Banco Central Europeu brinca de Rubinho Barrichelo e derruba bolsas
Nova York tomba mais 2% à espera de dados de inflação nos EUA. Ibovespa ignora alívio no IPCA e cai 1%.
O Banco Central Europeu decidiu ser o Rubinho Barrichelo dos bancos centrais. Anunciou nesta quinta-feira que deve subir os juros da Zona do Euro em 0,25 ponto percentual na reunião de julho. A segunda medida é encerrar o programa de compra de ativos, medida que ajuda a estimular a economia colocando dinheiro para circular.
A taxa de inflação na Zona do Euro não deve em nada para a americana. Está em 8,1% no bloco, ante 8,3% na terra de Joe Biden. No Brasil, nem se fala.
Aqui o IPCA acumula alta de 11,73% em doze meses até maio, um levíssimo respiro na comparação com os 12,13% no acumulado até abril. O BC brasileiro, claro, já içou os juros de 2% para 12,75% ao ano – foi pré-anunciado um novo aumento na reunião da semana que vem.
Em resumo. Todo mundo tava aumentando os juros, menos no BCE. A justificativa de Christine Lagarde e cia até é válida. A economia do bloco está claudicante, e poderia passar a encolher com menos dinheiro em circulação. O segundo ponto é que a alta de juros pode nem fazer efeito na região, já que por lá a principal causa da inflação é a disparada dos preços de energia. E alta de custos por escassez de oferta não se combate com juros.
Só que uma hora não dá mais para segurar. A Europa tem taxa negativa de depósito há oito anos. Na prática, um banco poderia cobrar de clientes para deixar dinheiro parado na conta – uma medida extrema de incentivo ao consumo. Essa taxa deve virar para o positivo no segundo semestre.
A virada de chave do Banco Central Europeu não muda tanto a vida do mundo quanto a subida de juros nos EUA. Mas funciona como uma espécie de balde de água fria. Se ainda havia alguma esperança de que a situação não era tão ruim, ela acabou hoje. Até a Europa entendeu que precisa sacrificar o crescimento em prol do controle da inflação.
Nisso, o mercado financeiro entrou no modo Dilma Rousseff: “Vai todo mundo perder”.
A queda de mais de 1% nas bolsas foi a regra, na Europa, em Wall Street e também ali no centro de SP.
Em Nova York, investidores aumentaram o pessimismo com os dados oficiais de inflação. Segundo estimativas colhidas pela agência Bloomberg, os preços devem registrar taxa anual de 8,2% em maio, uma levíssima queda em relação ao período encerrado em abril. Ou seja, nada ante o pessimismo global.
Aí segue o dia da marmota: inflação alta eleva apostas em mais aumentos de juros, que reforça projeções de desaceleração (ou recessão global), que leva a uma queda nas bolsas.
Brasil
Por aqui, o Ibovespa foi puxado mais uma vez pelo tombo da Vale e das siderúrgicas. Estão em alinhamento global, ainda que do pior jeito possível. É que juro alto e redução do crescimento como um todo diminui a demanda por matéria-prima para a construção e outros setores da economia. A Vale, a dona do Ibov, caiu 3,15%.
O Ibovespa, no fim, fechou em baixa de 1,18%, na faixa dos 107 mil pontos.
A única coisa ~menos ruim~ do dia foi justamente a inflação. A leve desaceleração de preços por aqui fez o mercado ajustar suas projeções para os juros futuros. É um alívio. Que para persistir, depende de o governo não continuar com a torneira aberta para a campanha eleitoral.
Por sinal, o petróleo recuou de leve no mercado internacional: -0,41%. Poderia ser uma boa notícia para a Petrobras e para o governo, inconformado com a alta de preços do combustível.
Só tem um probleminha: o dólar. A moeda subiu 0,52%, a R$ 4,9156.
Isso que se chama de batizar a gasolina.
Maiores altas
Hapvida (HAPV3): 3,31%
Sul América (SUL11): 2,93%
CCR (CCRO3): 2,24%
Minerva (BEEF3): 2,04%
JHSF (JHSF3): 2%
Maiores baixas
CSN (CSNA3): -6,65%
Magazine Luiza (MGLU3): -6,52%
Azul (AZUL4) -5,34%
Locaweb (LWSA3) -5,14%
Usiminas (USIM5) -4,80%
Ibovespa: -1,18%, a 107.094 pontos
Nova York
Dow Jones: -1,94%, a 32.272 pontos
S&P 500: -2,38%, a 4.018 pontos
Nasdaq: -2,75%, a 11.754 pontos
Dólar: 0,52%, a R$ 4,9156
Petróleo
Brent: -0,41%, a US$ 123,07
WTI: -0,49%, a US$ 121,51
Minério de ferro: -1,27%, a US$ 143,99 a tonelada no porto de Qingdao