Cabo de guerra no Ibov termina em alta com ajuda da Ambev e do minério de ferro
Dólar teve queda de 1,62% e fechou a R$ 5,27. Agradeça ao Banco Central.
Acompanhar o Ibovespa nesta quinta-feira foi quase como assistir a um cabo de guerra: no sobe e desce do gráfico, dava para notar quem ora puxava o índice para cima e quem reagia e trazia o número de volta para baixo.
E olha, tinha mais gente no time de vermelho. 50 ações caíram, 34 subiram. Mas mesmo assim, o time de verde conseguiu a virada no finalzinho da partida. Uma subida de 0,30%. Agradeçamos ao minério de ferro, que por motivos políticos no Pacífico, atingiu preço recorde. E às cervejas da Ambev, a grande vitoriosa do dia.
Quem puxou para cima…
A Ambev foi quem ficou no centro do cabo, fazendo mais força para a vitória. As ações da empresa de bebidas subiram 8,55%. O motivo? Os dados liberados pela empresa hoje superaram as expectativas dos investidores: o lucro líquido ajustado da Ambev foi R$ 2,8 bilhões no primeiro trimestre, alta de 125% em comparação com o mesmo período do ano passado (R$ 1,2 bilhão).
A marca de cervejas e refrigerantes havia sofrido bastante com a pandemia, já que as principais medidas de restrição incluem o fechamento de bares e restaurantes – ambientes que, naturalmente, enchem os copos. Mas a novidade é que a Ambev conseguiu contornar o problema com o Zé Delivery, o seu serviço de entregas para consumo de bebidas em casa. No trimestre, foram 14 milhões de pedidos nessa modalidade – e a expectativa da empresa é que o número só cresça em 2021.
Tivemos também um bicampeão: a Gerdau voltou a figurar entre as maiores altas após liderar com folga o ranking ontem (5). A explicação é parecida com a da Ambev, mas ainda mais surpreendente: a siderúrgica divulgou ontem seu balanço com o incrível lucro de R$ 2,47 bilhões no primeiro trimestre – alta de 1.016% comparado ao mesmo período do ano passado.
Mas não foi só o respingo da animação de ontem que alavancou as ações da empresa (que subiram 5,18% e 4,56% para a metalúrgica e siderúrgica, respectivamente). Um outro aliado de peso ajudou a puxar a corda para o time das altas: o minério de ferro. No porto chinês de Qingdao, onde ocorrem as negociações que definem o preço do minério de ferro, também houve um salto. A commodity subiu 4,85% e atingiu a marca de US$ 201,88 a tonelada – o maior preço da história.
Os motivos são geopolíticos: ontem, a China anunciou que vai interromper parte da sua cooperação econômica com a Austrália. Veja bem, essa é uma decisão mais simbólica que prática. O que mudou foi a suspensão por prazo indefinido do “Diálogo Econômico Estratégico Sino-Australiano”, uma espécie de canal diplomático para discutir ações de cooperação econômica entre os países, que já andava meio parado.
Mas essa medida se soma a uma série de desavenças entre Pequim e Camberra, que começou quando o governo australiano liderou pedidos de investigação sobre o início da pandemia de Covid-19, além de acusar a China de desrespeitar direitos humanos da minoria étnica uigur, um povo em sua maioria muçulmano que habita o oeste chinês.
A nova troca de farpas nem de longe é uma suspensão das importações de minério australiano pela China — o que seria, é bom dizer, inviável. A terra do canguru é o maior fornecedor de minério de ferro do mundo, e a maior empresa do ramo é australiana: a Rio Tinto (a segunda maior é a Vale, daqui mesmo). Já a China é a maior compradora do mundo, claro.
Ainda assim, o preço do minério subiu. É que o mercado viu a medida diplomática como um alerta de que a China quer reduzir a dependência do parceiro comercial (e seu rival ideológico).
Nesse vai e vem político do outro lado do mundo, os setores de siderurgia e de mineração daqui se deram bem. Além da Gerdau, que já surfava na onda de otimismo, empresas como Vale (+3,91%) e Usiminas (+3,62%) avançaram e ajudaram o dia a fechar no positivo.
…e quem puxou para baixo
Apesar de tudo isso, o Ibovespa não decolou. É que o outro lado do cabo de guerra tinha mais gente, e eles puxaram com força. As perdas foram lideradas pela Ultrapar, cujas ações caíram -6,84%. Assim como a Ambev, a empresa divulgou seus dados ontem após o fechamento, mas, ao contrário da vencedora do dia, eles não agradaram investidores. O lucro líquido foi de R$ 137,4 milhões no 1TRI, queda de 19% na comparação anual e abaixo das expectativas. Além disso, o endividamento bruto da companhia subiu 7,1% ante os três primeiros meses de 2020, e a dívida líquida ajustada, 12,9%. Não só. A Ultrapar pretende comprar a Refap (Refinaria Alberto Pasqualini) da Petrobras, e o mercado vê riscos para a operação.
Outra empresa que sangrou no dia foi a Petrobras. Segunda maior do Ibovespa, quando ela cai, a coisa complica. A estatal foi ladeira abaixo junto com o petróleo, que recuou com o endurecimento da pandemia na Índia, que é o terceiro maior consumidor de petróleo do mundo. O país asiático agora é centro das atenções em todo o mundo após o sistema hospitalar colapsar dado o aumento de casos e mortes. Nas últimas 24 horas, foram 412 mil diagnósticos positivos e 3.980 óbitos.
Dia volátil também lá fora
Enquanto isso, em Nova York, o dia também foi marcado por um cabo de guerra, mas com um final mais emocionante: todas as principais bolsas fecharam com subidas mais expressivas, inclusive a Nasdaq, que passou o dia no vermelho ameaçando um quinto pregão seguido de quedas. O Dow Jones, que passou bem mais confortável, fechou com uma nova máxima histórica (veja abaixo).
Um plot twist interessante ao longo do dia foi a amenização da queda das farmacêuticas, que vinham derretendo desde que o presidente americano Joe Biden sinalizou ontem que o país vai apoiar a quebra de patente das vacinas contra a Covid-19 na Organização Mundial do Comércio (OMC) – um posicionamento historicamente diferente do adotado pela maior economia do mundo.
A União Europeia indicou que acompanharia o americano. Mas aí a chanceler alemã Angela Merkel entrou em cena e disse que não vai apoiar a decisão. Como o país é a maior economia da União Europeia, empresas como Moderna, Pfizer e BioNTech deram uma respirada e recuperaram um pouco das perdas, embora todas ainda tenham fechado no negativo.
Dólar
Surpreendente no dia mesmo foi a queda do dólar. A moeda americana voltou a ser negociada abaixo de R$ 5,28 pela primeira vez desde janeiro e já nem parece que a gente temia dólar a R$ 6 até pouco tempo. O câmbio já vinha baixando com o aumento da entrada das verdinhas pelas bandas de cá. O empurrão de hoje veio do Banco Central.
Na noite de ontem, o Banco Central confirmou o esperado aumento da Selic para 3,50% ao ano. No comunicado em que justificou a decisão, os membros do Copom (Comitê de Política Monetária) afirmaram esperar uma nova alta e do mesmo tamanho (0,75 ponto percentual) na próxima reunião, marcada para 16 de junho.
A alta de juros é um jeito de atrair dólares para o país. Ela torna o dinheiro em reais mais rentável que em outros investimentos menos arriscados, como em títulos americanos. Por lá, o Fed (Federal Reserve, o banco central deles) não para de repetir que os juros vão seguir perto de zero por bastante tempo. A ver.
Maiores altas
Ambev: +8,88%
Gerdau Metalúrgica: +5,18%
Sabesp: +4,92
Gerdau: +4,55%
Bradespar: +4,32%
Maiores baixas
Ultrapar: -6,84%
Locaweb: -5,56%
Banco Inter: -4,46%
Pão de Açúcar: -3,96%
Minerva: -3,62%
Ibovespa: +0,30%, aos 119.920 pontos
Em NY:
S&P 500: +0,81%, aos 4.201 pontos
Nasdaq: +0,37%, aos 13.632 pontos
Dow Jones: +0,92%, aos 34.546 pontos
Dólar: queda de 1,62%, a R$ 5,27
Petróleo
Brent: queda de 1,26%, a US$ 68,09
WTI: queda de 1,40%, a US$ 64,71
Minério de ferro: alta de 4,85% a US$ 201,88 a tonelada no porto de Qingdao (China)