Uso do cheque especial caiu e foi depois que o BC limitou o juro
Há um ano, o Banco Central decidiu que bancos não poderiam cobrar mais de 8% ao mês de quem ficasse no negativo.
Há um ano o Banco Central decidiu colocar um limite nos juros cobrados de quem entra no cheque especial. Disse aos bancos que 8% ao mês estava de bom tamanho. Naquela época, tinha quem cobrasse o dobro de quem escorregasse para o negativo da conta corrente. Na média, o juro era de 10,9%.
A paulada até veio com um afago: o BC permitiu que instituições financeiras cobrassem tarifas de clientes que quisessem ter a linha de crédito disponível, mesmo que nunca caíssem no cheque especial.
Essa tarifa era um pedido antigo do setor. Os bancos diziam que era o modelo de outros países, os que têm juros menos escorchantes. Se pudessem adotá-lo, os juros cairiam naturalmente.
Hoje o cheque especial sai em média por 6,5% ao mês. Significa que uma dívida de R$ 1.000 se transforma em R$ 1.065 depois de 30 dias. E em R$ 2.129 depois de um ano – maldito juro composto.
Só que a história de cobrar mais uma tarifa não vingou. Pegou tão mal que nenhum banco arriscou arrumar mais uma antipatia com os clientes. Afinal, quem oferece cheque especial, grosso modo, são os grandes, os mesmos que cobram manutenção de conta, TED, anuidade de cartão mais um corredor polonês sem fim de taxas.
Mas uma coisa curiosa aconteceu depois da queda forçada dos juros, essa sim típica de livre mercado. O uso do cheque especial caiu 18%. Em novembro, dado mais recente do BC, foram emprestados R$ 26 bilhões para quem gastou mais que o salário. Em dezembro do ano passado, consumidores haviam usado R$ 31,7 bilhões.
Uma das teses para o fenômeno é a de que as pessoas estão com as contas mais controladas durante a pandemia. E isso, de alguma forma, é verdade. A inadimplência do brasileiro nunca foi tão baixa. Outra é a concorrência entre bancos, que acabou baixando essa modalidade de crédito – que, mesmo assim, segue em indigestos 113% ao ano, 58 vezes a Selic. Fuja.