Analistas abandonam IRB (IRBR3), que tenta usar agrupamento de ações como bote-salva vidas

Ações da resseguradora caíram 98% e viraram penny stock. Nem assim bancos recomendam a compra.

Por Júlia Moura
Atualizado em 29 dez 2022, 19h08 - Publicado em 20 dez 2022, 19h19
 IRB Brasil/Divulgação
 IRB Brasil/Divulgação  ( IRB Brasil/Divulgação/Divulgação)
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De item de luxo à loja de R$ 1,99. O pesadelo do IRB Brasil (IRBR3) está longe de acabar. Antes mesmo da pandemia estourar em 2020, o papel sofreu um forte baque após denúncias de fraude contábil. Elas se confirmaram e eram tão graves que afetam os resultados até hoje. De 2020 para cá, foi só ladeira abaixo para a resseguradora. A queda de quase 98% das ações tornou o papel uma penny stock (ação de centavos, literalmente). Nesta terça-feira, ela fechou o pregão cotada a R$ 0,81.

O problema é que essa queda coloca a companhia ainda mais em risco. Vamos a eles.

Ser uma penny stock significa ter um pé fora do Ibovespa. O principal índice de ações não abriga papéis que valem menos de R$ 1 em sua composição. Ou seja, IRBR3 está prestes a cair fora do principal índice acionário do país.

Nesta semana, a B3 divulgou a segunda prévia da composição do Ibovespa entre janeiro e abril de 2023. As mudanças foram a exclusão de Positivo (POSI3) e de IRB Brasil (IRBR3). E o IRB saiu justamente porque é uma penny.

A saída do IRB do Ibov tende a provocar ainda mais desvalorização para o papel, dado que fundos de índices e fundos de investimento, que espelham a composição do Ibovespa nas suas carteiras, precisam vender o papel.

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O IRB agora corre para fazer um grupamento de ações. A proposta, que será votada na quinta, é juntar 30 ações em uma. O que daria R$ 24,30 por papel, considerando a cotação do dia 20 de dezembro. Esse valor a colocaria em condições de ser inserida novamente no Ibovespa em maio, quando o índice muda sua composição mais uma vez. A esta altura do campeonato já não dá mais tempo de reentrar no índice para os quatro primeiros meses de 2023.

Os investidores ainda terão o mesmo valor de IRB em mãos, mas o número de ações irá reduzir, enquanto o preço de cada uma aumenta.

O grupamento tende a reduzir a volatilidade do papel, pois reduz a quantidade de ações no mercado e aumenta seu valor. Quando uma penny stock fica R$ 0,10 mais cara ou mais barata, esse valor, em termos percentuais, é grande.

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Nesta terça, o IRB subiu 5,19%, indo de R$ 0,77 para R$ 0,81, uma valorização de quatro centavos. Já a Petrobras (PETR4) teve alta de 3,08%, indo de R$ 22,38 para R$ 23,07, ganhando 69 centavos.

Ser uma penny stock é o menor dos problemas do IRB atualmente.

A diretoria precisou aumentar o capital da empresa, emitindo 1,2 bilhão de novas ações ordinárias por R$ 1 cada. E o IRB precisa muito aumentar seu dinheiro em caixa, não só para não ser reduzida a pó e quebrar. Seguradoras precisam ter um dinheiro mínimo em caixa para honrar seguros, caso um sinistro aconteça — tragédia tipo aviões caindo, coisas que as resseguradoras garantem.

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Após prejuízos em 2020 e 2021, o capital estava baixo, mas a oferta de novas ações assegurou o funcionamento, por ora, da empresa.

Mesmo com essas medidas, os bancos de investimento não estão confiantes com a empresa. O Credit Suisse elevou a descrença a um outro nível, dizendo que desistiu de acompanhar o IRB.

“Estamos encerrando a cobertura do IRBR3 devido a uma realocação de recursos. A partir desta rescisão, nosso rating final (Underperform), preço-alvo (R$ 0,70 por ação) e estimativas para o IRB não estão mais em vigor”, afirmam os analistas Marcelo Telles e Daniel Vaz.

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O banco projeta que o IRB terá prejuízos líquidos de R$ 764 milhões e R$ 113 milhões em 2022 e em 2023, respectivamente. “Apesar dos esforços bem-vindos que a alta administração vem realizando, ainda vemos um cenário desafiador para o core business do IRB, com espaço limitado para crescer ou mesmo para absorver novas perdas líquidas potenciais, atendendo às necessidades regulatórias.”

Ontem, o Santander fez um movimento semelhante. O banco cortou o seu preço-alvo de R$ 1,20 para R$ 0,80.

Com um terceiro trimestre desanimador, os analistas Henrique Navarro, Arnon Shirazi e Anahy Souza entendem que uma eventual virada de chave da empresa vai demorar mais.

Quem dissesse, há alguns anos, que a resseguradora chegaria a esta situação seria taxado de louco. Do IPO, em 2017, ao início de 2020, a ação acumulou uma valorização de 370%. Era a queridinha do mercado, muito recomendada por analistas. Afinal, era, em tese, uma empresa sólida. Criada por Getúlio Vargas em 1939 e com o monopólio de resseguros no país até 2007. Foi privatizada em 2013 e se manteve grande. Hoje, o IRB responde por cerca de 37% do mercado. Resta saber se a grandeza será suficiente para dar suporte a uma recuperação.

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