“Há uma regra silenciosa de que não se deve perguntar sobre salário”, diz psicóloga
Em entrevista, a psicóloga Pamela Magalhães explica porque o tema remuneração ainda é visto como tabu e tratado de maneira tão delicada.
SÃO PAULO – A edição número 208 da revista Você S/A trouxe como matéria de capa um levantamento exclusivo feito pela consultoria Robert Half que aponta os maiores e menores salários em 2016 em oito setores da economia. Conversamos com a psicóloga Pamela Magalhães para tentar entender porquê o tema remuneração ainda é tão delicado e espinhoso.
1-Por que falar sobre salário é tabu?
Pamela – Existe uma regra silenciosa de que “ninguém deve falar ou perguntar sobre quanto um ou o outro ganha”, como se abordar o tema dinheiro, salário, valores, fosse deselegante. E esta crença está arraigada no funcionamento humano há muito tempo. Em países como o Brasil, em que a desigualdade econômica e consequentemente entre os salários é muito grande, abordar essa questão entre colegas ou mesmo com o chefe é por muitas vezes dificultoso. Em relação à chefia, há frequentemente o receio de desagradar, de não ser o momento certo, ou então de tornar sua imagem ambiciosa demais, ou até, se jamais questiona o salário pode-se transmitir a ideia de que se é acomodado. São tantas as dúvidas, mas o que se sente na maior parte das vezes é o receio de colocar o cargo em risco. Em relação aos colegas de trabalho, falar da remuneração pode vezes ser mais fácil, ou ora ser complicado também em razão das competições veladas, dos privilégios dados para um e não concedido ao outro, ou até aquele tem o mesmo cargo que o colega, mas está há mais tempo na empresa e por isso sua remuneração passa a ser maior. Enfim, dependendo de cada ambiente, há uma política e consequentemente um clima, e para evitar vulnerabilidade e até desgastes, muitos optam em se calar e manter esse tema em sigilo.
2-Já não é hora desse tabu ser superado?
Penso que o ideal seria podermos falar abertamente sobre dinheiro, valores, salários. Para então termos a oportunidade de reavaliar nosso desempenho e aquilo que recebemos. Saber o quanto o colega com o mesmo cargo ganha e se deparar com o fato de talvez ele receber mais do que você, poderia ser um bom incentivo para manter-se mais empenhado e dedicado ao trabalho. Quanto à relação de empregador e empregado, ela seria mais clara, objetiva e profissional. Porém, não podemos esquecer das peculiaridades humanas, diante de tanta transparência, invariavelmente teríamos reivindicações, insatisfações, discussões em função do contato franco das diferenças, despertando sentimentos comuns do humano, como inveja e competitividade.
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3- Como lidar com esse tema espinhoso?
Entendo que falar sobre dinheiro deve ser cada vez mais exercitado, seja no ambiente familiar ou de trabalho. Porém, considero importante o bom senso de como abordar esse tema. Precisamos ter cuidado e sempre lembrar dos sentimentos existenciais humanos que poderão ser despertados dependendo do modo que dissermos ou mesmo com o que falarmos e para quem. Encontrar o equilíbrio entre o que falo, para quem digo e quando o faço, pode servir de grande valia para nosso clima organizacional e familiar. A autopreservação inclui estarmos atentos ao meio e ao que há em nossa volta. Falemos sim sobre insatisfações salariais, conversemos sim com nossos colegas sobre o que sentem e como sentimos quanto ao reconhecimento da empresa sobre nossos afazeres, e até devemos sim observar o melhor momento para abordar a chefia e dividir sensações e possíveis revisões de valores. Mas, sempre com muito tato, jogo de cintura e ponderação.
Leia mais sobre o tema salário na edição de novembro (208) da revista Você S/A