BCs salvam bancos e ressuscitam o bitcoin
Desde o início dos problemas com o SVB, a cripto subiu 40%. Entenda o fenômeno.
Ao estender a mão para o sistema financeiro, os bancos centrais acabaram dando uma ajuda indireta às criptomoedas. Desde que o SVB faliu, em 10 de março, a mais famosa das moedas digitais valorizou 40%, voltando ao patamar de US$ 28 mil pela primeira vez desde junho de 2022. E lá ficou mesmo depois de o Fed decidir continuar subindo os juros nos EUA.
O fenômeno é resultado da reabertura da torneira de dinheiro dos BCs, que injetaram bilhões de dólares nos grandes bancos para tentar estancar a quebradeira. Com mais liquidez no mercado financeiro, o dinheiro não fica parado num banco só, mas vai fluindo pelos dutos do sistema financeiro até chegar, de novo, em ativos de risco. Com dinheiro novo “sobrando”, uma parte pinga lá em Bitcoin. É como se você tentasse multiplicar os presentes que o Papai Noel deu, já que o próximo Natal é só daqui a um ano e a diversão precisa durar.
O Fed abriu uma torneira de US$ 300 bilhões em empréstimos emergenciais e também passou a oferecer a outros bancos centrais contratos de swap todos os dias, ao invés de semanalmente. Com esse contrato, os BCs de Canadá, Inglaterra, Suíça, zona do euro e Japão conseguem trocar suas moedas locais pelo valor equivalente em dólar, de modo a abastecer as instituições financeiras locais. Segundo o JPMorgan Chase, a ajuda atual do Fed é metade da que o banco concedeu em 2008, quando a crise financeira beirou o apocalipse.
A primeira parada dos recursos ainda é o caixa dos bancos menores e com problemas de liquidez. Mas essa grana não fica parada no cofre. E nem todo mundo precisa de uma ajuda tão grande assim, e a roda financeira vai girando.
O Fed dá dinheiro, mas ele também tira. Apesar da reabertura da torneira de crédito a bancos, o Fed manteve seu plano de aumento na taxa de juros nos Estados Unidos, elevando a “Selic” deles em 0,25 ponto percentual, para o teto de 5% ao ano.
De alguma maneira, freou a euforia do Bitcoin, mas não muito. Acontece que agora investidores conseguem ver um fim mais claro para o aumento do juros deles. E aí é a expectativa pelo novo patamar de juros, mais baixo, que mantém a cripto no novo patamar. Nesta sexta, ela opera em queda de 2,26% por volta das 14h30, a US$ 27.804,53 (R$ 145.873,68). Quando o SVB quebrou, em 10 de março, ele estava na casa dos US$ 20 mil.
A crise bancária nos EUA também ajuda o Bitcoin por puro storytelling. A cripto foi inventada por Satoshi Nakamoto (ou a pessoa por trás do pseudônimo misterioso) em 2008, justamente após a quebradeira bancária americana. A ideia anárquica era ter um dinheiro que não esteja ligada a bancos, países e moedas de bancos centrais. 15 anos se passaram, o Bitcoin nunca virou dinheiro, mas o discurso dos entusiastas defende que a cripto funciona como reserva de valor.
A história prova que se trata de uma falácia, já que o Bitcoin perde valor e de maneira brutal. Especialmente porque ele não tem lastro, a não ser a especulação. No auge, em novembro de 2021, ele chegou a ser negociado a US$ 68 mil. De lá, ele mergulhou 76% até o buraco, de US$ 16 mil em novembro de 2022. Há um ano, valia US$ 46 mil. A quebra da corretora FTX, da gestora Three Arrows Capital e da picaretagem da Celsius Network.
Esse colapso todo, para além das falcatruas, ocorreu quando a inflação elevada no globo todo fez bancos centrais subirem as taxas de juros. E aí foi o fim da festa do dinheiro “de graça”, esse que dá para colocar no cassino. Nos EUA, a taxa americana saltou de 0,25% ao ano para 5% ao ano em um ano.
Resta saber como o desenrolar da crise bancária vai afetar os ânimos de quem gosta de brincar de roleta-russa com o dinheiro.