Crise no Credit Suisse causa pânico generalizado no mercado; entenda o que está em jogo
Ações do banco suíço tiveram seu maior tombo diário (-24%), derrubando também as bolsas mundiais e o petróleo (-4,85%). No fim do dia, porém, o banco central da Suíça aliviou parte dos temores.
Mais um?
O medo de uma crise bancária mundial ganhou um novo capítulo nesta quarta-feira. Depois da quebra do americano SVB, agora quem está na berlinda é o centenário Credit Suisse, segundo maior banco da Suíça (atrás apenas do UBS). As preocupações com a saúde financeira da instituição financeira levaram a um pânico generalizado no mundo, ainda que a situação no final do dia tenha sido menos caótica do que no início (agradeça ao banco central suíço).
O gatilho para o desespero do mercado foram apenas duas palavras: “absolutamente não”. Quem disse foi Ammar Al Khudairy, chefe do Saudi National Bank, maior acionista do Credit Suisse, com quase 10% de participação. Quando questionado se o banco saudita estava disposto a injetar mais liquidez à instituição suíça, Al Khudairy foi enfático: absolutamente não.
A negativa enfática de uma possível ajuda financeira ao Credit Suisse fez investidores entrarem em pânico porque se preocupam com a saúde financeira do banco já há algum tempo. Fundado ainda no século 19, a instituição suíça passa por um período de incertezas e vê cada vez mais clientes sacando a grana por não confiar mais na gestão do Credit.
Não é à toa. Apesar da declaração do saudita ter sido o gatilho para o caos, o inferno astral do Credit Suisse é bem anterior. O banco vem de uma série de escândalos, crises e investimentos ruins que abalam sua reputação. Um dos maiores e mais recentes foi o colapso da Archegos, uma empresa de investimentos que fechou as portas em 2022, deixando de pagar US$ 5,5 bilhões ao banco suíço. Não foi o único: poucos meses antes, o Credit Suisse havia perdido US$ 1,7 bilhão com a quebra da startup financeira britânica Greensill.
Também no ano passado o Credit Suisse foi condenado por ajudar uma quadrilha de traficantes da Bulgária a lavar dinheiro. O banco deverá pagar US$ 20 milhões em multa ao governo suíço, mas ainda recorre na Justiça.
No meio de tudo isso uma investigação independente identificou “falhas graves” na gestão de risco do banco. O ex-CEO Thomas Gottstein renunciou no meio de 2022 em meio aos escândalos e balanços trimestrais considerados ruins.
Moral da história: a imagem da instituição financeira ficou abalada e os clientes perderam a confiança. Aos olhos de muita gente, é uma empresa mal gerida. E para um banco, você sabe, perder a confiança dos clientes pode ser fatal.
O que nos leva ao cerne do problema: retirada de dinheiro. Só nos últimos três meses de 2022, por exemplo, o Credit Suisse viu US$ 120 bi sendo sacados, surpreendendo analistas. E olha que o banco anunciou em outubro um plano de reestruturação, para tentar estancar a sangria de longa data. Mas não parece ter convencido muito.
O caos
A rejeição de uma possível ajuda por parte do banco saudita, então, reacendeu os medos sobre a solidez do banco suíço. As ações do Credit Suisse despencaram 23% no pregão de hoje, com a negociação do papel sendo interrompida várias vezes. É a maior queda diária da história da empresa.
O problema seria menor – e mais concentrado no próprio Credit Suisse – não fosse o timing. O mercado como um todo teme uma crise no sistema bancário desde a quebra do SVB e do Signature, na semana passada, e de um possível efeito dominó. Por isso, todo mundo acabou embarcando na amargura.
As bolsas europeias despencaram em bloco; o índice Stoxx 600, que reúne as principais ações do continente, caiu 2,46%; a bolsa de Frankfurt fechou em -3,25%; a de Londres, -3,81%; e Paris -3,60%. Apesar da sangria generalizada, é claro que o setor bancário se destacou negativamente: o índice Euro Stoxx Banks, que reúne os papéis dos bancos europeus, fechou em -8,40%.
Nem o petróleo escapou com medo de uma crise mundial à la 2008. O Brent fechou em queda de 4,85%, mas chegou a registrar perda de mais de 7% no auge do mau humor do mercado.
O alívio
O pânico seguiu mesmo após o fechamento europeu; nisso, o próprio Credit Suisse pediu uma declaração pública de apoio do banco central suíço e da Finma, a agência reguladora do setor bancário suíço, a fim de aumentar a confiança no banco.
E a ajuda veio: o Banco Nacional da Suíça e a Finma divulgaram um comunicado conjunto, basicamente dizendo que o Credit Suisse cumpre com os requisitos de reservas de liquidez exigidos por lei para bancos grandes, e que não há risco de contágio para outros bancos suíços e internacionais.
O mais importante, porém, foi isso: o banco central suíço disse que fornecerá liquidez para a instituição caso necessário.
A ajuda do Banco Nacional da Suíça acalmou investidores e ajudou a afugentar a idea de uma crise sistêmica no mundo. Tanto que o dia terminou bem menos caótico do que começou: o S&P 500 fechou com queda de “só” 0,69%, sendo que chegou a flertar com o -2% durante o pregão. Idem para o Ibovespa: queda de apenas 0,25% por aqui, sendo que a mínima também foi de -2%.
Mas é claro que essa novela está só começando. Os medos de que os bancos comecem a quebrar em efeito dominó seguem existindo. A rápida resposta dos governos, porém, afugenta a ideia de uma repetição da crise de 2008.
Mesmo assim, outras dúvidas permanecem. A principal é quanto à decisão do Fed na semana que vem: o banco central americano elevará novamente os juros, mesmo com uma possível crise bancária assombrando o país? As apostas se dividem entre um aumento mais suave (0,25 ponto percentual) ou a manutenção da taxa atual. Um aumento mais radical (de 0,5 p.p.), que chegou a ser o palpite majoritário do mercado há poucos dias, já está praticamente descartado. A ver.
Até amanhã.
Maiores altas
Méliuz (CASH3): 14,44%
MRV (MRVE3): 7,19%
Natura (NTCO3): 6,63%
Eletrobras (ELET6): 6,01%
Rede D’Or (RDOR3): 5,88%
Maiores baixas
CVC Brasil (CVCB3): -6,12%
CSN (CSNA3): -6,04%
Gerdau (GGBR4): -4,66%
Gerdau Metalúrgica (GOAU4): -4,10%
CSN Mineração (CMIN3): -3,58%
Ibovespa: -0,25% aos 102.675 pontos
Em Nova York
S&P 500: -0,69%, aos 3.892 pontos
Nasdaq: 0,05%, aos 11.434 pontos
Dow Jones: -0,87%, aos 31.876 pontos
Dólar: 0,70%, a R$ 5,2943
Petróleo
Brent: -4,85%, a US$ 73,69
WTI: -5,22%, a US$ 67,61
Minério de ferro: estável, negociado a US$ 134,20 por tonelada em Dalian (China)