Após cinco altas seguidas, Ibovespa fecha o dia caindo como as águas de março: -1,77%
Um movimento de realização de lucros se somou a uma onda de ceticismo com arcabouço fiscal, após a euforia de ontem. O índice da B3 fecha o dia, o mês e o trimestre no vermelho. Enquanto isso, NY comemora o cansaço da inflação americana.
Foi um dia lindo. O petróleo subiu 1,64%. O minério de ferro, 1,17%. Altas nas commodities geralmente são boas para Petrobras e Vale, as gigantes da B3. Os índices de Nova York fecharam em alta com as excelentes notícias macroeconômicas na gringa: o PCE, indicador de inflação favorito de Fed, em março, veio com uma desaceleração bem razoável – e alta nos preços arrefeceu na zona do euro, também (mais sobre isso adiante). Por fim, o dólar caiu pelo sexto dia seguido em relação ao real.
Ou seja: o circo estava armado para uma alta daquelas. Mas não rolou.
O Ibovespa fechou em queda de 1,77%, com só 11 das 88 ações do índice encerrando o dia no verde. Faz sentido falar em realização de lucros: entre os dias 23 e 30, o índice tinha subido 5,91%. Havia muito dinheiro implorando para pingar na conta. São as águas de março fechando o pregão.
A isso, soma-se o fato de que a Faria Lima pôs um pouco da euforia de lado e tirou o dia para escrutinar o novo arcabouço com ceticismo. Tanto o Citibank como o Credit Suisse emitiram comunicados oficiais em que expressam ressalvas sobre as projeções apresentadas por Haddad e companhia.
Para o Citi, o crescimento do PIB que o governo projeta (1,5% ao ano, aproximadamente) não é realista. Os resultados prometidos pela Fazenda também exigiriam juros reais em cerca de 5,5%, o que não corresponde ao momento atual, com eles por volta de 8%.
Por isso, o bancão americano prevê que zerar o déficit nas contas públicas ainda em 2024 é uma meta otimista demais, e que o buraco deve continuar até 2026 – ainda que o resultado fiscal melhore com o passar do tempo (graças à regra que mantém o gasto público abaixo da receita, que a Você S/A explica melhor aqui). E é claro: Lula III precisará aumentar sua capacidade de arrecadar impostos.
O Credit Suisse, enquanto isso, prevê que a dívida bruta brasileira deve alcançar 83% do PIB até 2026, versus a previsão de 77% divulgada pelo Ministério da Fazenda. Eles apostam que o país vai terminar o ano de 2023 com um déficit de 1,6% do PIB, contra os 1% previstos por Haddad e companhia, e que precisam saber de mais detalhes sobre as novas fontes de receita (arrecadação de impostos e afins) para avaliar melhor a nova âncora.
O dia ruim coroa um mês de baixa: o Ibovespa fechou março em queda ligeira de 2,91%. Já o primeiro trimestre do governo Lula foi marcado por uma perda de 7,16% no principal índice da B3.
O Fed sorriu
Lá fora, dados mais fracos de inflação na zona do euro e nos EUA deixaram os mercados animados com a possibilidade de que os bancos centrais vão acabar com o ciclo de aperto monetário em breve.
Na zona do euro, o CPI (IPCA deles) de março ficou em 6,9% nos últimos doze meses, contra 8,5% em fevereiro. É o menor patamar do índice em 13 meses, sinal de que os preços vêm dando uma trégua.
A reunião do BCE em março aumentou a taxa de juros em 0,50 ponto percentual, para 3,50% – alta descomunal quando comparada aos 0,00% que imperaram de 2016 até junho do ano passado. Qualquer boa notícia no campo da inflação significa que esse ciclo de alta pode arrefecer, o que é bom para renda variável.
Na terra de Jerome Powell, os dados de fevereiro do PCE (Personal Consumption Expenditures), divulgados hoje, também sinalizaram uma pequena desaceleração na inflação: 5,0% em doze meses, contra 5,3% em janeiro.
Apesar de ser uma métrica menos mainstream que o CPI americano, o PCE é o dado favorito dos dirigentes do Fed para acompanhar a inflação. É que ele é mais preciso no cálculo: a margem de erro do CPI é de 0,85 ponto porcentual, enquanto a do PCE fica em de 0,45 p.p.
A meta do Fed para o índice é de 2% ao ano – ainda longe dos 5% de fevereiro. Ainda assim, os coletinhos de Wall Street consideram que a queda pode ajudar a convencer o banco central americano de que a inflação está, devagarinho, entrando nas rédeas. Com preços mais estáveis, não há motivo para subir a taxa básica de juros com tanto afinco. Bom para a economia e para a renda variável, como as bolsas americanas refletiram hoje: o S&P 500 fechou em alta de 1,43%; a Nasdaq, de 1,74%.
A mão que afaga a bolsa é a mesma que fere o dólar. Em um eventual futuro de juros mais baixos, a rentabilidade dos títulos públicos americanos cai. Como você precisa de dólares para comprar títulos americanos, as taxas deles movem a demanda pela moeda americana. Quando elas caem, essa demanda arrefece, e aí o dólar tomba da ribanceira. No mundo todo. Por aqui, foi o sexto dia morro abaixo: -0,57%, a R$ 5,06.
Dólar em queda, de qualquer forma, tira um pouco da pressão inflacionária por aqui, o que pode refletir numa queda nos nossos juros lá na frente. Promessa de vida para os nossos corações.
Bom segundo trimestre!
Maiores altas
CCR (CCRO3): 2,81%Cogna (COGN3): 2,75%
Grupo Ultra (UGPA3): 2,35%
Vibra (VBBR3): 1,55%
EcoRodovias (ECOR3): 1,37%
Maiores baixas
MRV (MRVE3): -7,13%
Grupo Soma (SOMA3): -7,00%
Hapvida (HAPV3): -6,43%
Qualicorp (QUAL3): -6,36%
Lojas Renner (LREN3): -6,07%
Ibovespa: -1,77%, a 101.882 pontos. No mês, -2,91%. No trimestre, -7,16%.
Em NY:
S&P 500: 1,43%, a 4.108 pontos
Nasdaq: 1,74%, a 12.221 pontos
Dow Jones: 1,26%, a 33.273 pontos
Dólar: -0,57%, a R$ 5,06. No mês, -2,99%. No trimestre, -4%.
Petróleo
Brent: 1,64%, a US$ 79,89.
WTI: 1,75%, a US$ 75,67.
Minério de ferro: 1,17%, a US$ 131,98 a tonelada na bolsa de Dalian.