BDR não é só para ações, decide CVM
Investidor poderá comprar títulos de dívida de empresas estrangeiras usando os recibos “de ação”. E as empresas brasileiras com ações em Nova York devem sair na frente.
Quando os BDRs (Brazilian Depositary Receipts) foram criados, automaticamente passou-se a traduzir a sigla do investimento por “recibos de ações”. Fazia sentido, já que os BDRs eram de ações mesmo.
Depois vieram os BDRs de ETFs (os fundos negociados em bolsa como se fossem ações). E esses ETFs nem precisam ser de ações – podem conter só títulos públicos americanos, por exemplo. Agora vem um novo salto: a partir de junho, os bancos poderão emitir BDRs de qualquer tipo de investimento estrangeiro, desde que ele parta de uma empresa com ações na bolsa.
Não que fosse proibido empacotar outras coisas na forma de BDR, mas as normas da CVM eram vagas sobre quais investimentos (valores mobiliários, no jargão) estavam valendo. Agora, o regulador explicitou que, bem, vale (quase) tudo.
Um dos ativos que devem ser listados por aqui são os corporate bonds americanos, que correspondem às nossas debêntures. Com os juros dos EUA em alta, a 5,25% ao ano, esse investimento de renda fixa fica chamativo – ainda que mais arriscado (leia sobre o mercado de debêntures nesta reportagem).
Com um adicional. As empresas brasileiras que listaram suas ações lá fora – caso de XP, Nubank, Inter, PagSeguro e Stone – vão poder vender BDRs de bonds aqui no Brasil, mesmo que esses bonds não tenham uma negociação “tipo bolsa” lá nos EUA. Como no exterior os juros são menores e é mais fácil de captar, muitas companhias usam esse mecanismo para se capitalizar.
O grosso do mercado de dívida nos EUA corresponde, obviamente, aos títulos públicos. Mas esses ainda não vão virar BDR. Mas quem está a fim de ganhar um naco com as dívidas de Biden tem como opção os BDRs dos ETFs que reúnem treasuries.
A flexibilização dos BDRs chega num momento em que as alternativas para investir no exterior crescem, com serviços internacionais como os da Avenue e da XP. Uma dor de cabeça para o mercado local – e para a B3, que perde potenciais transações.