Como montar uma reserva de emergência
Oito em cada dez brasileiros entendem a importância de guardar dinheiro para emergências, mas a maioria não tem nenhuma reserva financeira.
Os brasileiros não são muito bons quando o assunto é dinheiro. De acordo com uma pesquisa da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), 56% dos brasileiros começaram o ano de 2020 sem nenhuma reserva financeira. Ou seja, metade da população enfrentou a crise da covid-19 com os bolsos vazios.
Outro estudo, realizado pela CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas) e pelo SPC Brasil, mostra que 52% das pessoas não têm o hábito de poupar – e, entre aquelas que conseguem guardar um pouco de dinheiro, a maioria (62%) aplica o valor na poupança. A modalidade menos rentável.
E para piorar: 27% deixam o dinheiro em casa e outros 23% na conta-corrente – nesses casos, além de não render, o valor ainda está perdendo poder de compra por causa da inflação.
A ironia disso tudo é que 85% dos brasileiros entendem a importância de guardar dinheiro para emergências.
Sim, é difícil ver dinheiro sobrando e não poder gastar. Mas ter um colchão de segurança é fundamental para evitar dívidas caso surja um imprevisto – como acidente, doença ou desemprego. Muita gente, por exemplo, foi pega de surpresa pelo coronavírus e agora está enfrentando problemas financeiros porque não tinha dinheiro investido.
Por onde começar
A primeira regra da reserva de emergência é que o valor precisa estar disponível a qualquer momento. Não adianta você ficar desempregado hoje e só conseguir sacar o dinheiro da reserva no mês que vem.
Por isso, escolha um investimento que tenha liquidez diária. Ou seja, que leva só um dia útil para o dinheiro cair na sua conta. Aqui, é preciso evitar a tentação da poupança. Ela é um investimento com liquidez diária e que não paga impostos, mas não significa que seja o ideal.
Acontece que a poupança rende pouco e ainda tem a data de aniversário, que é o dia do mês que a aplicação rende. Então, se você aplicou dinheiro no dia 5 de dezembro, o rendimento vai cair no dia 5 de janeiro, e assim por diante. Isso significa que para não perder a rentabilidade do mês, você só deveria sacar o dinheiro no dia 5. Além disso, quando a inflação está muito alta, esse rendimento não é suficiente. E o dinheiro começa a perder valor.
A solução é investir em Tesouro Direto, CDB de liquidez diária ou Fundos de Renda Fixa com prazo de resgate D+0 e D+1. Esse “D+” é uma sigla usada pelos bancos para indicar quantos dias úteis são necessários para resgatar o dinheiro. O D+0 significa que o dinheiro cai na conta-corrente no mesmo dia; já o D+1 indica que o valor pode ser resgatado em um dia útil.
Lápis, papel e calculadora
Modalidade de investimento escolhida, agora é a hora de saber qual o tamanho da sua reserva financeira. Para isso, tenha na ponta do lápis todo o seu custo de vida: o quanto gasta com as contas, supermercado, transporte, plano de saúde, cursos, etc.
Depois disso, defina o grau de segurança da sua reserva. O colchão de emergência deve sustentar, no mínimo, seis meses de despesas pessoais. Significa que se você for demitido, você vai poder ficar seis meses sem fonte de renda. Se você sustenta outras pessoas ou é um profissional autônomo, o ideal é juntar uma reserva equivalente a 12 meses. Quanto maior for a reserva, mais tempo você pode ficar tranquilo.
Por exemplo, os seus gastos mensais somam R$ 2 mil. Logo, a sua reserva mínima deve ser de R$ 12 mil para se manter por seis meses.
Aproveite que está colocando todas as contas no papel e elimine os gastos desnecessários do dia a dia, como assinaturas recorrentes, produtos que podem ser substituídos por uma versão mais barata e por aí vai.
Veja também se você tem dívidas e faça um planejamento para conseguir quitá-las sem prejudicar o orçamento da reserva. Se você tem uma dívida de R$ 1 mil que está dividida em cinco meses, vai precisar pagar R$ 200 por mês. Esses R$ 200 têm que estar na conta do seu custo de vida, ou seja, você tem que pagar com o seu salário mensal e não com a reserva financeira.
Dinheiro no bolso
Montar uma reserva deve ser prioridade. Ela é mais importante do que comprar um carro ou viajar – esses sonhos deveriam ser realizados só depois que a sua reserva estivesse pronta, mas nem sempre dá para viver dessa forma. Então, tente separar, pelo menos, 10% do salário para montar o colchão. Se o salário é de R$ 3 mil, então R$ 300 é para emergências.
Nesse ritmo, para juntar R$ 12 mil vai levar um pouco mais de três anos. Para reduzir esse tempo, a dica é aproveitar benefícios como 13º salário, férias, bônus e outros recursos extras que aparecem no meio do caminho.
Outra dica é ser constante nos investimentos. Não adianta depositar um pouco em um mês e esquecer de fazer o mesmo no outro. Você pode até colocar um pouco menos de dinheiro em um período de mais gastos e depois voltar para os 10%, mas nunca deixe de separar esse valor.
Quanto você atingir o valor da reserva, também não deixe de colocar dinheiro nela. A verdade é que sempre surgem emergências. Se o pneu do carro furar, já é um gasto inesperado e que nem sempre cabe no orçamento. Ou seja, se não tomar cuidado, a reserva financeira vai embora.