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A maior sequência de quedas da história

Os deuses do mercado foram cruéis: fizeram o alívio na Selic coincidir com 13 tombos consecutivos no Ibovespa, algo nunca visto antes. Mas a expectativa para o longo prazo segue.

Por Alexandre Versignassi
6 set 2023, 05h08
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 (patpitchaya/Getty Images)
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Você é técnico de um time de futebol. Sua equipe está bem, jogando solta, e faz um a zero aos 20 minutos do primeiro tempo. Só que o adversário, um time do mesmo nível do seu, também está com sangue nos olhos. Aos 27 min, mandam uma bola na trave do seu goleiro. A pressão vai aumentando. E agora? Exigir que o seu time recue para evitar o pior, e perca o embalo? Ou seguir com o jogo aberto para tentar mais um gol, só que deixando brechas perigosas na defesa?

Não há uma resposta certa. Cada uma das escolhas significa assumir um risco em troca de um retorno que você não sabe se vai vir. É assim em todos os esportes. Incluindo um que não costuma ser classificado como esporte: o mercado financeiro.

No dia 2 de agosto, o Banco Central reduziu a Selic em 0,50 pp, mais do que o mercado esperava. E ainda cantou que seguiria firme nos cortes até o final do ano. Ótimo sinal para quem investe: quanto menos juros, melhor para a bolsa.

Só que uma semana antes, o BC dos EUA tinha feito o oposto: aumentou a “Selic” deles, em 0,25 pp, elevando a taxa americana ao maior nível desde 2001, 5,5%. Da China, o motor econômico do planeta, também não vinham boas notícias. Dados da indústria, do consumo interno e do desemprego chegavam seguidamente piores do que as expectativas.

Ao investidor brasileiro, seja ele grande ou pequeno, ficava o dilema. Aproveitar para arriscar mais na renda variável no início dos cortes na Selic, com o Ibovespa ainda relativamente barato? Ou esperar até que a situação global desse uma arrefecida, mas sob o risco de perder o bonde das ações a preços módicos?

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Não havia uma escolha nitidamente mais acertada do que a outra. Mas existiam pistas. Os dois últimos pregões antes da decisão do BC tinham sido de queda, na esteira do mau humor global com os juros americanos e a desaceleração da China.

O Copom havia anunciado sua decisão na noite de quarta, dia 2. Na quinta, a bolsa abriu “jogando bem”, em leve alta, de 0,20%. Entrar comprando ações naquele momento, antevendo que o Ibovespa subiria mais e mais com a nova Selic, poderia ser uma boa decisão, especialmente depois de duas baixas seguidas.

Mas não foi. O pregão pós-Copom terminou em -0,23%, cravando uma terceira queda consecutiva do Ibovespa. Então viriam a quarta, a quinta, a sexta, a sétima… A visão pessimista com o cenário global seguia vencendo o cabo de guerra.

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Na oitava sessão de queda, em 10 de agosto, o Ibovespa engatava sua sequência mais longa de baixas em um ano. E não ficaria nisso, você sabe. A nona seguida, dia 16, marcou um novo recorde: desde 1998 o índice não passava por isso. Quando vieram a 10ª e a 11ª, igualava-se um recorde de 1984 – última vez em que o Ibovespa tinha caído por 10 dias seguidos, numa sequência que se estenderia até o 11º tombo.

Aí veio a 12ª queda consecutiva. Os analistas tiveram de escarafunchar dados arqueológicos do Ibovespa para encontrar algum paralelo. Havia só um. Certa vez, em 1970, o índice tinha emendado uma dúzia de dias seguidos no vermelho. Mas os deuses do mercado queriam mais sangue. No dia 17 de agosto, uma quinta-feira, a bolsa viveria a 13ª baixa consecutiva. O Ibovespa nasceu em 1968. Nunca, nesses 55 anos, tinha amargado uma sequência tão tétrica.

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Não foi um mau momento exclusivo do Brasil. Nos mesmos 13 dias úteis em que o Ibovespa colecionou 13 quedas, o S&P 500 passou por 10. A perda acumulada por lá nesse intervalo foi de 4,75% – não muito menor que a daqui, de 5,71%.

Seja como for, apostar num momento de bonança pós-Copom revelou-se um erro, ao menos para o curtíssimo prazo. O resto do mundo não colaborou. Por outro lado, as estatísticas indicam que a paciência tende a ser recompensada.

Como mostramos na nossa reportagem de capa de agosto: dos últimos 10 ciclos de redução na Selic, oito vieram acompanhados por altas de longo prazo no Ibovespa (medindo da data do primeiro corte até 24 meses depois).

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De qualquer forma, também é possível que simplesmente role uma terceira exceção à regra. O futuro, afinal, segue onde sempre esteve: num lugar inescrutável, de onde não raro brotam surpresas negativas. Encarar esse fato com a frieza necessária é fundamental para conseguir algum sucesso no esporte das finanças, e na vida.

 

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