Alta na inflação americana é má notícia para o Ibovespa
Ontem, CPI veio a 0,4% em setembro, levemente acima das expectativas – e derrubou bolsas em NY. Na China, dados de exportação vêm melhores que o esperado.
Bom dia!
Enquanto os brasileiros compartilhavam suas fotos de infância no Instagram, Wall Street reagia com desgosto ao último dado de inflação nos EUA. Divulgado ontem, o Consumer Price Index (CPI) registrou aceleração de 0,4% em setembro – o que mantém o saldo de 12 meses em 3,7%, mesmo nível de agosto. O consenso do mercado era de 0,3% no mês e 3,6% em um ano.
Já o núcleo do CPI, que exclui preços de alimento e energia – considerados mais voláteis – ficou em linha com as expectativas: 0,3% em setembro e 4,1% em 12 meses. Ainda longe da meta do Fed, de 2%.
O resultado geral levemente acima do esperado reforçou a ideia de que os juros devem permanecer altos no país por mais algum tempo. Visão reforçada por Susan Collins, do Fed de Boston, em pronunciamento: “A divulgação do CPI de hoje é um lembrete de que a restauração da estabilidade de preços levará tempo”.
Por outro lado, a dirigente seguiu o tom dovish de parte do colegiado e disse que a alta recente dos Treasuries pode reduzir a necessidade de mais apertos monetários, e que os juros já podem estar em seu pico.
A visão do mercado, segundo dados do CME, segue na mesma linha. 90,3% dos agentes financeiros apostam que a taxa de juros permanecerá em 5,50% na próxima reunião, que rola em 1° de novembro. Para dezembro, 69,2% esperam a manutenção.
Ainda assim, ontem, reinou a visão de que os juros possam levar tempo demais para sair desse pico. Foi aquele combo: bolsas em queda, títulos públicos e dólar em alta. O S&P 500 e o Nasdaq fecharam ambos a -0,6%. O EWZ, ETF da bolsa brasileira em NY, derrapou 2,05%. Os ADRs de gigantes da bolsa brasileira também caíram: Vale, – 2,06%; Bradesco, -2,40%; Itaú, -1,72%.
Hoje, o dia amanhece seguindo o tom pessimista. Os futuros de NY caem (veja abaixo), e o EWZ segue em -0,30% no pré-mercado.
Na China
Divulgados pelo governo chinês nesta madrugada, dados comerciais não tão ruins quanto o esperado podem ser o contrapeso otimista para o Ibovespa neste pregão.
Por lá, as exportações caíram 6,2% em 12 meses até setembro – contra expectativa de -7,6%, segundo dados coletados pela Reuters. Trata-se de uma redução do ritmo de desaceleração: em agosto, a queda havia sido de 7,3%.
Para as importações, a mesma coisa: queda de 6,2% em setembro contra 7,3% em agosto. O saldo foi de superávit comercial de US$ 77,71 bilhões – as expectativas eram de US$ 71,8 bilhões.
Balanços dos bancões
O desempenho do mercado lá fora também vai depender da reação às cifras divulgadas pelas maiores instituições financeiras dos EUA: hoje começa a bateria de balanços do setor para o terceiro trimestre.
Agora há pouco, o JP Morgan divulgou lucro líquido de US$ 13,2 bilhões e ganhos de US$ 4,33 por ação, melhor do que as expectativas de US$ 3,36. Ainda assim, no pré-mercado, as ações da instituição caem.
A BlackRock registrou lucro de US$ 1,64 bilhão e ganhos de US$ 10,91 por ação – contra expectativa de US$ 8,55. A receita ficou aquém do esperado, a US$ 4,52 bilhões (projeções eram de US$ 4,61 bi). No pré-mercado, as ações sobem 0,8%.
O Wells Fargo salta quase 2%, depois de divulgar lucro de US$ 5,8 bilhões.
A próxima bateria de resultados de bancões vem na terça que vem, quando Bank of America e Goldman Sachs divulgam resultados. Na quarta, é vez do Morgan Stanley. Por aqui, a temporada de balanços começa só lá na frente, em 24 de outubro.
Bons negócios!
Futuros do S&P 500: -0,09%
Futuros do Nasdaq: -0,34%
Futuros do Dow Jones: +0,06%
*às 8h25
Nova proposta da Americanas
Em recuperação judicial desde janeiro deste ano, a Americanas divulgou uma nova proposta aos credores nesta semana.
Na proposta antiga, o trio de acionistas referência — Carlos Sicupira, Jorge Lemann e Marcel Telles — injetariam R$ 12 bilhões na empresa. Desse valor, apenas R$ 8 bi entrariam diretamente no caixa da empresa, já que R$ 2 bilhões já tinham sido investidos pelo trio e outros R$ 2 bi só seriam feitos futuramente, em caso de necessidade.
Entre outras novidades, na nova proposta, o trio se compromete a colocar mais grana direto na empresa no curto prazo. Em troca, haverá uma conversão maior das dívidas em ações da Americanas.
Na prática, os R$ 4 bilhões serão injetados diretamente na companhia, totalizando os R$ 12 bi (vale dizer que a empresa já acessou e usou R$ 1,5 bilhão desse valor). Em troca desse reforço, os credores converteriam R$ 12 bilhões de dívida em ações das Americanas. Para quitar o restante de suas dívidas, a ideia é uma nova emissão de papéis, no valor de R$ 1,87 bilhão.
O novo acordo é um grande passo para o desfecho dessa novela de negociações com os bancos. O que, claro, não passou despercebido pelos investidores: AMER3 fechou em alta de 6,25%, a R$ 0,85.
10h, EUA: pronunciamento de Patrick Harker, do Fed da Filadélfia
15h, EUA: divulgação de relatório de sentimento do consumidor em outubro
- Índice europeu (Euro Stoxx 50): -0,83%
- Londres (FTSE 100): -0,40%
- Frankfurt (Dax): -0,79%
- Paris (CAC): -0,84%
*às 8h21
- Índice chinês CSI 300 (Xangai e Shenzhen): -1,05%
- Hong Kong (Hang Seng): -2,33%
- Bolsa de Tóquio (Nikkei): -0,55%
- Brent: 3,62%, a US$ 89,11
- Minério de ferro: 1,45%, a US$ 115,25 por tonelada na bolsa de Dalian, China
*às 8h23
Efeitos da guerra em uma economia global fragilizada
Em seu último relatório de perspectivas econômicas, o FMI reiterou que a economia global está passando por uma delicada recuperação. A autoridade manteve sua perspectiva de crescimento mundial para 3%, e reduziu levemente sua previsão de 2024 para 2,9%. O diretor do departamento de estudos do FMI, Pierre-Olivier Gourinchas, afirmou que, apesar da previsão de crescimento, o órgão via ”uma economia global que está mancando”.
Agora, o confronto entre Israel e o Hamas poderá escancarar ainda mais as fragilidades desse já machucado sistema econômico global. Esta reportagem do New York Times mostra como é cada vez mais difícil proteger os países de choques globais imprevisíveis (e cada vez mais frequentes).