Ações da Petrobras despencam 7% com incerteza sobre política de preços
Com alta do petróleo no mercado internacional, governo estuda congelar preço da gasolina temporariamente. Queda nos papéis da estatal ajudaram a derrubar o Ibovespa: -2,52%.
A semana começou com uma sangria generalizada nas bolsas mundo afora, com a guerra na Ucrânia não dando sinais de trégua. Por aqui, não foi diferente: Ibovespa fechou com amargos -2,52%. Além do mau humor geral, pesou também a queda drástica nos papéis da Petrobras, que têm, juntos, o segundo maior peso no índice, atrás apenas da Vale.
A PETR4 fechou a segunda-feira em queda de 7,10%, enquanto a PETR3 despencou 7,65% no pregão de hoje. Isso num dia em que o petróleo subiu 4,32%, e, na máxima, foi a US$ 139, maior valor desde 2008. Teoricamente, a alta da commodity tinha tudo para engordar os lucros das empresas do setor e impulsionar seus papéis nas bolsas. Foi assim com a Exxon Mobil, por exemplo, cujas ações subiram 3,59% hoje na bolsa de Nova York.
Mas o efeito foi contrário ao da Petrobras. O motivo é que investidores estão cautelosos com a estatal, já que o presidente Bolsonaro vem, já há bastante tempo, criticando a política de preços da empresa. Hoje, não foi diferente: disse que “não é admissível” repassar os custos pra gasolina, e chamou a política de preços da Petrobras de “legislação errada”.
Nisso, o mercado já entendia que o presidente vai tentar algum tipo de interferência para impedir que o aumento do petróleo leve a uma alta descontrolada no preço da gasolina – algo claramente ruim politicamente, ainda mais num ano eleitoral.
A maior bomba veio no final do pregão: o Estadão/Broadcast apurou que o governo cogita congelar o preço dos combustíveis pela Petrobras, de forma temporária. O custo de não repassar a alta do mercado internacional seria bancado pela estatal e, em última instância, por seus acionistas. Para passar, o Conselho da Petrobras teria que aprovar a medida. As ações da Petro, que já estavam afundadas no vermelho, aprofundaram ainda mais a queda depois da notícia.
Mais cedo, o plano que circulava pela imprensa era diferente. Nessa opção, o governo estuda criar um programa temporário de subsídio para conter o preço da gasolina. A ideia seria ter um valor fixo para a cotação dos combustíveis, e o governo subsidiaria a diferença entre esse valor e a cotação internacional do petróleo. O dinheiro para isso viria dos dividendos pagos pela empresa à União, a maior acionista.
Enquanto o governo não se decide, o petróleo segue seu rali no mercado internacional. Por aqui, o último reajuste feito pela Petrobras foi em 12 de janeiro. A defasagem no preço interno chega a 30%, no caso do diesel, e 26% para a gasolina.
O mercado assiste a novela com apreensão, como deu para ver nas ações da Petro. Mas, para falar a verdade, o mau humor foi generalizado nas bolsas nesta segunda-feira. Nem a alta de 3% da toda-poderosa Vale, na esteira da valorização do minério de ferro lá na China (+5,67%), conseguiu aliviar muito a queda do Ibovespa. Outro destaque negativo ficou para as companhias aéreas e de turismo, com o caos global causado pela guerra: queda de 18% para a Azul, 17% para a Gol e 10% para a CVC, liderando as maiores baixas do dia.
Lá fora
Enquanto isso, outros países também lidam com o aumento do preço do petróleo, mas de formas distintas. Ontem, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse que o país e seus aliados europeus estudavam seriamente boicotar o petróleo russo – o que fez o preço da commodity disparar às máximas. Mais tarde, Reino Unido e Alemanha descartaram essa iniciativa. Mas os americanos não parecem ter recuado.
Amanhã, a Câmara dos Deputados dos EUA deve votar uma lei que proíbe a importação de petróleo e outros produtos da Rússia. A medida tem apoio de deputados de ambos os partidos, incluindo da presidente da Câmara, Nancy Pelosi. Enquanto isso, a Casa Branca corre para procurar alternativas e evitar uma escassez no país caso a medida passe. Negociações estão sendo feitas até com a Venezuela – oficiais do governo Biden foram até Caracas para discutir a medida com o governo de Maduro, quem diria.
O mundo, por sua vez, segue assistindo a guerra no leste europeu, que infelizmente não dá sinais que vai acabar tão cedo. Hoje aconteceu a terceira rodada de negociações entre Ucrânia e Rússia, sem muitos avanços. Difícil manter otimismo nesse cenário.
Boa semana, na medida do possível.
Maiores altas
Bradespar (BRAP4): 3,60%
Vale (VALE3): 3,04%
Rumo (RAIL3): 1,97%
Marfrig (MRFG3): 1,62%
Rede D’OR (RDOR3): 1,33%
Maiores baixas
Azul (AZUL4): -18,00%
Gol (GOLL4): -17,36%
CVC Brasil (CVCB3): -10,49%
Americanas (AMER3): -10,24%
Alpargatas (ALPA4): -9,86%
Ibovespa: -2,52%, aos 111.593
Em Nova York
S&P 500: -2,96%, aos 4.200 pontos
Nasdaq: -3,62%, aos 12.830 pontos
Dow Jones: -2,38%, aos 32.813 pontos
Dólar: 0,03%, a R$ 5,0797
Petróleo
Brent: 4,32%, a US$ 123,21
WTI: 3,21%, a US$ 119,40
Minério de ferro: 5,67%, a US$ 161,65 a tonelada no porto de Qingdao (China)