Abertura de mercado: Faria Lima em silêncio para ouvir Jerome Powell
EUA apontam para uma sexta no azul lá fora, mas colocam um sinal negativo para a bolsa brasileira. Com o tamanho da crise hídrica que se desenha, até dá para entender,
Às 11h desta sexta-feira, a Faria Lima fará silêncio. Estarão todos atentos ao discurso de Jerome Powell, o todo-poderoso presidente do Fed, que finalmente deve dar alguma sinalização ao mercado sobre seus planos para conduzir a economia americana. Ele fala no simpósio anual de Jackson Hole.
Há meses a discussão do mercado financeiro é por uma redução no nível de estímulo à economia. É que além de baixar os juros americanos a zero, o Fed conduz, desde março do ano passado, um programa de compra de títulos que injeta US$ 120 bilhões todos os meses nas engrenagens da economia. Esse dinheiro tem feito as bolsas de lá enfileirarem recordes históricos como se bater recorde todo dia fosse a coisa mais normal do mundo.
O problema é que esse dinheiro todo também fez a inflação do país disparar para acima de 5% em 12 meses – não custa lembrar, aqui no Brasil, estamos ao redor de 9% e sem sinais de trégua.
O primeiro passo, portanto, não é subir juros, como a gente faz no Brasil, mas eventualmente reduzir ou cortar os US$ 120 bilhões que vão para a economia todo mês. Nem para isso há consenso. Não custa lembrar que o Banco Central americano é formado por 12 células espalhadas em cidades pelo país. E que, além de controlar a inflação, eles têm o compromisso de controlar o desemprego, que até anda baixo, mas não de maneira igual. Os dirigentes regionais não têm, portanto, um consenso sobre reduzir essa impressão de dinheiro, e cada um tem defendido publicamente sua visão sobre o tema.
Powell, que tem a palavra final, tem sido mais enigmático, daí a importância da fala dele de hoje. Não significa que ele fará um discurso 100% claro e direto – há quem ventile até que ele poderá continuar no modo esfinge e abordará a economia americana de forma mais abrangente. A ver.
O lance é que a expectativa fez as bolsas asiáticas fecharem sem uma direção única, enquanto a Europa vai praticamente estável. Nos EUA, os futuros dos principais índices operam em alta, indicando que o mercado poderá buscar uma recuperação após a queda de ontem, que já era uma expectativa por Powell.
Só que, se depender dos gringos, o Brasil não irá pelo mesmo caminho positivo. No pré-mercado americano, lê-se Brasil pelo ETF iShares MSCI Brazil (ticker EWZ). Esse ETF abriu em queda de 2,28%. Um outro jeito de medir o humor dos gringos é olhar os recibos de ações (ADRs) das nossas gigantes lá fora, também nesse modo aquecimento. Os ADR da Petrobras apontam para queda de 1,10%, na contramão da alta do petróleo, enquanto a Vale recua 1,62% no pré-mercado. Isso, claro, é só uma tendência. O jogo vale de verdade a partir das 10h (na B3) e 10h30 (lá em Wall Street).
Dá para entender o azedume. O Brasil se vê às voltas com uma crise hídrica severa e a cada dia sobe o risco de um apagão, sem que existam um plano abrangente de redução do consumo. Por enquanto, o governo lançou uma meta de redução de gastos em prédios públicos e disse que dará um desconto na conta de luz de consumidores que pouparem, mas esse programa não foi detalhado. Enquanto isso, Bolsonaro pede que você apague um ponto de luz na sua casa para ajudar.
De certo mesmo é que cada vez mais usinas térmicas serão acionadas para compensar a menor produção de energia hidrelétrica. Só que energia térmica é mais caro, e você vai pagar por isso. Hoje, por sinal, a Aneel dirá quão mais caro ficará a sua conta.
Com a divergência de sinais entre EUA e Brasil, nosso humorômetro do mercado fica, hoje, em cima do muro. Boa sexta a todos.
Índices dos EUA nesta manhã:
Futuros S&P 500: +0,28%
Futuros Nasdaq: +0,32%
Futuros Dow: +0,22%
*às 7h45
Como estão as bolsas europeias:
Índice europeu (EuroStoxx 50): +0,03%
Bolsa de Londres (FTSE 100): -0,02%
Bolsa de Frankfurt (Dax): -0,05%
Bolsa de Paris (CAC): -0,11%
*às 7h30
Como fechou o mercado asiático:
Índice chinês CSI 300 (Xangai e Shenzhen): +0,53%
Bolsa de Tóquio (Nikkei): -0,36%
Hong Kong (Hang Seng): -0,03%
Petróleo:* alta de 1,51%, a US$ 72,14
Minério de ferro: alta de 3,03% no porto de Qingdao (China), a US$ 157,55 a tonelada
*às 7h59
9h30 Banco Central divulga as estatísticas de concessão de crédito, taxa de juros e inadimplência no mês de julho
10h Roberto Campos Neto, presidente do BC, e Arthur Lira, presidente da Câmara, participam de live da Febraban (associação dos bancões)
11h Powell faz seu discurso em Jackson Hole
Nem chegou e já…
O Nubank ainda não é uma empresa com ações na bolsa, mas nem por isso deixa de causar burburinho no mercado. Nesta quinta (26), o Valor revelou que a fintech planeja ser avaliada em US$ 100 bilhões no seu IPO nos EUA, ainda sem data marcada – a venda de ações seria de US$ 5 bilhões. O total é quase o dobro do Itaú, e praticamente o mesmo da Vale, nossa maior empresa. A cifra não convenceu a todos, é verdade, mas já impactou o mercado: ontem, a maior alta foi a do banco Inter, cujas ações subiram 4,66% num dia em que o Ibovespa caiu 1,7%. Na onda do Nubank, os investidores avaliaram que o BIDI11 pode estar subavaliado, já que ambos são bancos digitais.
IPO midiático
A Forbes, popular revista de negócios e economia dos Estados Unidos, anunciou ontem que vai abrir seu capital na bolsa de valores americana. Mas não do jeito tradicional. A empresa vai se fundir com a Magnum Opus Acquisition, uma companhia já listada em bolsa, mas que não tinha um negócio. O propósito era justamente adquirir outra empresa – a modalidade é conhecida como SPAC ou “IPO do cheque em branco”. Com isso, a revista famosa por seu ranking de bilionários será avaliada em US$ 630 milhões. Em junho, o Buzzfeed, outro portal de notícias americano, também anunciou que planeja ir à bolsa de valores por meio de uma SPAC.
Vai e volta
Em julho, cerca de 2 mil funcionários da empresa americana Abbott Laboratories foram demitidos subitamente. É que a farmacêutica passava por uma crise: a demanda por seus testes rápidos capazes de diagnosticar Covid-19 em 15 minutos havia caído drasticamente, com a redução de casos e avanço de vacinação no país. Com as vendas lá embaixo, a empresa cessou a produção e decidiu jogar o estoque do produto fora. Um mês depois, os EUA vivem uma nova onda de infecções – o número de novos casos cresceu 24% nas últimas duas semanas; o de mortes dobrou. Aí a demanda por testes voltou, e as empresas correm contra o tempo para compensar o atraso. A crise é tão grande que a farmacêutica CVS anunciou limite de testes à venda por cliente. O The New York Times conta essa história em detalhes.
“Nós que temos dinheiro e raciocínio lógico temos dificuldade em entender Bolsonaro”
Até ontem, ninguém falava nada na Faria Lima. Agora, é tiro, porrada e bomba contra o governo Bolsonaro. Nisso, o mais respeitado gestor do país, Luis Stuhlberger, gestor do mítico Verde, deu sua contribuição. Em um evento da XP voltado a pequenos investidores, disse que “toda pessoa que tem dinheiro, ou pessoas do mercado financeiro, que se pautam por raciocínios lógicos, têm muita dificuldade de entender a estratégia do presidente Bolsonaro de escalar a tensão com o Judiciário”. Stuhlberger tem sido um dos mais vocais. Leia aqui.