A carta mais lida da Faria Lima passa um pito em Jair Bolsonaro
Gestor do fundo Verde elevou seus investimentos em dólar para atravessar a segunda onda da pandemia. A moeda americana fechou esta sexta em R$ 5,68.
Todo mês, gestores de fundos publicam cartas em que prestam contas aos cotistas sobre o resultado dos investimentos. Nessas cartas, eles explicam o que esperam da economia dali para frente, já que essa é a base das decisões de compra e venda de ações, moedas e outros ativos.
Luis Stuhlberger é um dos gestores mais respeitados do país, o dono do célebre fundo Verde. Todo mundo lê o que ele escreve. E a carta dele de fevereiro é curta e grossa com o governo Jair Bolsonaro.
Stuhlberger chamou de “opção política” a decisão de Bolsonaro de não comprar mais vacinas. E disse o óbvio: que isso tem consequências para além das mortes de mais de mil pessoas por dia que estamos vivendo. Causa impacto econômico ao país. “É inacreditavelmente mais barato comprar vacinas do que fazer mais gastos fiscais — que vem com endividamento, mais inflação, juros mais altos etc.”
Depois, ele criticou os esforços do Congresso para driblar o teto de gastos e também quem diz ter cansado do isolamento e se aglomera em festinhas, acelerando a disseminação do vírus.
A preocupação continua sendo fiscal, claro. Bolsonaro pode continuar negando a pandemia, mas há uma parte do governo fazendo o mínimo que o presidente deixa para a economia não afundar enquanto isso. Governadores e prefeitos precisam parar a atividade para diminuir a circulação do vírus e diminuir o tamanho do colapso em andamento no sistema de saúde. É por isso que Brasília articula uma segunda rodada de auxílio emergencial e ajuda a empresas — que por enquanto parece vir apenas na forma de pedalada em tributos. Sem isso, o cenário ruim de Stuhlberger fica ainda pior.
Enquanto isso, o gestor adotou a mais clássica das estratégias defensivas. Comprou mais dólar. A moeda americana funciona como proteção: sobe com a saída de estrangeiros quando todo o resto aqui no país derrete.
É o que a gente tem visto nas últimas semanas. Nesta sexta, a moeda americana fechou em alta de 0,45%, a R$ 5,6835. Durante o dia, mais uma vez chegou a ser negociada acima dos R$ 5,70.
O dólar mais caro é um dos principais motores da inflação no país, com efeitos ainda mais nefastos sobre a população que sofre com a perda de renda. Mas esse é só um dos ativos que mede o quanto a economia degringolou desde o começo do ano.
Enquanto isso, nesta sexta a bolsa brasileira avançou mais de 2% e fechou a 115.202 pontos. É um resultado positivo, sem dúvida, especialmente para mergulhou em 107 mil pontos no pior momento da semana. Essa grande variação é só mais um termômetro de que as coisas não vão nada bem pelas bandas de cá.
O dia positivo contou com uma ajuda de Wall Street. Por lá, a questão continua sendo uma eventual recuperação pós-vacinação mais rápida do que investidores esperavam. Se confirmada, juros sobem para administrar a inflação, o dólar se valoriza mais e as bolsas caem.
Investidores ansiosos passaram a considerar esse o cenário mais provável. Por isso, ignoram os avisos do Fed (o banco central dos EUA) de que as coisas não vão tão bem assim e que dados de recuperação do emprego mostram que uma parcela da população, o setor de serviços, ainda está de fora.
Por hoje, o alerta ajudou. Os juros de longo prazo, os que têm deixado o mercado financeiro em polvorosa, deram uma acomodada. Aí as bolsas subiram e deram o tom mais positivo para o final da semana. O S&P 500 avançou 1,95%, a 3.841, enquanto a Nasdaq teve alta de 1,55%, para 12.920.
Mas segunda você já sabe: tem mercado de novo.
Maiores altas
Maiores baixas
Petróleo
Brent: +4,32%, a US$ 69,62
WTI: +3,92%, a US$ 66,33
Minério de ferro
-2,17%, a US$ 174,11 por tonelada no porto de Qingdao, na China