saúde financeira da companhia, a ação da WEG foi a que mais subiu na década encerrada em 2020. Para se ter uma ideia desse salto, o papel custava R$ 16,50 no final de 2017. Três anos depois, passou de R$ 80 – quase cinco vezes mais. E o valor de mercado da WEG – ou seja, o valor somado de todas as ações da empresa – subiu de R$ 35 bilhões para R$ 170 bilhões. Um duplo twist carpado de quase 400%. Em 2021, o papel passa por uma fase de correção de valores: caiu 16% desde o início de janeiro.
Aeris (AERI3)
Fundada por profissionais oriundos do setor aeronáutico, a Aeris se dedica, desde 2010, a fabricar pás para geradores de energia eólica, comercializadas tanto no Brasil quanto no exterior.
Seus 5.000 funcionários devem estar satisfeitos: a Aeris foi considerada pelo Great Place to Work como a terceira melhor empresa para se trabalhar no Ceará – e está entre as cem melhores do Brasil. A localização da companhia é estratégica: a região Nordeste concentra hoje mais de 70% do potencial eólico instalado no Brasil. A Aeris também é uma grande exportadora. Em 2019, as vendas para outros países responderam por 7 em cada 10 reais de sua receita líquida.
Além do comércio, a empresa ainda presta serviços em torres eólicas aqui e nos Estados Unidos: faz reparos, pintura, limpeza, manutenção e inspeções fotográficas.
Sobre a solidez financeira: sua taxa de crescimento anual composta (CAGR, que mede a taxa de retorno de um investimento), de 2014 a 2019, foi de respeitáveis 42%.
Omega Geração (OMGE3)
Entre ativos operacionais eólicos, hídricos e solares, o portfólio da Omega Geração soma 1,86 GW de capacidade instalada – energia suficiente para abastecer 430 mil casas. Seu Complexo Eólico Delta Maranhão, localizado nos municípios de Paulino Neves e Barreirinhas, é a primeira usina eólica do Estado, e possui capacidade instalada de 426 MW.
Segundo dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), a Omega Geração emplacou, no último trimestre de 2020, nove de seus parques eólicos listados entre os dez com melhor desempenho no Brasil. Nesse mesmo período, a empresa teve lucro líquido de quase R$ 100 milhões – uma alta de mais de 100% em relação ao quarto trimestre de 2019. O desempenho positivo teve a ver com uma produção recorde em suas usinas – um resultado relacionado à expansão de 78%, em 12 meses, de sua capacidade instalada. Isso significou um salto de 38% na produção de energia.
Rio Alto Energia (RIOS3)
Especializada em energia solar, esta empresa está prestes a entrar na bolsa. O período de reserva para pequenos investidores comprarem ações antes do IPO foi até dia 23 de abril, com a estreia dos papéis na B3 prevista para dia 28. Sim, agora mesmo. A expectativa da empresa é de levantar R$ 805 milhões na operação.
O prospecto aponta que, do que for levantado no IPO, 90% vai para projetos de geração de energia solar, 7,5% para reforço de caixa e capital de giro, e 2,5% para investimentos em projetos futuros – também de energia solar.
A empresa tem escritório em São Paulo, mas seu Complexo de Coremas, composto por três usinas fotovoltaicas, fica no sertão da Paraíba.
A empresa faz parte do Grupo Rio Alto, que fechou 2020 com prejuízo de R$ 3,8 milhões. Mas isso foi considerado positivo pelo mercado, já que o resultado em vermelho do ano anterior tinha sido de R$ 11,1 milhões.
Elon Musk: sua Tesla, queridinha entre as BDRs, não faz apenas carros elétricos. Também é uma empresa fundamental na expansão da energia solar nos EUA.
BDRs DE ENERGIA LIMPA
First Solar (FSLR34)
Com base no Arizona, é uma das líderes no desenvolvimento de painéis solares de película fina. Esses módulos maiores produzem eletricidade a um custo por watt menor do que os painéis tradicionais, à base de silício.
A companhia desenvolveu, financiou, projetou, construiu e atualmente opera muitas das maiores usinas fotovoltaicas do mundo. Seus painéis estão presentes em 45 países – inclusive no Brasil.
Um fator que faz com que a First Solar se destaque no setor de fabricação de painéis para energia solar é seu forte balanço patrimonial. Ainda assim, segundo uma declaração recente do CEO da empresa, as vendas líquidas caíram de US$ 3,1 bilhões em 2019 para US$ 2,7 bilhões, no ano passado, devido a atrasos causados pela pandemia.
NextEra (NEXT34)
Gigante da produção tanto de energia eólica quanto solar, a NextEra acaba de brilhar no topo do ranking das empresas mais admiradas de seu segmento, da revista Fortune. A publicação considerou que a companhia chegou lá por seus belos atributos em inovação, gestão de pessoas, uso de ativos corporativos, qualidade de gestão, solidez financeira, valor de investimento de longo prazo e competitividade global.
A toda essa admiração, soma-se uma situação financeira sólida. A NextEra tem um fluxo de caixa forte, que lhe permite investir na expansão de suas operações sem deixar de pagar bons dividendos (foram 1,8% em 2020, lembrando que essa é uma boa taxa para o dólar, mais alta que a dos títulos públicos americanos de longo prazo). Além disso, a empresa tem uma das mais altas classificações de crédito entre as maiores concessionárias de energia elétrica dos EUA.
A análise é de que a empresa tem capacidade financeira para investir dezenas de bilhões de dólares nos próximos anos no desenvolvimento de projetos de energia renovável, com uma parcela considerável destinada à energia solar. Os analistas acreditam que esses investimentos devem impulsionar um crescimento nos lucros de até 8% ao ano até 2023.
Tesla (TSLA34)
A empresa de Elon Musk não é só a montadora de carros mais valiosa da história. Sua companhia também se destaca na indústria de energia renovável. A empresa vende armazenamento de energia e painéis solares. Sua subsidiária, a Tesla Solar, fabrica esses produtos e é conhecida por seus preços baixos.
A Tesla Solar busca criar um novo mercado: o das baterias de lítio domésticas. É a Powerwall, uma caixa-de-força que acumula a energia vinda dos painéis solares para que você possa utilizá-la durante a noite. O que sobrar vai para a rede. O consumidor se torna produtor, e recebe por isso (a forma como acontece a compensação depende do lugar onde você vive).
O negócio de carros elétricos garante a solidez da empresa. Em 2020 ela registrou quatro trimestres seguidos de lucro pela primeira vez em sua história (marcada por prejuízos bilionários). Com isso, passou a integrar o S&P 500, o clube das 500 maiores companhias americanas, o que ajudou a bombar o preço das ações. Foram 575% só no ano passado.
O perigo aí é o de as ações já terem subido demais. Tanto que, em 2021, o valor delas tem passado por uma correção: já caiu 15%. Até quanto pode cair? Ninguém sabe.
Mas o fato é que a Tesla segue firme como protagonista da virada global para matrizes energéticas. E tudo indica que esse negócio tem futuro. Até porque, sem ele, quem não terá um futuro é a própria humanidade.