Copom, Senado e STF não dão grandes emoções; VALE3 cai 3,56% após Vale Day em NY
Sem surpresas: os senadores não terminaram de votar a PEC antes do fim do pregão, a Selic ficou em 13,75% e o julgamento do orçamento secreto ficou para semana que vem. Quedas no minério e nas importações chinesas puxaram a Vale e o Ibovespa para baixo.
Dia cheio, com três grandes (não) acontecimentos em Brasília: o fim da última reunião do Copom em 2022, a votação de uma PEC da Transição mais enxuta no plenário do Senado e o julgamento da constitucionalidade do orçamento secreto pelo STF.
Nenhum deles teve fim no pregão de hoje: o Copom anunciou sua decisão às 18h30 sem surpresas, mantendo a Selic em 13,75%, e o Senado deve seguir o desfecho já previsto: aprovação. O julgamento no Supremo começa hoje, mas só deve terminar na semana que vem: dia 8 de dezembro é feriado no Judiciário, e a próxima sessão está agendada só para a próxima quarta (14).
O Ibovespa fechou em -1,02%, cabisbaixo principalmente com o desempenho da Vale (VALE3), que caiu 3,56% no pregão. Parte do motivo está na China, já que a tonelada do minério fechou em -1,92% em Dalian e em -1,94% em Singapura – e as importações chinesas caíram 10,6% em novembro (vs. uma previsão de 4%). O país asiático é o principal consumidor da commodity extraída pela Vale e é destino de 31% das exportações brasileiras.
Falando em Vale, hoje foi dia deles se reunirem com investidores na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE) e anunciarem suas expectativas e planos para os próximos anos. É o “Vale Day”, e o mercado não digeriu bem a notícia de que não há notícias: a empresa deve extrair algo entre 310 milhões e 320 milhões de toneladas de minério de ferro em 2023, o mesmo número deste ano.
Na Big Apple, não só foi o dia da Vale como foi um dia de vale – no gráfico. S&P 500 e Nasdaq caíram 0,19% e 0,51%, duas baixas puxadas pelo já familiar fantasma da recessão em 2023 (e essas quedas, é claro, não ajudaram nosso índice aqui na B3).
Reunião do Copom
O Copom manteve a Selic estável em 13,75% pela segunda reunião seguida. Mas Campos Neto e sua turma adotaram um tom durão (hawkish, no jargão financeiro) no comunicado oficial, para não ouriçar o mercado:
“O Comitê se manterá vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período suficientemente prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação. O Comitê reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. O Comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado.”
Tradução: “sejam felizes no Natal, mas vamos meter mais um jurinho aí se a inflação não der sinais de cansaço”. Tanto o tom como a manutenção do número já eram esperadas.
Manter a Selic nesse patamar (ou até aumentá-la mais um pouquinho) não é necessário só para controlar os preços aqui em Pindorama, mas também para manter nossos juros competitivos em relação aos do exterior.
Resumindo uma história longa: os títulos públicos dos EUA são o grande porto-seguro dos investidores. Empreste dinheiro para a Casa Branca e você só não recebe de volta em caso de invasão alienígena ou guerra mundial. Por causa do risco baixíssimo de calote, os juros também são baixos (menos risco, menos prêmio).
O problema é que os EUA estão encarando sua pior inflação desde a década de 1980. Para combatê-la, o Fed está subindo a taxa básica de juros do país. E com a “Selic” americana mais alta, os títulos de lá começam a render mais. Ficam mais atraentes, portanto.
Outra coisa que a taxa básica mais alta faz é esfriar a economia e empurrar os Estados Unidos para uma recessão – já sabemos que isso vai acontecer em 2023, e esse é o preço de combater as altas endêmicas nos preços. A previsão do tempo não é muito diferente para o Ocidente como um todo: a União Europeia, que está encarando a pior inflação da história do euro, também está subindo seus juros.
Nessa situação – com títulos americanos pagando melhor e a renda variável baqueada pela recessão –, é tendência é todo mundo correr para fazer poupança em dólares. Se o Brasil quiser que continue entrando dinheiro aqui, precisamos recompensar melhor os investidores, porque nosso risco inerente é maior. E eis a necessidade de manter a Selic mais ou menos em linha com as idas e vindas do exterior. Ou seja: ela deve permanecer alta por um bom tempo, até a situação macroeconômica do planeta melhorar. Os últimos Boletins Focus previam nossa taxa em 11,5% ao final de 2023, uma baixa menor em relação à que se previa antes (11,25%).
PEC da Transição
Enquanto isso, a PEC da Transição deve ser aprovada no Senado, e agora segue para a Câmara. O texto saiu, como o noticiário cisma em dizer, “desidratado” de sua passagem pela Comissão de Justiça e Cidadania (CCJ): agora, prevê um waiver de dois anos, que ultrapassa o teto em R$ 168 bilhões – algo mais conservador que a proposta original do PT, de R$ 198 bi e 4 anos ou prazo indeterminado.
O combinado é que, em agosto de 2023, o governo será obrigado a apresentar sua proposta para uma nova âncora fiscal flexível, que substituirá o teto rígido em vigor desde a gestão Temer. Essa nova regra vai evitar que os gastos extras dos próximos anos precisem ser aprovados como exceções, na forma de uma PEC, como está acontecendo agora.
Essa demonstração de que o Congresso é capaz de frear a irresponsabilidade fiscal reduziu o receio do mercado financeiro com 2023: os juros futuros fecharam em queda na B3, e o dólar caiu em relação ao real (-1,21%, a R$ 5,20).
Esse é mais um elemento da reação em cadeia que descrevemos alguns parágrafos atrás: quanto mais o governo federal se endivida e injeta dinheiro novo na economia, mais difícil fica controlar a inflação, mais os juros precisam subir e mais os investidores estrangeiros percebem o país como um destino arriscado para aportar dinheiro. A percepção de que as contas ficarão sob controle desencadeia uma sequência de eventos oposta e é boa para a cotação do real.
Embora Lula já tenha combinado com Lira a aprovação da PEC na Câmara, há espaço para podar ainda mais o documento. O deputado Ricardo Barros do PL, que lidera a bancada bolsonarista, afirmou em um evento hoje que o aumento no salário mínimo e os R$ 600 de Auxílio Brasil estão garantidos, porque foram promessas de Bolsonaro, mas que há espaço para cortar mais alguns reais e meses no prazo do waiver: “A Câmara tende a dar um ano ao novo governo, para ter um diálogo e ver como é que fica”.
O fator “água no chopp” nas negociações da PEC fica por conta do STF, que julga hoje a constitucionalidade do orçamento secreto. São quatro ações, ajuizadas pelos partidos Cidadania, PSB, PSOL e PV. A relatora de todas elas é a presidente do Supremo, Rosa Weber. Ninguém duvida que as tais emendas do relator são uma jabuticaba orçamentária, que vai contra todas as boas práticas de transparência. Ele serve para o governo comprar votos de parlamentares e permitir que eles toquem obras em seus currais eleitorais.
O problema: parte da barganha de Lula para conseguir a aprovação da PEC na Câmara foi justamente ceder um pouco em sua postura dura contra as emendas, mostrando boa vontade com Lira. Se o STF mandar mexer nas regras da festança (ou cancelar de vez as emendas), os deputados perdem uma das benesses que lhes haviam sido prometidas em 2023, e as negociações entre o Legislativo e o futuro Executivo podem empacar.
Amanhã a novela continua. Bom descanso!
Maiores altas
BRF (BRFS3): 4,14%
Azul (AZUL4): 3,86%
JBS (JBSS3): 3,46%
CVC (CVCB3): 3,27%
Gol (GOLL4): 2,54%
Maiores baixas
Magazine Luiza (MGLU3): -5,77%
PetroRio (PRIO3): -5,69%
Petz (PETZ3): -4,07%
Vale (VALE3): -3,56%
Locaweb (LWSA3): -3,41%
Ibovespa: -1,02%, a 109.068 pontos
Em NY:
S&P 500: -0,19%, a 3.933 pontos
Nasdaq: -0,51%, a 10.958 pontos
Dow Jones: 0,00%, a 33,596 pontos
Dólar: -1,21%, a R$ 5,20
Petróleo
Brent: -2,75%, a US$ 77,17%
WTI: -3,02%, a US$ 72,01
Minério de ferro: – 1,94%, a US$ 109,66 a tonelada na bolsa de Dalian